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Centenário de Zuzu Angel: o desfile-protesto contra a Ditadura

Relembre a história da primeira estilista brasileira que cunhou a moda-protesto em luta pelo filho assassinado na Ditadura

Se Zuzu Angel estivesse viva, neste mês comemoraria 100 anos — mais especificamente no último sábado, no dia 5 de junho. Em 2021, também se completaram os 45 anos desde que ela foi morta por agentes da Ditadura Militar.

A estilista brasileira derrubou barreiras e, em um mercado dominado por homens, foi além da sua profissão de costureira e se tornou a primeira estilista mulher do Brasil. Na moda, Zuzu sempre fez do país a sua maior fonte de inspiração. O estilo era marcado pela valorização de materiais nacionais — a chita, o rendão, os babados, as fitas e os fuxicos casavam com estampas tropicais, caipiras ou de muitas outras regiões do Brasil que a encantavam.

Ao invés de apenas reproduzir o que via da Europa, como outros estilistas faziam, Zuzu se interessava pela riqueza nacional e antes de muitas pessoas começou a trabalhar com pedras mineiras, as conchas, as contas de jacarandá e os bambus. A estilista também uma das primeiras a sugerir calças para noivas. Curiosamente, o seu nome, porém, começou a repercutir melhor no exterior do que por aqui.

As estrangeiras que chegavam no Rio de Janeiro e não deixavam de passar em seu ateliê domiciliar. E, assim, ela alcançou uma clientela invejável que ia de Yvone de Carlo, passava por Joan Crawford, seguia entre Kim Novak, Margot Fonteyn e até Lizza Minnelli, além das modelos Verushka e Jean Shrimpton.

Não à toa, por meio desse boca a boca estrelado, que, em 1970, Zuzu Angel apresenta a sua primeira coleção em Nova York. O desfile foi patrocinado pela Bergdorf Goodman e ficaria conhecido como a coleção Maria Bonita, de Zuzu, com a qual ela apresentou vestidos de algodão colorido que continham rendas do norte e referências ao cangaço.

Vestidos criados por Zuzu Angel em manequim. (Foto: Instituto Zuzu Angel)

No exterior, a carreira de Zuzu ascendia. No Brasil, o tempo escurecia!

Com a política do horror, imposta pela Ditadura Militar. Stuart Edgard Angel Jones — seu filho mais velho — um opositor ferrenho dos militares, passava a ser perseguido. Em 1970, o estudante de economia e bicampeão carioca de remo, sumiu. Ele entrou para a chamada lista de desaparecidos políticos, que continha nomes de militantes presos, mas, na verdade, havia sido duramente torturado e assassinado pelo Estado brasileiro.

Após bater de porta em porta atrás do filho e fazer denúncias à Anistia Internacional, Zuzu Angel não conseguia nenhuma resposta e a sua esperança foi dando lugar a angústia perda. 

No ano seguinte, foi através do seu trabalho que a estilista decidiu se fazer ouvida. Com um desfile-protesto realizado no Consulado Brasileiro em NY, denunciou as atrocidades da ditadura por meio de vestidos bordados com pássaros enjaulados, canhões e tanques militares. Por conta da apresentação, sua luta chegou aos jornais internacionais. Com a notoriedade no exterior, ela envolveu em sua causa celebridades de Hollywood que eram suas clientes.

De tanto enfrentar as autoridades da época, em 1976 o regime militar ordenou o assassinato de Zuzu. A estilista morreu em um “acidente” automobilístico na saída do Túnel Dois Irmãos, em São Conrado (RJ). Em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu que Zuzu foi assassinada.

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