Da floresta à mesa: como a agrofloresta pode criar uma produção biodiversa voltada para a alta gastronomia
Sediada em Avaré (SP) está a “fazenda gastronômica” La Ferme Moderne, especializada em produtos artesanais saudáveis, de alto valor agregado e com baixíssimo processamento industrial. Trata-se de uma visão que converge com as possibilidades da agrofloresta, já que pode ir além dos produtos básicos da agricultura e oferecer insumos para a alta gastronomia. Foi com esse foco que a PRETATERRA, iniciativa que se dedica à disseminação de sistemas agroflorestais regenerativos, aportou na propriedade.
Antes dedicada à produção de cerâmica, a fazenda é hoje reconhecida por sua produção de frutíferas raras e de alto valor no mercado. Com essa base já estabelecida, a La Ferme Moderne convidou os engenheiros florestais Paula Costa e Valter Ziantoni, fundadores da PRETATERRA, para colocar em prática sua expertise agroflorestal ao modelo de negócios.
“Idealizamos um design biodiverso e produtivo que conservasse a essência da La Ferme Moderne e agregasse todos os benefícios socioambientais e econômicos de uma agrofloresta. Combinamos a vocação empreendedora à realidade ecológica, biológica e edafoclimática (relativa ao clima e ao solo) do Oeste Paulista para chegar a um projeto de abordagem holística que contemplasse os principais ativos do ponto de vista ecológico, social e econômico”, explica Paula.
Segundo o co-fundador da La Ferme Moderne, Mauricio Sales, “a PRETATERRA conseguiu entender o que gostaríamos de criar e, a partir disso, fomos formando listas e mais listas de espécies que se encaixassem no nosso projeto e que tivessem o perfil da nossa empresa”.
O sistema foi pensado para a elaboração de um mosaico produtivo, com a maior diversidade possível dentro de uma lógica viável e economicamente sustentável. “O foco foi direcionado a produtos finos, tais como cesta de orgânicos e brindes, itens como geleias, licores, infusões de frutas nativas, especiarias, antepastos e mel. Primou-se igualmente por madeiras de alto valor, castanhas (espécies de fluxo, as que produzem ao longo de todo o tempo de vida do sistema), café, frutíferas nativas, com alto valor nutricional e potencial uso gastronômico, ou seja raras e de possível demanda iminente”, detalha Ziantoni.
Dentre os destaques na elaboração do design, estão o processo de análise e seleção de espécies mais adaptadas, com priorização de plantas da Mata Atlântica e do Cerrado. A partir daí foi realizado um estudo com rigoroso crivo técnico para definir espécies como pitanga, araçá, limão cravo e uvaia, e, em seguida, segmentados em nichos funcionais. “Espécies como castanha de cotia, ariá e alfarroba, que listamos no inicio, foram retiradas da lista geral por não existir muito conhecimento sobre seu manejo e poder comprometer a viabilidade do negócio, fato que demonstra a dedicação da PRETATERRA em modelar uma produção comercialmente viável”, salienta Mauricio.
Esse design agroflorestal de base foi desenvolvido para ser reproduzido e expandido em outras áreas da fazenda, e, como é elástico, cada implantação pode ter uma composição de espécies e/ou um carro-chefe diferente de acordo com a prioridade e o contexto. Também foi idealizada uma variação do sistema, um segundo design, com a inclusão de espaço ideal para as culturas agrícolas voltadas para a produção de antepastos e conservas, além de especiarias, aromáticas e condimentos.
O projeto PRETATERRA junto a La Ferme Moderne contém uma robusta modelagem financeira, feita com base em um prognóstico de produção. Ela integra as inserções de dados técnicos agrícolas e agroflorestais, associados à expectativa de produtividade dentro de premissas previamente discutidas, assim como dados micro e macroeconômicos.
“O ponto mais marcante do projeto era a preocupação com a sua viabilidade econômica, mas também a questão da biodiversidade. Por isso, focamos em criar um sistema bastante complexo, com variedade de espécies para que tivéssemos um fluxo de caixa interessante”, conta Mauricio Sales.