Orquestra de gaitas completa 35 anos
Por Daniel Batistella
Chegar a 35 anos de carreira sólida nem sempre é uma conquista fácil para um artista, por mais popular que ele seja. Imagina então para uma orquestra de… gaitas! Ou melhor, de harmônicas, nome oficial desse instrumento de sopro. Pois essa façanha foi alcançada este ano pela Orquestra Harmônicas de Curitiba (OHC), a única orquestra oficial de gaitas das Américas. Idealizada pelos músicos Ronald Pereira da Silva (já falecido) e por Eduardo Manoel Marques Pereira, ela nasceu em 29 de março de 1979 e desde então realizou mais de mil shows em quase todo o Brasil, além da Argentina, Paraguai, Canadá e Estados Unidos.
Depois de um intervalo entre 2010 e 2011, os dez integrantes da orquestra se uniram novamente para tocar em eventos fechados, mas também para ensaiar o grande o retorno, que aconteceu em outubro na Capela Santa Maria, em Curitiba. O show teve casa cheia nos dois dias de apresentação. No repertório teve pitadas de blues, MPB, música instrumental brasileira e música clássica.
Nasce uma orquestra
Inspirada em um grupo da década de 40 chamado Borrah Minevitch’s Harmonica Rascals, a orquestra nasceu de um projeto que formou 32 harmonicistas entre os mais de 400 candidatos que participaram dos cursos de iniciação. Além de ser a única formação desse gênero das Américas, também é uma das poucas existentes no mundo. Na Europa há trios e quartetos, como o Fata Morgana e o The Adler Trio.
Ao longo da carreira, a OHC lançou oito discos e participou da trilha sonora da novela global Sonho Meu, de 1993. A formação atual conta com quatro músicos de base – guitarra, baixo, percussão e bateria – e seis harmonicistas. Entre essa turma musical, a harmonicista Indiara Sfair é a única mulher. Ela, que já foi integrante do Double Blues, duo de blues que tocou em bares e eventos em Curitiba de 2009 a 2013, recebeu o convite para participar da OHC ao estudar gaita com Benê Chiréia, o coordenador musical da orquestra. “Eles não me poupam de comentários nem de brincadeiras”, diverte-se Indiara, lembrando que o fato de ser a única mulher entre nove homens não faz muita diferença.
Bate-papo
O coordenador musical da OHC, Benê Chiréia, conversou com a TOP VIEW sobre esse retorno aos palcos e o futuro.
TOP VIEW: Como foi a receptividade do público no retorno da OHC aos palcos na Capela Santa Maria?
BENÊ CHIRÉIA: Casa cheia e vários espectadores emocionados comprovaram o carinho que o público tem pela orquestra e nossa missão como músicos: trazer emoções e sentimentos para os nossos ouvintes. Em menos de um mês já percebemos que o nosso esforço valeu a pena e hoje a OHC está novamente “na boca do povo”.
TV: A OHC está passando por uma reestruturação musical, buscando se atualizar e preservando a tradição. Como isso acontece?
BC: Herdamos mais de 400 arranjos deixados pelo Ronald Pereira da Silva para a OHC. Isso representa mais de 20 shows diferentes sem repetir uma música. Mas estamos buscando um novo repertório, que traga novos temas musicais e tendências de arranjos que não existiam na época. Também integramos suporte rítmico e harmônico às gaitas formado por bateria, contrabaixo, guitarra e percussão.
TV: Esse suporte não existia antes?
BC: No começo da OHC isto era quase proibido, pois tinha-se a ideia de um grupo formado exclusivamente por gaitas. Ao longo dos anos a rigidez diminuiu e instrumentos foram anexados – mas com zelo. Hoje esta banda base trouxe um novo som para a OHC, mais forte e rico e sem comprometer a musicalidade das gaitas que são as estrelas principais do show.
TV: A intenção para 2015 é entrar em estúdio, mas isso depende das leis de incentivo. Como a situação se encontra no momento?
BC: Temos patrocinadores, mas não temos aprovado o projeto perante o governo. A lei do Mecenato em Curitiba está parada desde 2012 e, enquanto não abrirem um novo edital, nossos patrocinadores não podem custear o novo disco. Estamos engessados por enquanto.
TV: Como você vê a OHC daqui a alguns anos?
BC: O plano é manter uma agenda com 24 shows/ano para manter os músicos remunerados e tranquilos com a profissão. O Eduardo [fundador da OHC] me disse antes de me passar o bastão que gostaria que a Orquestra fosse como o Coral dos Meninos de Viena, que tem centenas de anos e sempre se renova. Gostaria que isso acontecesse e que eu pudesse, ao lado dos meus companheiros, aprimorar e manter o grupo firme, e, daqui 20 ou 30 anos, passar o bastão para algum jovem interessado em levá-la adiante.
MAIS TOCADAS PELA OHC
Begin the Beguine (Cole Porter)
Asa Branca (Luiz Gonzaga)
Estrada do Sol (Dolores Duran/Tom Jobim)
Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu)
Brasileirinho (Waldir de Azevedo)
Over the Rainbow (Harold Arlen)