SELF COMPORTAMENTO

Por baixo do véu: conheça a história do hijab

Campanhas visam desmistificar o uso do lenço e encorajar muçulmanas a se expressarem através da vestimenta

Ontem (01) foi comemorado o Dia Mundial do Hijab. A data é celebrada desde 2013 e foi criada por Nazma Khan, uma jovem imigrante de Bangladesh que sofreu bullying e preconceito ao usar seu véu em Nova York. Desde então, ela luta para que as pessoas (muçulmanas ou não) se posicionem e usem o hijab nesse dia em apoio às mulheres que usam rotineiramente a vestimenta islâmica.

O hijab, que em arabe significa ‘cobertura’, foi sendo cada vez mais mistificado e pouco compreendido ao longo da História, provocando uma série de estereótipos. Todavia, suas raízes são muito mais próximas do Ocidente do que imaginamos. 

Embora muitos achem que o véu surgiu no Islã, ele é muito mais antigo. A primeira referência data de um texto assírio de 13 aC. Documentos mostram que as culturas indo-europeias, como os gregos, romanos e persas também praticavam seu uso em diferentes momentos, sobretudo para designar classes sociais. Ou seja,  judias, cristãs e hindus cobriram a cabeça em vários momentos da História e em diferentes partes do mundo. 

As mulheres da Europa medieval, por exemplo, se vestiam mais como as mulheres do mundo muçulmano do que geralmente se percebe. Na tradição cristã, o véu era um símbolo de dignidade, castidade e virgindade.

(Foto: reprodução)
(Foto: reprodução)

Mas e no islamismo, o hijab é uma prática cultural ou religiosa? É difícil separar as duas coisas, pois, no mundo islâmico, cultura, política, economia e costumes estão intrinsecamente ligados à religião. No que diz respeito à prática religiosa, o véu é uma forma de separar “o homem de Deus” e remete a modéstia, moralidade e devoção. No aspecto cultural, é uma forma de manter privacidade e posicionamento. 

O preconceito com o hijab vem em grande parte da noção de que as mulheres o usam por imposição, seja por um homem ou mesmo pelas leis do país. De fato, hoje, o hijab é obrigatório na Arábia Saudita e na República Islâmica do Irã. Porém, o oposto acontece em alguns países europeus, com governantes proibindo seu uso em espaços públicos. 

(Foto: reprodução)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948, expressa em um dos artigos que:

“Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”

O Dia Mundial do Hijab visa justamente mostrar a perspectiva de que a vestimenta é uma forma de expressão – assim como um crucifixo ou o quipá – e  que, para muitas mulheres, seu uso não é imposição, mas sim uma demonstração de fé, autoconhecimento, empoderamento e até resistência na luta contra a islamofobia. 

Uma das pioneiras no Brasil nessa luta é Carima Orra. Descendente de libaneses, ela compartilha em suas redes sociais conteúdos para desmistificar o uso do véu e a ideia errônea de que a vestimenta é para mulheres reprimidas ou sem vontades próprias.

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Carima Orra (@carimaorra)

O Hijab na moda 

Diversas marcas, percebendo a oportunidade de negócios e os movimentos de aceitação do véu, passaram a produzir o hijab em suas coleções, principalmente nos produtos voltados para o Oriente Médio – um passo importante, uma vez que os muçulmanos representam mais de 20% da população mundial. 

Em 2016, a Dolce & Gabbana produziu sua primeira coleção de hijabs e abayas (vestidos largos e compridos), intitulada  The Abaya Collection: The Allure of the Middle East. Apesar de discretas, as peças possuem a qualidade e o luxo da marca. 

Coleção The Abaya Collection: The Allure of the Middle East. (Foto: reprodução)

Já em 2017, foi a vez da Nike apostar no público feminino islâmico, lançando seu primeiro hijab esportivo. Sem véus voltados para o esporte, muitas atletas profissionais recorriam aos de tecido tradicional, como algodão, mas que são impróprios para a prática esportiva por reterem calor e suor. O material escolhido pela Nike foi o poliéster, com apenas uma camada de tecido especial para ajudar na transpiração da pele – e manter o tecido seco e frio.

Véu islâmico da Nike. (Foto: divulgação)

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