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Uma não! Duas doses de esperança, por favor!

Na linha de frente do enfrentamento à pandemia, Ricardo Sirigatti conta sobre os momentos marcantes vividos e a vitória da ciência com a vacina

A esperança da imunização em massa e da retomada de uma vida com mais liberdade deixou de ser um desejo e se tornou realidade, graças aos profissionais da saúde empenhados na ciência. Conversei com Ricardo Sirigatti, o diretor do projeto Médicos de Rua, também vencedor na categoria Médico do Ano no Prêmio Personalidades TOPVIEW 2019, sobre a vivência na linha de frente e a tão esperada vacina. Confira:

Como esteve a sua vida profissional no último ano, com esse acontecimento inédito que foi a pandemia do coronavírus?
Foi um ano de muitas incertezas e de muito aprendizado. Da mesma forma que as pessoas não sabiam bem o que fazer diante de tanta informação, nós, médicos, tampouco sabíamos exatamente o protocolo a seguir. Foram muitos dias de tentativa e erro. Isso trouxe muita frustração, pois fomos aprendendo com a doença.

Nesse momento de ainda mais contato e cuidado com o próximo, você viu a vida pessoal e profissional se fundirem em algo único?
O tempo todo, pois o medo que eu tinha pelos meus pacientes eu via dentro da minha própria família. Eu tive de adotar todos os cuidados do cotidiano de um hospital dentro de casa. Somado a isso, a perda de pessoas muito próximas nos dava uma sensação de absoluta impotência.

Fazendo parte da linha de frente, o que mais chamou sua atenção durante este quase um ano de quarentena?
O medo nas equipes era visível, mas, a cada alta hospitalar, eu via as equipes celebrando como se fossem seus pais ou irmãos. A rotina da morte foi assustadora!

Você se lembra de um momento que o marcou muito ao lado de algum dos seus pacientes?
Eu passei meu aniversário no hospital e uma paciente com pneumonia por Covid, dependente de oxigênio, cantou parabéns para mim na hora da visita. Ela mal falava. Me emocionei de verdade. 2020 foi um ano que mostrou, à flor da pele, o nosso melhor e o nosso pior.

A sua visão sobre a vida, as pessoas e a sua profissão continua a mesma?
De maneira nenhuma. Acho que a pandemia transformou todo mundo. Eu diria que toda uma geração. Penso que o senso de comunidade e responsabilidade coletiva foi aprendido por cada ser humano que acompanhou tudo isso.

Qual foi o seu maior aprendizado?
Reaprendi o significado de amar ao próximo, acompanhei grupos de profissionais e pessoas do terceiro setor, de projetos lindos que se uniram e ficaram ainda mais fortes, sem parar, sem temer, e que lutaram para ajudar todas as pessoas que precisavam.

A vacina é uma esperança para 2021?
Já é uma realidade. Desde o primeiro dia, já vai diminuindo a circulação do vírus, pouco a pouco. Por isso, temos que ter mais um pouquinho de paciência e continuar nos cuidando. A vacina é segura e foi feita pelas mãos de milhares de profissionais da saúde, unidos pela pesquisa. Ela é a esperança de que as nossas vidas possam voltar “ao normal” o mais cedo possível. Mas isso depende de cada um de nós. Aí está a importância de pensar de forma coletiva e vacinar-se.

*Coluna originalmente publicada na edição #246 da revista TOPVIEW.

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