ESTILO

Porque seu próximo emprego vai ser sustentável

Comece a pensar nisso e estudar o tema já, pois será algo exigido do seu negócio ou trará maior empregabilidade para sua carreira num futuro muito breve

Dias atrás por convite do grande Juan Moraes, participei de um evento com o David Schurmann que apresentou sua iniciativa “A voz dos oceanos”, reconhecida pela ONU, e que visa conscientizar a todos sobre o lixo nos mares e reunir esforços para limpar o que já jogamos por aí.

Vim passar uns dias numa praia e impactado por esse bate-papo com o David, observei melhor o ambiente ao fazer uma caminhada e encontrei esse lixo num raio de menos de 2 quilômetros.

(Foto: acervo pessoal)

Garrafas PET, uma lata de atum, uma chuteira (?) e embalagens plásticas. Consumidores, comunidades e investidores que, como eu, encontram e chutam o lixo que eles próprios geraram com suas empresas, investimentos e hábitos, começam a questionar como isso pode mudar. Certamente a resposta vai muito além do consumismo. Passa por dar força às comunidades locais, redesenhar cadeias de suprimentos, regular com leis as empresas e os investimentos, etcetera.

Iniciativas fantásticas acontecem no Brasil e no Mundo. Dentre muitas, destaco algumas:

  • A marca de luxo Prada criou a iniciativa Re-Nylon, que garante que somente usará materiais reciclados em suas roupas a partir de 2021.
  • Patagonia, uma marca de roupas de aventura, lançou uma linha chamada Worn Wear que fabrica novas peças com as roupas da própria marca que não podem mais ser consertadas.
  • Uma escalada do conceito ESG – Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança em português)bateu como uma onda forte nas empresas e nas exigências dos investidores nos últimos 2 anos.
  • Empresas como a XP Investimentos e Citigroup se posicionaram a favor e abriram os olhos do mercado para isso.

Para entender melhor, convidei minha amiga e cliente Rachel Sampaio, sócia da consultoria Rodhium, para falar e me ajudar a imaginar como será o futuro próximo com empresas mais conscientes e os impactos disso em nossas empresas e carreiras.

Rachel, obrigado por topar essa conversa! Por favor nos explique o que é ESG.

“Eu que agradeço! Tem alguns que definem ESG como a antiga e velha sustentabilidade só que na linguagem dos investidores. Numa visão superficial se trata da incorporação de fatores ambientais, sociais e de governança (“ASG” ou “ESG” para Environment, Social and Governance) no processo de investimento, análise e avaliação de performance das empresas. Porém essa visão é só a ponta do iceberg, numa visão mais sistêmica o ESG traz um novo olhar sobre o investimento e o ambiente de negócios. Ele começa com uma reflexão profunda sobre o propósito da empresa e o seu papel frente aos stakeholders, assim como frente aos desafios sociais e ambientais locais e globais.”

Como as empresas vão mudar com a exigência das comunidades, consumidores e investidores?

“Tanto os investidores quanto os consumidores já estão migrando o seu dinheiro para empresas que se apresentam engajadas (ou no mínimo conscientes) em relação aos seus impactos sociais e ambientais. Esse é um fenômeno cada vez mais frequente e na minha visão é irreversível. Especialistas apontam também uma relação direta entre a satisfação dos colaboradores e a integração de critérios e práticas ESG. Empresas bem-sucedidas na integração dos referidos critérios tendem a ter colaboradores mais felizes e engajados com o propósito da empresa e ao seu próprio.”

Você acredita que as novas gerações com demandas mais ambientalmente conscientes podem matar empresas que hoje dominam o mercado?

“Parece um consenso que as novas gerações já chegam com um nível de consciência muito mais apurado que as últimas gerações. Segundo Larry Think, sócio da BlackRock maior gestora de ativos do mundo, nos próximos anos assistiremos a maior transferência de recursos entre gerações que se tem notícia e essa transferência impactará na ética e nos valores sociais da economia e do ambiente de negócios de uma forma geral. Outro fator importante é que as empresas ESG têm se mostrado mais resilientes em momentos de crise.”

O que você acredita que um profissional hoje precisa saber para poder trabalhar nas empresas que em breve serão ESG?

“Precisam se conectar com sua criatividade, com sua potência interior, com seus talentos. Com as qualidades humanas que em nenhuma situação são substituídas por máquinas. Uma habilidade muito importante, e que é muito pouco ensinada nas universidades, é a habilidade de comunicação. Aprofundar os elementos da escuta, da fala, dos acordos da forma de colocar as próprias insatisfações e necessidades, assim como ser capaz de ler e ter empatia pelas necessidades do outro são habilidades necessárias em qualquer setor, ainda mais quando se está em ambiente que promova a diversidade. É mais fácil se comunicar com quem é igual a nós, mas ter uma comunicação de qualidade com quem é diferente exige aprofundamento e muitas vezes treinamento para aprender a observar a situação a partir de uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa a da própria pessoa. Isso tem a ver com responsabilidade e consciência social.”

Pois é, as mudanças não serão somente trazidas pela tecnologia. Suas atitudes vão mudar, você vai consumir menos, pois os produtos serão mais duráveis, a comida será produzida de forma mais saudável e isso vai impactar nossas empresas e empregos diretamente.

Comece a pensar nisso e estudar o tema já, pois será algo exigido do seu negócio ou trará maior empregabilidade para sua carreira num futuro muito breve.

Sobre o colunista

Diego Godoy é headhunter e sócio da Easy2Recruit – RecrutamentoFacil.com. Trabalhou em empresas multinacionais do segmento de serviços profissionais como PwC, Michael Page e Walt Disney Company. Também é fundador do Projeto Um Por Cento, reconhecido como iniciativa oficial pelo ACNUR e que trabalha na recolocação de refugiados no mercado de trabalho do Brasil.

O headhunter Diego Godoy (Foto: acervo pessoal)

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