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Saudável de raiz: saiba mais sobre o ensinamento da medicina ayurveda

Com o projeto Vida Veda, Matheus Macêdo repassa ensinamentos milenares da medicina ayurveda para promover saúde e bem-estar

Ninguém precisa ir até a Índia estudar as medicinas tradicionais para ser saudável. Mas o carioca Matheus Macêdo, único brasileiro formado em medicina ayurveda pela Gujarat Ayurved University, na Índia, foi. Recebeu o conhecimento direto da fonte e, hoje, repassa os ensinamentos para milhares de pessoas pelas redes sociais. Seu projeto, o Vida Veda, nasceu enquanto ainda estava por lá. Desde então, cresceu e atingiu milhões de humanos que querem mais bem-estar e saúde.

“Nosso objetivo é ajudar as pessoas, então tentamos tornar tudo o mais prático e didático possível. Não tenho interesse que ela seja indiana ou ayurvédica, meu interesse é que ela seja saudável”, conta em uma longa conversa por videochamada.

E existe conteúdo para todos os gostos: para quem quer entender a ayurveda em livros milenares ou para quem quer aplicar de forma mais simples em hábitos do cotidiano. “Acesso à informação e educação de qualidade são a saída para os problemas que a gente dá. Eu não vejo nenhuma solução que não passe pela educação.”

Na entrevista abaixo, Matheus aproxima a medicina tradicional do ayurveda, reflete sobre os dilemas que afligem os seres humanos há milhares de anos e, é claro, sobre as lições da ayurveda para nutrir uma vida com saúde e bem-estar.

Aos 21 anos, decidiu ir para a China para pesquisar mais a respeito das raízes da medicina. Morou em um monastério tibetano e passou pelo Nepal. Qual foi seu principal aprendizado?

Percebi como as culturas da Ásia são mais familiares, com uma dependência e colaboração mais interessantes entre as pessoas. Para minha cultura carioca, a gente cria esses núcleos familiares, no oriente não – é pai, mãe, filho, primos, todos morando na mesma casa. Percebi como a unidade familiar e essa malha comunitária mais próxima mudam completamente a percepção das pessoas a respeito da saúde. Eu brinco que é como uma padaria cósmica [risos]. O cheirinho do pão que você assa na sua padaria inunda o mundo inteiro, então cada vez que você faz uma coisa legal, o mundo inteiro sente o cheirinho de pão quente [risos].

A ayurveda tem mais de 5 mil anos, e é considerada uma das mais antigas da humanidade. Como ela conversa com o estilo de vida atual?

É como os seres humanos: aparentemente somos muito diferentes, mas a base é a mesma. A gente é mais parecido do que diferente. Os seres humanos sofrem, não importa se você é budista, muçulmana, cristã, você vai tentar resolver, e a solução acaba esbarrando em mecanismos parecidos. O objetivo do médico é servir ao próximo – se ele vai servir com medicina moderna ou ayurveda, no final não faz tanta diferença. A grande questão é que o ayurveda trata de paradigmas de funcionamento da fisiologia e da mente humana que não mudaram em 5 mil anos. Com internet ou sem, com luz elétrica ou sem, com o capitalismo ou sem… se percebe nesses livros milenares que os problemas eram muito parecidos. A expressão que eu mais escuto dos meus alunos é: “como é que eles já sabiam disso tudo?” (risos).

O que a ayurveda ensina para medicina moderna e o que a medicina moderna ensina para a ayurveda?

O que o ayurveda mais ensina para medicina moderna é o tempo. Hoje temos uma força de pesquisa, desenvolvimento e tecnologia gigante, isso tudo não tinha no ayurveda. Agora, o ayurveda tem tempo a favor dele. E a ciência bem-feita demora muito tempo. O ser humano precisa de tempo para observar a realidade e tirar conclusões – e o ayurveda observa a realidade há 4 mil anos. Imagina milhares de gerações de médicos passando esse conhecimento adiante para a próxima geração – é uma biblioteca de conhecimento muito vasta. E eu estou passando ela adiante. A medicina moderna bem-feita e a ayurveda bem-feita são muito mais parecidas do que diferentes. Os dois olham o paciente, honram a pessoa do jeito que ela é: o indivíduo com as suas complexidades sociais.

As grandes doenças do nosso tempo são a ansiedade e a depressão. Qual a abordagem da ayurveda quanto a elas?

Um livro de 1.500 anos [que lemos] fala em três principais remédios básicos para problemas da mente: o discernimento, a perseverança ou coragem e o conhecimento daquilo que você é. O discernimento é a sua capacidade de saber o que faz ou não bem para você. O segundo é a coragem de seguir o que você sabe o que é bom para você e o que não é. Um médico com o qual estudei, Michael Kleber, me disse uma vez: “se os médicos souberem escutar o paciente, 90% deles já sabe qual é o problema que tem”. Meu paciente, na clínica, me diz que tem muita dor de cabeça, eu pergunto quando acontece e ele responde que é quando toma vinho [risos]. O terceiro é o conhecimento da sua mente, do seu corpo, dos seus órgãos e dos sentidos no momento. Ansiedade e depressão tem muito a ver com a desconexão. A maioria das coisas é óbvia – poucas são um segredo do ayurveda, que você tem que ir para a Índia descobrir.

Como a ayurveda vê a distinção entre mente e corpo?
Essa dicotomia mente-corpo é herança do René Descartes, o ayurveda não faz essa distinção. A gente tem, sim, que estudar ambos, mas não tem como separar, não tem um lugar que é a fronteira. Onde tem corpo, tem mente. A maioria das pessoas aponta pra cabeça para falar da mente, mas na ponta do seu dedo tem mente, na perspectiva ayurvédica. O seu corpo inteiro sente e onde você sente, recebe informação, tem cognição. Então quando você está brava, perde a fome, porque afeta o corpo na mesma hora. Se você respirar muito rápido, seu coração pode acelerar e você pode ficar com a mente agitada. 

Como a ayurveda promove o bem-estar para prevenir doenças? E como as trata?
Tem três etapas no tratamento ayurvédico. A primeira é retirar a causa do problema. Se a sua sala está alagada, você olha para o canto e tem uma torneira aberta, enquanto não fechá-la, a sala vai ficar alagada. A segunda é efetivamente apaziguar o problema – passar um pano na casa, caso precise. E a terceira é que, se existe algum problema crônico, de repente é preciso tirar ele do corpo. A primeira etapa, que é eliminar a causa do problema e eu faço no Vida Veda, é a educação. A gente vai educar as pessoas, gerar valor para a suas vidas e fazê-las entender que está nas mãos dela muito da solução dos problemas. Não é religião, você não precisa aceitar nada, não tem crença, é simplesmente parar e olhar, racionalmente, que você vai colher o que está plantando.

*Matéria originalmente publicada na edição 249 da revista TOPVIEW. 

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