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Low-carb: dieta aumenta o risco de câncer, diz estudo

Cientistas descobriram que uma cepa única da bactéria E. coli, quando associada a uma dieta pobre em carboidratos e fibras solúveis, estimula o crescimento de pólipos no cólon, o que pode ser um precursor do câncer

A dieta low-carb, pobre em carboidratos, é uma estratégia muito usada por pessoas para tentar emagrecer, mas independente de sua eficácia para esse propósito, um dos pontos negativos dessa dieta é o baixo consumo de fibras, um carboidrato não digerível. E isso pode predispor ao câncer de cólon, segundo um estudo recente publicado no começo de março na Nature Microbiology.

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“Nesse trabalho, pesquisadores da Universidade de Toronto mostraram como uma dieta pobre em carboidratos pode piorar os efeitos nocivos do DNA de alguns micróbios intestinais, causando câncer colorretal. Eles descobriram que a fibra alimentar neutraliza o potencial oncogênico da Escherichia coli, produtora de colibactina, composto que danifica o DNA, no câncer colorretal. Essa cepa única da bactéria E. coli (comumente encontrada no intestino), quando associada a uma dieta pobre em carboidratos e fibras solúveis, estimula o crescimento de pólipos no cólon, o que pode ser um precursor do câncer”, explica o Dr. Ramon Andrade de Mello, médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo).

O médico explica que o risco também aumenta para seguidores de dietas como a carnívora, que despreza o consumo de alimentos vegetais e só ingerem alimentos de origem animal. “Esses alimentos não são fontes de fibras e isso pode aumentar o risco de câncer colorretal”, explica.

O estudo, publicado na revista Nature Microbiology, comparou os efeitos de três dietas diferentes — uma considerada saudável, outra com baixo teor de carboidratos e outra no estilo ocidental com alto teor de gordura e açúcar — em combinação com bactérias intestinais específicas no desenvolvimento de câncer colorretal em camundongos. “O câncer colorretal sempre foi associado a uma série de fatores causais diferentes, incluindo dieta, microbioma intestinal, ambiente e genética”, explica o Dr. Ramon.

Apesar dos experimentos serem realizados em camundongos, o médico explica que realmente o baixo consumo de fibras é um fator importante para o desenvolvimento do câncer. “Sabemos que as fibras exercem um papel protetor para o intestino, principalmente na prevenção do câncer de cólon e de reto. Recomendamos que o consumo diário de fibras fique entre 25 a 35g/dia, o que pode ser conseguido com uma alimentação equilibrada e balanceada, com cereais, tubérculos, raízes, frutas, legumes e verduras”, diz o oncologista de São Paulo.

Para entender como a dieta pode influenciar a capacidade de bactérias específicas de causar câncer, os pesquisadores examinaram camundongos colonizados por uma das três espécies bacterianas previamente associadas ao câncer colorretal e alimentados com as três dietas. “Apenas uma combinação — uma dieta baixa em carboidratos combinada com uma cepa de E. coli que produz o composto colibactina, que danifica o DNA — levou ao desenvolvimento do câncer colorretal. Os pesquisadores descobriram que uma dieta deficiente em fibras aumentava a inflamação no intestino e alterava a comunidade de micróbios que normalmente residem ali, criando um ambiente que permitia que a E. coli produtora de colibactina prosperasse”, explica o médico.

O médico explica que os cientistas também mostraram que os camundongos alimentados com uma dieta baixa em carboidratos tinham uma camada mais fina de muco separando os micróbios intestinais das células epiteliais do cólon. “A camada de muco atua como um escudo protetor entre as bactérias no intestino e as células abaixo. Com uma barreira enfraquecida, mais colibactina poderia atingir as células do cólon para causar danos genéticos e impulsionar o crescimento do tumor. Esses efeitos foram especialmente fortes em camundongos com mutações genéticas na via de reparo de incompatibilidade que dificultaram sua capacidade de consertar o DNA danificado”, comenta. “Defeitos no reparo de incompatibilidade de DNA são frequentemente encontrados no câncer colorretal”, explica.

O estudo mostrou que a adição de fibras solúveis à dieta com baixo teor de carboidratos levou a níveis mais baixos de E. coli causadora de câncer, menos danos ao DNA e menos tumores. “Se a alimentação não contemplar o consumo de fibras, estas devem ser suplementadas para reduzir os efeitos da dieta low-carb”, comenta. “Esse estudo destaca os perigos potenciais associados à adesão prolongada de uma dieta com baixo teor de carboidratos e fibras, que é uma dieta comum para redução de peso. Embora mais estudos sejam necessários, é fundamental que se aumente a conscientização sobre a importância das fibras”, finaliza o médico oncologista.

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