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As principais tendências do mercado de luxo atual

Convidamos três especialistas para falarem sobre o assunto. Para eles, proporcionar experiências únicas continua sendo o desafio das marcas

Paula Abbas

Paula Abbas é head de design estratégico da Alter. Foto: Daniel Katz.
Paula Abbas é head de design estratégico da Alter. Foto: Daniel Katz.

Head de design estratégico da Alter, empresa cujo propósito é compreender a essência das marcas e transformá-la em experiências reais que gerem engajamento com seus consumidores. Professora nas áreas de gestão estratégica de design, inovação e coolhunting.

TOP VIEW: O que você enxerga como a principal tendência do mercado de luxo?

Paula Abbas: A personalização. O instituto de pesquisa Trendwatching usa o termo youniverse para resumir isso. A busca do consumidor pela personalização está caminhando para um grau estratosférico e o mercado de luxo é o primeiro a seguir essa tendência. O que vemos hoje são pessoas gerindo a marca you (tudo o que está relacionado com o “eu”, com o self, com o conteúdo autogerado). As pessoas desejam falar de si, publicar sobre suas vidas e cada vez mais receber produtos e serviços dedicados às suas preferências. O que importa é cada vez menos o produto e cada vez mais uma experiência personalíssima. Para cativar novos clientes e manter os mais velhos, as marcas terão que focar em criar durante as compras um senso de ocasião. Um exemplo foi um lançamento de perfume realizado pela Burberry, que deu aos clientes a chance de inscrever suas iniciais no frasco, tanto em lojas quanto online.

TV: Estudos afirmam que o luxo hoje está muito associado ao natural, a dedicar mais tempo para si, a se desconectar. Podemos afirmar que, dessa forma, esse mercado está atingindo sua maturidade?
PA: O que se qualifica como uma experiência de compra está evoluindo para algo cada vez mais privado, exótico e às vezes até quase desprovido de confortos convencionais. Considerando que o consumidor do luxo busca uma experiência que vai muito além do produto, o tempo, o silêncio (o espaço contemplativo do “eu”) e a desconexão estão em alta. Mais uma vez, tudo isso tem o intuito de busca do self, de não viver no processo da massa, mas sim de viver como um ser livre, completo e capaz de reconhecer seu propósito no mundo. Chamamos essa tendência de quietude, e ela está caminhando em direção à maturidade. Mas ainda a teremos vigente por bastante tempo.

TV: Do ponto de vista das marcas, fala-se muito em proporcionar experiências. Essa tendência continua em alta?
PA: Essa tendência é a grande tendência, principalmente porque o consumo está cada vez mais descolado do produto e cada vez mais associado a um serviço, a uma experiência de vida, a um momento de prazer. Vemos isso bem claro no processo das marcas de luxo no setor da moda estarem, em sua maioria, assinando espaços como hotéis, bares e restaurantes. Mais do que consumir uma bolsa Chanel, o consumidor do luxo quer viver o Chanel Lifestyle, quer comer em restaurantes estrelados em um hotel Cartier, quer passar a tarde no Spa da Bulgary… O efêmero está cada vez mais em alta, pois a experiência que não pode ser repetida fica intensificada na memória de quem a viveu.

TV: Na sua opinião, de que forma as novas tecnologias devem impactar o mercado de luxo?
PA: Os wearables [algo como tecnologias vestíveis] são a bola da vez para as marcas de luxo. De acordo com dados da Euromonitor International, na recém-publicada pesquisa CE2017, as vendas de wearables são projetadas para atingir 215 milhões de unidades em 2020. A maioria das principais marcas de luxo tem explorado maneiras de incorporar tecnologia em seus relógios, vestuário, acessórios, joias, carros. Há bolsas com carregadores de bateria, vestidos com feeds de Twitter, malas de viagem e bagagem de mão com funcionalidades como bloqueio de impressões digitais e built-in de rastreamento global. Outra tendência tecnológica é o showrooming, onde as pessoas experimentam os produtos na loja mas, em seguida, fazem a compra online.

Adriano Tadeu Barbosa

Adriano Tadeu Barbosa é especialista em marketing pessoal e supervisor do GBA Internacional Mercado de Luxo da ISAE FGV| Foto: Joao Prospiter.
Adriano Tadeu Barbosa é especialista em marketing pessoal e supervisor do GBA Internacional Mercado de Luxo da ISAE FGV| Foto: Joao Prospiter.

Especialista em marketing pessoal e supervisor do GBA Internacional Mercado de Luxo da ISAE FGV.
TV: Qual é hoje o grande desafio para as marcas de luxo?
Adriano Tadeu Barbosa: No último curso que eu fiz com o Ferreirinha [Carlos Ferreirinha, da MCF Consultoria], ele trouxe a informação que dentro do mercado de luxo as marcas estão preocupadas com o novo consumidor, os millenials. Eles não estão mais tão pautados em ter, não querem acumular, querem experienciar. Querem quadros, joias, mas nada em excesso.

 

TV: E como é o consumidor do mercado de luxo?
ATB: Não vejo muito diferença entre esses consumidores e os consumidores dos “produtos normais”. A diferença é mais por geração. A X, dos baby boomers, usa menos a tecnologia; a Y pesquisa e compra tudo pela internet. Um dos grandes questionamentos do mercado de luxo é como fazer a pessoa sair de casa e ter essa experiência de compra dentro da loja.
TV: Esse mercado caminha para a valorização da naturalidade, da desconectividade, da simplicidade?
ATB: O ser humano busca muito a identificação, o autoconhecimento, questiona quem é e de onde veio. E o luxo faz parte disso, do fazer com que você se sinta especial sendo quem é, voltando às suas raízes. Se você foi criado em um ambiente supernatureza, por que agora vai deixá-la de lado? Se vive em um grande centro, aproxima-se da natureza, seja com materiais ou com a decoração da casa. Essa mesma busca acontece com as marcas de luxo. Nos identificamos porque elas têm história, um fundamento, um empreendedor, um designer que toma a frente.
TV: E o que podemos esperar do mercado de luxo para o futuro?
ATB: Pra mim essa questão de experiência está muito falada, mas não está ainda feita. As pessoas estão carentes. O excesso de informação deixa as pessoas sobrecarregadas. As experiências serão envolvidas com tecnologias, mas de forma a trabalhar com o emocional.

 

Giulia Quirino – Superintendente do Pátio Batel

Giulia Quirino é superintendente do Pátio Batel | Foto: Naideron Junior.
Giulia Quirino é superintendente do Pátio Batel | Foto: Naideron Junior.

por Greyci Casagrande

Prada, Louis Vuitton, Hugo Boss, Dolce & Gabbana, Valentino, Versace e Ermenegildo Zegna são só algumas das marcas de luxo encontradas no shopping que, em setembro, completa quatro anos de atividades em Curitiba. Nesse meio tempo, já se tornou referência em compras, principalmente de moda — tanto em Curitiba quanto no interior do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até Mato Grosso do Sul.
À frente da administração do Pátio há quase um ano e meio, a superintendente Giulia Quirino avalia estes três anos completos de forma positiva. “Quando falamos em mercado de luxo, estamos em terceiro lugar no Brasil, empatados com Brasília e atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro”, comenta. Mesmo com a crise econômica, teve um crescimento de 12% nas vendas em 2016, comparado com 2015. “Cerca de 30% dos nossos clientes estão fora de Curitiba”, afirma.
E se antes o curitibano viajava para fora para garantir a última bolsa Prada lançada, o seu trench coat Burberry preferido ou o perfume do momento, segundo ela, isso já não acontece mais. “É indiscutível que o mundo está mudando a forma de consumir. Hoje as marcas têm preços muito bem alinhados mundialmente, por isso, o brasileiro passou a consumir mais internamente. Além de encontrar aqui o mesmo preço de fora, ainda tem a possibilidade de parcelar”, avalia a superintendente. O desafio, agora, é tornar o Pátio Batel referência também em gastronomia e entretenimento. Para isso, o shopping lançará no segundo semestre deste ano o Pátio Gastronômico, um projeto que vai reunir restaurante pop up, mercado, happy hour e laboratório de inovações gastronômicas. “O projeto já surge grande, pois começa com 25 novas operações.”
“Cerca de 30% dos nossos clientes estão fora de Curitiba.‟

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