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Cor de quem?

Azul para meninos e rosa para meninas é algo relativamente novo: até o século xx, normalmente, era o contrário que predominava

Ainda há quem afirme que azul é cor de roupa para meninos e que a cor-de-rosa é a de meninas. Contudo, durante muito tempo da história da humanidade – até o século XX, mais precisamente –, a construção social que relacionava crianças e cores defendia justamente o contrário. Meninos usavam rosa e meninas vestiam azul-claro.

Ao longo dos tempos, o vermelho foi a cor do homem, principalmente pelo caráter mais sanguíneo e colérico associado ao gênero, junto ao fato do vermelho ser uma cor quente e transmitir uma ideia semelhante. Os meninos, por sua vez, que são o “diminutivo” do homem, usavam cor-de-rosa. “Vemos isso em inúmeras imagens religiosas e várias pinturas do final da Idade Média e do Renascimento, em que o Menino Jesus usa túnicas dessa cor”, explica João Braga, membro da Academia Brasileira da Moda e professor de História da Moda da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Enquanto isso, o azul era relacionado à mulher, cujo perfil é mais caracterizado como apaziguador e acalentador. Portanto, por ser uma cor fria e transmitir paz e tranquilidade, estava associada à cor feminina. Para as meninas, então, era designado o azul-claro. “Volto a destacar a arte religiosa: Nossa Senhora tem o seu manto azul. Era até um azul mais intenso, azul-ultramar. Isso especialmente difundido pela História da Arte”, reitera o professor.

Essa convenção, contudo, foi muito comum até o final do século XIX. Até então, também era normal que crianças e recém-nascidos usassem roupas brancas. Se houvesse ornamentos, como babados e toucas, azuis-claros e cor-de-rosa era utilizados para identificar o gênero da criança, já que, normalmente, ela estava coberta com roupinhas.

Isso é observado principalmente nas casas reais e de forma mais nítida na corte britânica. “Os filhos da rainha Vitória muitas vezes eram retratados nas pinturas com os detalhes em azul-claro, se fosse menina, ou rosa, se menino”, explica o especialista em História da Moda, que acrescenta que, conforme o tempo foi passando, outros significados e realidades foram surgindo.

Portanto, foi por volta dos anos 1910 que essa construção social começou a mudar. Involuntariamente, a rainha Maria, avó da rainha Elizabeth II, transformou a analogia das cores com a criança. Quando engravidou do seu primeiro filho, por não ser possível identificar o gênero da criança antes do nascimento, ela ganhou de presente seis sapatinhos e meias cor-de-rosa e mais seis azuis. Nasceu um menino e, com isso, a rainha ficou com os azuis e doou os outros para o Museu da Infância de Londres. “Se uma rainha faz isso, seus súditos vão fazer também – principalmente se forem da corte inglesa, que é muito visada e observada”, conclui João Braga.

Sobre o assunto

Pink and Blue: Telling the boys from the girls in america

Jo B. Paoletti

Editora Indiana University Press

(Foto: Divulgação)

Fora dos padrões

Jo B. Paoletti Editora Indiana University Press Vídeo mostra criança estressada com o fato de brinquedos cor-de-rosa serem destinados exclusivamente às meninas (e super-heróis para meninos!)

*Matéria originalmente publicada na edição #251 da revista TOPVIEW.

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