SELF SAúDE

A conversa que salva

Falar abertamente sobre suicídio é a melhor forma de prevenção

10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e, desde 2015, a campanha Setembro Amarelo está presente no Brasil para conscientizar as pessoas sobre o tema. Na minha coluna deste mês, conversei com o médico psiquiatra Antonio Jacobsen, para nos aprofundarmos no assunto e sabermos como podemos ajudar quem está passando por essa situação. Leia a entrevista completa!

 

Quais são as principais causas do suicídio atualmente?

As causas são multifatoriais. 90% a 98% das tentativas de suicídio estão associadas a algum tipo de transtorno mental. Entre as doenças mentais que mais causam suicídio, uma das mais pesquisadas é a esquizofrenia. No entanto, a que causa mais mortes e é a mais preocupante é a anorexia, porque acomete muitos jovens.

 

O que leva uma pessoa a pensar no suicídio?

Muitas vezes, a causa está ligada à sensação de não pertencimento ao ambiente em que a pessoa vive, além da sensação de desamparo, de que ela é um fardo, e que a vida sem ela seria melhor.

 

As pessoas que chegam a pensar em suicídio entendem que precisam de tratamento?

Elas têm a noção, mas não compartilham, por ser um assunto polêmico e que envolve muito preconceito. Falar sobre isso é extremamente importante, porque eu vejo o pensamento do suicídio como um sintoma psiquiátrico de doenças mentais. É como o pânico, só que, nesse caso, a pessoa sabe e conversa com outras à sua volta que passaram pela mesma situação. Já no pensamento suicida, ela não compartilha por muitos motivos, desde religiosos, sociais e até de grupos. Então, quanto mais se falar sobre o suicídio, melhor é para a prevenção.

 

“O suicídio é um problema de saúde pública. Morre mais gente de suicídio do que em acidentes de carro, homicídios e guerras.”
– Antonio Jacobsen

 

Como a mídia pode falar sobre o assunto de uma maneira mais respeitosa?

A mídia tem que abordar sem sensacionalismo. Tem que ter um cuidado muito grande na hora de informar. É importante o cuidado para não tratar o assunto de forma glamorosa.

 

Como conversar com as pessoas que estão passando por essa situação?

A primeira coisa a se fazer é ouvi-la sem julgamentos, sem tentar resolver o problema e sem pressioná-la. É importante tratar como um sintoma e tentar ajudá-la a pensar como ela pode rever isso. Aconselhá-la a procurar uma orientação a respeito do que está acontecendo, porque pode ser algo passageiro. O problema é que esse acolhimento oferecido pela sociedade e pela família envolve religião e crenças pessoais – e a situação acaba se tornando bem difícil. Acredito que conversar e acolher é o melhor que tem.

 

Você acha que as campanhas de prevenção ao suicídio têm um peso importante?

Eu acho que elas funcionam como um alerta sobre a saúde mental. O suicídio é um problema de saúde pública. Morre mais gente de suicídio do que em acidentes de carro, homicídios e guerras. A cada 40 minutos, uma pessoa morre por conta disso no Brasil. A cada quatro segundos, uma pessoa morre no mundo.

 

Você acha que algumas campanhas tratam o problema de maneira romantizada?

Algumas campanhas são muito superficiais, não promovem o autoconhecimento e o que realmente está acontecendo. Eu acho bem difícil promover esse tipo de informação e conseguir passar para as pessoas sem tanto sofrimento, porque fica como um estereótipo. Os dois extremos são muito ruins. É preciso encontrar uma forma mais natural, de certa maneira mais séria.

 

Qual seria a campanha ideal?

A campanha ideal seria a prevenção das doenças mentais. A informação sobre elas, a diminuição do preconceito, a aceitação das pessoas… porque sabemos que muitas questões sexuais envolvem o suicídio, a questão do bullying também tem uma influência muito grande. Então, essa tolerabilidade social a respeito das diferenças facilitariam muito no que diz respeito às pessoas se aceitarem mais e puderem falar o que elas sentem.

 

*Matéria originalmente publicada na edição #265 da revista TOPVIEW.

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