SELF COMPORTAMENTO

A vida continua

Uma atitude simples pode transformar a história de centenas de pessoas

A doação de órgãos é um ato de amor, mas que ainda precisa de mais incentivo e esclarecimentos para eliminar dúvidas frequentes sobre o
assunto. Para desmistificar o tema, na coluna deste mês, conversei com a médica Arlene Terezinha Cagol Garcia Badoch, ex-coordenadora do sistema de transplantes do Paraná e grande responsável por tornar o estado um destaque mundial em doações e transplantes de órgãos. Leia a entrevista!

Como se tornar um(a) doador(a) de órgãos?

Fale com a sua família e com os seus amigos sobre essa vontade. Esclareça principalmente aos seus familiares que você quer ser um(a) doador(a).
Não precisa deixar nada por escrito. O importante é verbalizar porque é a família que toma a decisão. Por isso, é muito bom deixar clara a sua intenção.

Quais são os órgãos que podem ser doados?

Uma pessoa jovem, sem comorbidades e sem nenhuma doença, pode doar vários órgãos, como os dois rins, os dois pulmões, o coração, o fígado, o pâncreas e o intestino. Em relação aos tecidos, pode doar as córneas, a pele e os
ossos.

Como funciona a lista de transplantes?

O sistema nacional de transplantes tem coordenação do Ministério da Saúde, que gerencia todo o processo de doação e distribuição de órgãos no Brasil. Todas as centrais de órgãos estaduais estão subordinadas ao Sistema Nacional de Transplantes e funcionam com base em uma lista única e nacional. Apesar de a lista ser única, a distribuição é feita primeiramente no estado do doador. O sistema procura alocar os órgãos dentro do estado para os pacientes que estão inscritos naquela modalidade e, caso não seja identificado nenhum receptor para aquele órgão, a distribuição é feita
nacionalmente.

É possível doar órgãos em vida?

Sim. O mais conhecido e que se ouve falar muito é o transplante de rim. Em relação aos órgãos, também é possível doar uma fração de fígado e uma fração de pulmão. Já em relação aos tecidos, o mais comum é a doação de medula óssea. Há 10 anos, o que mais se fazia no Paraná era o transplante renal intervivos, mas, felizmente, com o crescente aumento de doações, ele diminuiu muito. O Paraná é o estado que mais tem doações de órgãos em nível nacional. Isso é muito bom para a população, que tem mais oferta de órgãos e não precisa depender de uma doação em vida.

A doação em vida pode gerar algum problema de saúde futuro?

A maior complicação que pode ocorrer no transplante entre vivos é durante o procedimento cirúrgico ou complicações imediatas após o procedimento. Em longo prazo, não há nenhum risco. Com relação ao fígado, por exemplo, ele se regenera. Sobre o rim, o doador deve estar ciente de que ele terá apenas um e precisará seguir todas as orientações médicas para evitar qualquer complicação futura.

Quem não pode ser doador?

Pacientes portadores de HIV, pacientes com câncer generalizado e pacientes com quadro infeccioso grave não tratado. Há outras contraindicações relativas, que são analisadas caso a caso. Quando ocorre a situação, a equipe do hospital e as centrais estaduais estudam as possibilidades.

Qual é a melhor forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos?

Nós precisamos falar sobre o assunto. Precisamos mostrar a necessidade de discutir a situação porque sempre vai haver um paciente que pode se beneficiar com esse ato de amor ao próximo. Essa mudança precisa ser cultural. Já melhorou muito na última década, mas ainda precisa de uma virada. É importante mostrar que doar é um dos atos mais sublimes e isso faz diferença para as milhares de pessoas que estão na lista de espera.

 

Conforme o Sistema Estadual de Transplantes (SET/PR), quase 3 mil pessoas aguardam um órgão no Paraná. (Crédito: Albari Rosa | AEN)
Coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e tecidos (córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões) podem ser doados. (Crédito: SESA)
O Paraná é um dos estados que mais realizam transplantes de órgãos, conforme o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT). (Crédito: Thacielly Pacheco Teixeira | Casa Militar)
ARLENE TEREZINHA CAGOL GARCIA BADOCH é médica pediatra, hebiatra assistencial e especialista em gestão e administração de saúde pública. (Crédito: arquivo pessoal)

*Matéria originalmente publicada na edição #269 da revista TOPVIEW.

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