Você é o artista da sua própria roupa
Quem você foi em 2020? É possível responder essa questão de diversas formas, e a que mais me interessa – em um 2021 regido pelo Ar, que significa o intelecto, o pensar e a evolução das ideias que romperão o modo como vínhamos fazendo as coisas – é a forma que me conta quem você foi por meio do filtro que usou para ver o mundo.
Um filtro não é só o do café puro ou um filtro fake do Instagram. Existe também o cultural. Nascemos com um filtro que envolve nosso olhar e vamos construindo repertórios em todas as idades. Um filtro pode ser bom e libertador ou pode ser muito antigo, acostumado a ver apenas o tradicional. Nada contra a tradição, mas abrir espaço para a renovação é sempre aquele sopro de vida que tira a folha da calçada.
A moda também fala em renovação, e é no exato momento em que ela nos permite escolher o que renovar que temos a chance de ativar o nosso filtro particular. Quando definimos cultura na sua amplitude, descrevemos uma nação. Nisso, vamos esquecendo de ser parte dessa nação, com suas diferenças e formas de enxergar. Entende como a cultura também diz sobre a sua autenticidade?
Em 2020, a arte me ajudou a mudar a vibração do que eu vivi. Mais sensíveis e abertos para encontrar justificativas de alento, em algum momento você usou seu filtro e foi atrás de músicas, visitas virtuais em museus, entrou no mundo de Van Gogh, Frida, e por intermédio da arte e da cultura, teve momentos mais leves. Conquistada uma lente só sua, em 2020, você atualizou o seu filtro para olhar o mundo, em 2021, certo? Eu fico curiosa para saber quem é você agora. Você produz cultura e pode ser artista da sua própria vida. O sentimento que você experienciou ao apreciar qualquer uma das artes é o mesmo que deve envolver a escolha das suas roupas. Afinal, você é a cultura do seu tempo e faz do vestir sua própria arte. É assim que eu gosto que a roupa nos sirva.
*Coluna originalmente publicada na edição #246 da revista TOPVIEW.