FASHION MODA

E tudo que era velho se fez novo

Serviços antigos, corriqueiros, voltaram à moda de forma exclusiva e luxuosa

Fazer com as mãos. O quão poético é produzir ou usar algo artesanal. “É a utilização das mãos como uma varinha mágica, para se conectar com aquilo que é simples.” Esse é o sentimento que Dani Nogueira, essence hunter e mentora para processos da expressão da essência, dá aos trabalhos manuais.

Esse tipo de trabalho mudou muito com o passar dos anos e a evolução da civilização. Serviços como alfaiataria, sapataria e florista nasceram de forma muito natural, por necessidade da população. Com o passar dos anos, tornaram-se corriqueiros e, com o nascimento do prêt-à-porter, ficaram esquecidos. Hoje, no entanto, esses serviços são vistos de forma mais especial e luxuosa.

O que conta a história

Para entender essa mudança, é preciso se aprofundar em como nasceram esses serviços. No caso da sapataria, sua origem veio da necessidade do homem de proteger os pés para andar sob pedras e sujeiras. Os primeiros registros de uso de sapatos pela humanidade foi no período Paleolítico, em que o homem pré-histórico fazia uso de espécies rudimentares de calçados, feitos de palha e madeira.

“A princípio, havia o couro para trançar os pés e qualquer pessoa podia utilizar. Soldados precisavam disso, então era uma necessidade. Mas, desde o império romano, leis com várias proibições fizeram com que quem não pertencia à nobreza não pudesse utilizar o mesmo objeto deles. Além disso, as matérias-primas para produzir sapatos ficaram cada vez mais exclusivas – e só tinha acesso quem tinha um padrão elevado”, afirma Dani. Portanto, é nesse momento em que o sapato sai da necessidade que poderia traçar couro no pé de todo mundo e começa a ser algo de luxo.

No caso do alfaiate, a história começa com a vestimenta da população, que, ao contrário do sapato, não era tão bem elaborada. No entanto, o conceito de alfaiate nasceu quando o vento cortava pedaços de barracas e alguns “alfaiates” remendavam esses pedaços. “Esses profissionais saem fugidos pelos Bárbaros e se fixam em solo europeu. Lá, eles ficam perto de armoreiros, profissionais que confeccionavam armaduras, molde que chega muito próximo ao contorno do corpo”, aponta Dani.

Com isso, o profissional de alfaiataria vai se aprimorando e, conforme isso vai acontecendo, ele para de produzir para a população simples e vai sendo puxado para a corte. “Entre o século XVIII e XIX, a alfaiataria atinge seu auge no mundo. Nos Estados Unidos, com a presença do banqueiro, o terno se torna ainda mais conhecido. Dessa forma, o traje vem de forma automática à América Latina”, conta a essence hunter.

Já a história com as flores também começa há muitos anos, precisamente em 62.000 a.c. Segundo uma descoberta durante uma escavação arqueológica de uma caverna iraquiana, foram encontrados sepultamentos e coroas de flores muito parecidas com as que são usadas nos dias atuais. No entanto, o uso luxuoso do elemento natural veio na Era Vitoriana, quando a Rainha Victoria trouxe a coroa de flores como uma tendência – peça que já era usada por povos antigos na Grécia. Ela emprestou a ideia da China Antiga e usou galhos de flores de cerejeira quando se casou com o Príncipe Albert, em 1840.

A transição para o prêt-à-porter

O nascimento e popularização do prêt-à-porter – “pronto para vestir” – é o grande marco para que os serviços corriqueiros de moda se tornassem tão escassos e especiais nos dias atuais. “Antes do prêt-à-porter já existia máquina de costura. E, a partir de uma máquina, era preciso vestir os militares. Aí já começa a ser feita uma roupa em série”, revela Dani.

A guerra, inclusive, teve papel importante para o nascimento desse fenômeno. Com a escassez da Europa no período pós-guerra e as novas medidas econômicas, a forma da população se relacionar com o dinheiro, mesmo nas altas classes, mudou. Por isso, a ideia de um guarda-roupa por encomenda, como era popular na época, já não era mais tão interessante. O estilista italiano naturalizado francês Pierre Cardin, que sempre foi visionário e pioneiro na moda unissex, foi quem popularizou roupas prontas para vestir. “Eu fui muito sortudo, fiz parte do período pós-guerra, em que tudo precisava ser refeito,” disse Pierre Cardin na época.

A força do prêt-à-porter é inegável. Apesar de ser “uma moda preguiçosa”, como propõe Dani, as roupas são mais acessíveis à população desafortunada. “É um serviço preguiçoso. Enquanto um alfaiate constrói uma peça com 20 pences, o prê-à-porter faz com duas. Costumo dizer que quem tem a intenção de vestir todos os corpos, na verdade, veste nenhum”, defende a essence hunter.

Os profissionais de hoje

Em um movimento contrário, propondo-se a fazer algo exclusivo e resgatando as raízes da humanidade, alguns profissionais montaram seus negócios com serviços que eram corriqueiros, mas, hoje, são vistos e tratados como especiais. É o caso de Vinícius Dapper, sapateiro que tomou gosto pela arte de fazer sapatos desde a infância. Morador de Nova Hamburgo na época, no Rio Grande do Sul, ele destaca o potencial do município no ramo. No entanto, Dapper percebeu que, no local, não havia alguém que fizesse sapatos exclusivos e de luxo. Com isso, encontrou seu ramo de atuação.

Primeiramente, começou a fazer sapatos de modelos diferenciados, só que já prontos para levar. Com esse diferencial no design, começou a procura pelo sob medida. Foi assim que ele começou a produzir sapatos únicos, que acompanhavam os ternos exclusivos de seus clientes. “Isso foi precursor. Mesmo sendo um serviço antigo, um modelo old school, não é cultural no brasil”, afirma Vinícius Dapper.

A Vinícius Dapper vem com uma proposta de luxo e artesanal. (Foto: divulgação)

No ramo da alfaiataria, quem traz um serviço personalizado é Marcos Neguers, proprietário da Dom Bernardino Club. Influenciado pela avó materna, Marcos costura desde os sete anos. Com as mãos prontas para um serviço de qualidade depois de tantos anos, ele oferece uma alfaiataria única e de qualidade. “Essa mudança foi um advento do prêt-à-porter. A possibilidade de não esperar por aquilo soou muito mais cômodo e, com o tempo, o mercado foi mudando. Hoje, é muito difícil encontrar um alfaiate que tenha menos de 40 anos”, afirmou Marcos. Para se diferenciar no mercado, o alfaiate procura mesclar e trazer uma alfaiataria eventual. “A ideia é desconstruir o terno, desmembrá-lo e fazer com que a pessoa possa usar um blazer com jeans e que ele viva com você”, conclui.

Por fim, quem traz, desde 1950, um serviço que era corriqueiro e hoje é mais exclusivo é a Chilflor. Na época, Zegmundo Winiarski montava decorações no Clube Curitibano e em igrejas. Com o tempo, também migrou para o atacado de flores, sempre trazendo novidades de São Paulo. Francisco Winiarski, filho de Zegmundo, é quem toca a Chilflor nos dias atuais. Ele destaca que, apesar de ser um serviço antigo, para sempre se manter atual, é preciso estar atento às tendências do mercado e, claro, ter um diferencial no ramo. “Nosso diferencial é ter o produto que o cliente deseja em loja. Se não me engano, somos a floricultura com mais opções de flores em Curitiba”, orgulha-se o florista.

A Chilflor nasceu em 1973, na Rua Francisco Rocha, em Curitiba. (Foto: divulgação)

ONDE ENCONTRAR

Dom Bernardino Club

 
 
 
 
 
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Chilflor Floricultura

 
 
 
 
 
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Vinícius Dapper

 
 
 
 
 
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*Matéria originalmente publicada na edição #257 da revista TOPVIEW.

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