ESTILO

Inquietação artística

Coluna originalmente escrita por Glauco Menta, convidado de Marcos Bertoldi, e publicada na edição #240 da revista TOPVIEW.

Glauco Menta é graduado em Artes Cênicas pela PUCPR, tem especialização em História da Arte no Século XX pela EMPAB e mestrado em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti. Artista plástico inúmeras vezes premiado e presente em importantes coleções, leciona, atualmente, na Unicuritiba. Na sua obra atual, formas ameboides de extração modernista são também jorro e gozo, multicoloridas e sujeitas à gravidade. O fundo cartesiano é o contraponto racionalista. Campos de cor e  linhas são leiautados como plantas baixas e reforçam as conexões construtivistas e multidisciplinares. Nas esculturas, formas fálicas e orgânicas prevalecem em um cardápio de cores em que o vermelho e o azul-turquesa se sobressaem. Um trabalho de exuberante brasilidade que atualiza o Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Boa fruição!

Acrílica sobre tela, 120 x 80 cm. 2020. (Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)

Para mim, a arte não é terapia, não é artesanato – que admiro muito e coleciono com o mesmo fervor, sabendo que são coisas vizinhas e que conversam entre si muito amigavelmente –, não é passatempo, não é diversão. Dito isso, agora os dados positivos: arte é pesquisa, é suor, é uma base (um suporte, no sentido mais profissional), é um discurso, é uma maneira de enxergar o mundo e as pessoas. É entendimento do que somos e de onde viemos. E é justamente por isso que meu trabalho mergulha profundamente na arte, na arquitetura e no design brasileiros.
Quando comecei uma pesquisa mais profunda pelas brasilidades, vi que a arte, o design e a arquitetura brasileira tinham um diálogo muito forte com outras culturas. Primeiro, a portuguesa, claro. Depois, outras.

Escultura de mesa, Série Amebas, 2018. (Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)
Escultura de parede, Série Amebas, 2019. (Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)

Eu não poderia fugir disso, nem que quisesse. Por isso, meus passeios pelo período colonial, pelo período monárquico-imperial, pelo modernismo e concretismo. Daí a presença de Carmens, Tarsilas, formas ameboides, cor. E, sim, há um inegável lado crítico, que, por vezes, passa despercebido. Contudo, creio que justamente isso também faça parte de uma ironia brasileira que é típica da brasilidade. De uns dez anos para cá, eu migrei para o tridimensional. O ateliê passou a dividir os trabalhos entre a bidimensão e a tridimensão, mas mantendo o diálogo com os trabalhos passados. As esculturas ganharam as cores das telas e as formas em dois espaços se inflaram, formando peças de chão, de parede, de outras superfícies. Eu gosto dessa convivência (nem sempre pacífica) dos suportes: a tinta levada às telas até a exaustão e as surpresas que se tem quando abro o forno. Para mim, a riqueza da cultura brasileira é tão difícil de abarcar que eu nunca considero um fim definitivo para meus trabalhos. Eles são uma corrente em contínuo movimento.

(Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)
(Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)
(Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)
(Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)
(Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)
(Foto: Gilson Camargo e Alessandra Okasaki)

*Coluna originalmente escrita por Glauco Menta, convidado de Marcos Bertoldi, e publicada na edição #240 da revista TOPVIEW.

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