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O Paraná na ArtRio

por Bianca Borges, do Rio de Janeiro

 

Já está na agenda dos principais galeristas do Brasil – e, a cada edição, aumenta o número de interessados ao redor do mundo: setembro é o mês em que a Feira Internacional de Arte do Rio de Janeiro (ArtRio) abre os armazéns do Píer Mauá para movimentar o mercado de artes visuais no país.

O evento chama a atenção de colecionadores, curadores e diretores de museus nacionais e internacionais, além de apresentar a produção de artistas jovens e também dos já consagrados.

Com a presença de mais de 1.100 galerias, de 13 países, e um número estimado de 51,2 mil visitantes, a ArtRio se tornou, em apenas quatro anos, uma das maiores feiras de arte da América Latina e um dos principais motores de comercialização de obras de arte em território nacional.

O volume de vendas não é divulgado pela organização da ArtRio, mas há a informação de que a obra Cleopatra’s needle and charing cross bridge, do impressionista Claude Monet, a mais cara desta edição, foi vendida por R$ 20 milhões. Segundo a colunista Cleo Guimarães, do Jornal O Globo, o quadro ficou menos de dois dias exposto na sala de acesso restrito, no estande da galeria Gagosian, de Nova York. O nome do comprador da obra, de 1899, foi mantido em sigilo.

Em meio a 4 mil obras de mais de 2 mil artistas, garimpamos seis nomes da arte paranaense que estiveram entre as principais apostas de suas galerias durante a ArtRio.

 

Laercio Redondo

 

Os trabalhos selecionados pela galeria carioca Sílvia Cintra + Box 4 são parte da mostra individual do artista –  natural de Paranavaí e pós-graduado na Suécia –, inaugurada em maio deste ano no Rio de Janeiro.

O ponto de partida da exposição é o Palácio Gustavo Capanema, projetado por uma equipe de arquitetos que incluiu nomes como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. “Laercio trabalha em obras que dialogam com a arquitetura e o modernismo”, observa a galerista Juliana Cintra.

Segundo Laercio, o palácio incorpora uma contradição: sua arquitetura representava um sistema baseado em valores democráticos e, ao mesmo tempo, também correspondia à visão de nação moderna do regime ditatorial de Vargas (1930-1945). “As obras dessa série apresentam ruídos para pensarmos estas contradições”, destaca o artista.

 

Juan Parada

 

Artista plástico que costuma usar a cerâmica como suporte, o curitibano teve peças da série “Sistema artificial de ciclo de vida” expostas no estande da AmareloNegro. A curadoria, feita pelo galerista Cláudio Rosado Torres e por Larissa Amorim, reuniu obras com o tema natureza.

“O principal suporte do trabalho de Juan é a cerâmica, um material que vem da natureza. Essa peça tem um ano e já não é a mesma planta do começo, cresceu quatro vezes”, destaca Torres.

Na série, que combina cerâmica, metal, água, terra, luz e uma planta, o artista cria uma relação de coexistência entre a natureza (planta) e o artifício (cerâmica). “A ArtRio é hoje uma das mais importantes ‘vitrines’ da arte contemporânea no Brasil e uma forma de poder ter acesso e estar inserido nesse panorama”, ressalta Juan.

 

Mônica Piloni

 

A instalação de peças em resina pintada é o trabalho mais recente da artista curitibana, hoje radicada em São Paulo, e foi produzida especialmente para a galeria carioca Laura Marsiaj.

Segundo a autora, “Lascívia” sugere um ornamento barroco de arte sacra, mas, ao caráter sagrado, ela aproxima o profano. “Acredito serem muito semelhantes a expressões de prazer e êxtase sexuais. Em vez de usar anjos barrocos, substituí por vulvas, seios, mamilos e bocas entreabertas, outras abertas a ponto de convidar ao sexo oral. O sacro/sagrado se concretiza em sacrilégio e lascívia”, descreve Monica.

Para a proprietária da galeria, o trabalho de Monica atrai pelo caráter surrealista. “Não que essa obra seja, mas ela tem um quê do surrealismo, uma pegada do bizarro, digamos assim”, destaca Marsiaj.

 

Eliane Prolik

 

Conhecida por se apropriar de objetos do cotidiano em trabalhos que quase sempre aludem a formas geométricas e dialogam com a arquitetura, a artista curitibana tem obras nas coleções de alguns dos principais museus de São Paulo e do Rio de Janeiro. Apesar da projeção alcançada pelo seu trabalho, Eliane ainda vive e produz na capital paranaense.

A aposta da SIM Galeria, de Curitiba, em Eliane foi certeira: a obra Mira foi uma das peças adquiridas como doação para o MAR. “‘Mira’ é uma obra superinteressante, em que há um aspecto reflexivo. Nessa escultura, você busca o horizonte ao mesmo tempo em que se vê”, descreve Guilherme Simões de Assis, da SIM Galeria. O trabalho da artista pode ser visto na mostra “Da matéria do mundo”, no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, até 16 de novembro.

 

Paulo Ridolfi

 

A produção do artista, nascido em Maringá, onde mora até hoje, é marcada por pinturas dinâmicas, que variam entre formas, padrões coloridos e costumam estabelecer relações com elementos da arquitetura, relembrando a ligação entre as duas artes.

Não raro, as telas têm como assunto o universo da própria pintura, como as da série “Pinturas Vazias”, em que ele valoriza a cor e as pinceladas de modo a “esvaziar a tela” de qualquer narrativa. Suas obras geralmente não ganham um título – algumas recebem nomes escolhidos pelos galeristas que representam o artista – e podem trazer contrastes fortes e tons vibrantes.

E foi uma tela com essas mesmas características, produzida este ano, que foi levada para a ArtRio pela curitibana Sim Galeria. A técnica usada na obra, sem título, é acrílica sobre tela.

 

HERANÇA ARTÍSTICA

Conversamos com Waldir Simões de Assis Filho, da galeria Simões de Assis, e Guilherme Simões de Assis, da SIM. Pai e filho, eles participaram, respectivamente, pela quarta e terceira vez, da ArtRio.

 

TOP VIEW – Qual a estratégia adotada pelas duas galerias nesta edição
GUILHERME: A Simões de Assis participa desde a primeira edição e a SIM está em sua terceira ArtRio. Este ano viemos com um espaço maior e mais ousado, com projetos desenvolvidos para o evento. Porém, quando participamos de um evento desse gênero, não atuamos seguindo apenas uma lógica mercadológica, mas também institucional, de marcar o posicionamento de nossos artistas e estreitar o contato da galeria com colecionadores e curadores.

TOP VIEW – O mercado de arte no país, de forma geral, vive um bom momento? E em Curitiba?
GUILHERME: O mercado de arte sempre vai ter momentos de maior euforia e outros de menor aquecimento. Acredito que, atualmente, estamos em um grande momento artístico não apenas em Curitiba, mas no Brasil, com o mercado cada vez mais se profissionalizando e se consolidando no cenário.

TOP VIEW – Estar na ArtRio se tornou obrigatório para os principais galeristas do país?
WALDIR: Sim, ela é hoje uma das maiores feiras de arte do mundo! Cresce a cada ano e a qualidade das obras sempre surpreende. Quem quer ser visto hoje precisa estar nas principais feiras do país: a SP-Arte e a ArtRio.

 

 

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