SELF COMPORTAMENTO

Conheça o BeReal, rede social que promete ser ‘o oposto do Instagram’

O app foi desenvolvido com foco na autenticidade e compartilhamento da “vida real”

Esqueça fotos posadas, filtros para afinar o nariz e músicas que estão nas dancinhas do momento. Com o objetivo de ser uma plataforma de mídia social realmente “autêntica”, o BeReal não tem anúncios, filtros ou sequer curtidas.  

Disponível para Android e iPhone (iOS), o app  é, segundo a sua própria descrição, “Vida, vida real, e esta vida é sem filtros”. E, embora a rede social tenha sido lançada em 2020, na França, ela ganhou popularidade por aqui no último mês. Mundialmente, os usuários mensais ativos dispararam este ano em mais de 315%, de acordo com dados da Apptopia.

Esse sucesso não é por acaso: por sua proposta que vai contra padrões, os usuários são estimulados a mostrar momentos cotidianos casuais e que fogem da necessidade de transformar tudo em reconhecimento, métricas e viralizar. A ideia é que as pessoas vejam o que você está fazendo no agora, seja incrível ou não. 

Como funciona o BeReal

“Hora de ser real”. É assim que os usuários recebem as notificações, em horários variados, todos os dias, solicitando que tirem duas fotos — imagens simultâneas, tiradas pelas lentes frontal e traseira das câmeras de seus telefones. Todos têm dois minutos para fazer as imagens.

Se você perder a notificação, é possível postar com atraso, mas essas imagens são visivelmente marcadas por serem atrasadas. Ou seja, a ideia é não tirar fotos posadas. E detalhe: quando a notificação do dia é exibida, todas as imagens postadas anteriormente desaparecem. 

BeReal
“Hora de ser real. 2 minutos restantes para tirar uma foto BeReal e ver o que seus amigos estão fazendo!” (Foto: reprodução)

Ao fazer minha “pesquisa” pelo app, pude comprovar que a realidade que impera lá dentro é — muitas vezes — monótona, como muitas tarefas do cotidiano. Fotos de louça suja, telas de televisão e home offices foram as mais recorrentes. 

Em entrevista à CNN, o estudante norte-americano da Universidade de Georgetown Ben Telerski, 21 anos, conta que é um ávido usuário de redes sociais e ingressou no aplicativo em agosto passado: 

“O que eu gosto no BeReal é que sou capaz de fazer conexões com meus amigos através das mídias sociais em uma plataforma que não incentiva curtidas, comentários ou ser artificial […] apenas mostrar a seus amigos o que você está fazendo no momento em que o alerta diário dispara”, diz Telerski, que faz mestrado em governabilidade.

Será que a moda pega?

Ainda é cedo para dizer se esta rede social veio para ficar ou vai ser uma moda passageira. Mas, podemos ter certeza de que o BeReal veio pela necessidade, especialmente dos Millennials e da Geração Z, de ter experiências mais reais na internet, com menos comparações e necessidade de autoafirmação.

Uma instituição de saúde pública do Reino Unido, a Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, concluiu que o compartilhamento de fotos pelo Instagram impacta negativamente no sono, na autoimagem e aumenta o medo dos jovens de não vivenciar os mesmos acontecimentos que os outros compartilham nas redes. Ainda na pesquisa, cerca de 70% dos jovens revelaram que a rede social Instagram fez com que eles se sentissem pior em relação à si mesmos.

Para Daniela Arrais, jornalista e sócia-fundadora da Contente, um método de criação que convida as pessoas a pensarem suas relações com as redes sociais e a internet, a pandemia foi um marco para o seu uso pessoal do Instagram. A jornalista conta que voltou a postar na rede como se fosse 2011, sem tudo precisar ser mega pensado. 

Daniela acredita que tanto fotos e vídeos mais espontâneos quanto a produção de conteúdo planejado vão continuar a coexistir, pois “sempre vai existir espaço para essa narrativa mais blockbuster, dessa vida da fantasia. Por outro lado, vemos como vídeos simples e realidades muito distintas também fazem sucesso. Hoje, temos narrativas muito plurais, acho isso muito legal”.

Quando perguntada sobre o futuro do BeReal, a jornalista diz que, para além do Tiktok, nenhuma dessas redes ‘hypadas’ (como o Clubhouse) ganhou tração suficiente para se tornar massiva, como o Instagram é. “Eu não me engajei muito [no BeReal] , não achei muita graça. Mas gosto de estar em uma rede social enquanto ela ainda é nova para entender os movimentos, se mais gente vai entrar, se vai ser feita alguma coisa ali ou até mesmo se há oportunidade de conteúdo específico para a rede”.

Na visão da produtora de conteúdo, não é necessariamente a rede social que vai melhorar nossa relação com as redes, a iniciativa tem que partir de nós. “O que a gente consome e segue influencia nossa visão de mundo. Então, quem você está seguindo? Tem uma curadoria diversa? Temos que ser protagonistas na nossa relação com a internet. Parte de nós a realidade que queremos ter nos nossos feeds”, finaliza ela. 

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