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Hanseníase: ela ainda existe e o debate é cada vez mais necessário

A médica dermatologista Dra. Laila de Laguiche lidera o Instituto Aliança Contra Hanseníase, visando educar e apoiar o desenvolvimento de novos tratamentos

H á quanto tempo você não ouve falar sobre hanseníase, ou lepra, como a doença é popularmente conhecida? Esse silêncio é preocupante. Afinal, ela ainda é uma ameaça e, principalmente, um assunto que precisa ser discutido e estudado. Por isso, neste mês, entrevisto a médica dermatologista Dra. Laila de Laguiche, especialista à frente do Instituto Aliança Contra Hanseníase.

O que é hanseníase?
É uma doença bacteriana que afeta os nervos periféricos e a pele. Os sintomas iniciais podem ser cãibras, dormências e áreas de esquecimento da pele, sem pelo e transpiração. Depois, fraqueza nas mãos e pés, dificuldade de fechar os olhos enquanto dorme e manchas que não coçam e não doem.

Por que é difícil diagnosticá-la? E quais são as consequências de um diagnóstico tardio?
Basicamente, pela falta de conhecimento da doença e porque não existe avanço em exames diagnósticos específicos. Hoje, a hanseníase é de diagnóstico puramente clínico, com alguns exames que são complementares. As consequências são as sequelas neurológicas, principalmente nas mãos e nos pés. Mas ela também pode causar cegueira. A boa notícia é que é 100% curável e o tratamento é gratuito pelo SUS.

“A boa notícia é que a doença é 100% curável e o tratamento é gratuito pelo SUS.”

O Brasil é o segundo país em número de casos de hanseníase – em 2017, foram mais de 28 mil casos. Como está a situação no Paraná?
O que preocupa no Paraná é que 53% dos municípios não notificam casos de hanseníase, além de termos mais de 500 novos casos por ano. Essa queda de mais de 10% na detecção indica subdiagnóstico. Além disso, tivemos um aumento de 20% nas crianças acometidas de 2017 para 2018.

Como é a transmissão e como prevenir?
A transmissão é pelo contato prolongado com gotículas de saliva de doentes não tratados. A partir da primeira dose do tratamento, o doente não a transmite mais. Não existe prevenção, mas existe o diagnóstico precoce e o tratamento com antibióticos, que, apesar de ser o mesmo há 40 anos, ainda tem uma alta taxa de sucesso. Sabemos que algumas famílias têm uma predisposição genética que favorece a contaminação por essa bactéria. Isso não significa que elas terão necessariamente a doença, mas que terão maior facilidade de ficarem doentes se entrarem em contato com a bactéria.

Como surgiu a ideia do instituto?
Percebi no meu meio que existem muitas pessoas que querem fazer o bem, mas não sabem avaliar quando e como podem ajudar no combate à hanseníase. Nosso intuito é educar e apoiar o desenvolvimento de novos tratamentos. Para mim, o combate à doença se resume aos “3 C’s”: conhecimento midiático, competência técnica e compaixão.

*Matéria originalmente publicada na edição 225 da revista TOPVIEW.

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