O comércio como instrumento de paz
Estrategista de política externa que foi Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos na gestão do presidente Jimmy Carter, o doutor Zbigniew Brzezinski (1928-2017) produziu um relatório chamado As Megamortes, no qual ele lista 243 conflitos militares ocorridos no século XX que deixaram um saldo de 187 milhões de mortos. Nesse total, constam 20 milhões de mortos na China sob Mao Tsé-Tung, de 1949 a 1976, o que posteriormente foi corrigido para 70 milhões, elevando as megamortes para 237 milhões. Desse total, 50 milhões somente nas duas guerras mundiais.
O próprio Karl Marx, influenciado pelas ideias liberais de Manchester, declarou que em um mundo de livre comércio não haveria mais razão para as nações brigarem entre si. No Fórum Econômico Mundial de 2019, em Davos, na Suíça, o comércio internacional foi um dos temas, e concluiu-se que, quanto mais as nações ampliam o comércio multilateral de mercadorias, serviços, tecnologias e capitais, menores são as possibilidades de guerras e conflitos bélicos.
A tese é que, quanto mais as nações exercem trocas comerciais e financeiras, mais vantajosa torna-se a relação internacional como instrumento de fomentar o crescimento econômico, o desenvolvimento social, a integração entre as pessoas e o intercâmbio cultural. Esse conjunto tem o efeito de tornar a guerra desnecessária e até mesmo prejudicial, logo contra os interesses dos países.
O comércio entre as nações enriquece quem compra e quem vende. A razão está no conceito de “vantagens comparativas”. Por exemplo: o Kuwait é rico em petróleo, mas o clima impede a produção de alimentos. O Brasil é eficiente na produção de alimentos, mas precisa importar petróleo leve. Assim, o Brasil tem excedentes de alimentos para vender ao Kuwait, e este tem excedentes de petróleo para vender ao Brasil.
O comércio internacional é, por definição, um sistema de trocas cooperativas, em que os dois lados ganham. É um jogo de “ganha-ganha”, que fomenta relações diplomáticas e civilizadas, e fomenta a paz.
Mesmo quando dois países produzem os produtos A e B, mas o primeiro é mais eficiente na produção de A e o segundo é mais eficiente na produção de B, a vantagem comparativa está em cada um se dedicar a produzir aquilo que faz melhor, com maior produtividade, e estabelecer trocas comerciais. Em resumo, o comércio internacional é um instrumento que contribui para fomentar a paz e a boa convivência entre as nações.
* Coluna originalmente publicada na edição #247 da revista TOPVIEW.