ESTILO GASTRONOMIA

O dom de servir

Renato Costa tem um dom que poucos profissionais têm: o de servir

Eleito o “Profissional do Ano” pela Câmara Municipal de Curitiba em 2014, Renato Costa, de 62 anos, conhecido apenas como “Costa” pelos clientes, recebeu a honraria pela competência, responsabilidade e atenção no atendimento aos clientes do Restaurante Cascatinha, no bairro Santa Felicidade, em Curitiba.

Costa completará 46 anos como funcionário do tradicional restaurante, sendo um dos garçons mais antigos do estabelecimento. Com um largo sorriso no rosto, ele esbanja simpatia e desenvoltura, já que dificilmente derruba uma bandeja ou comete algum “acidente” de trabalho.

Já aposentado, o garçom conta, em tom de brincadeira, que sua aposentado- ria saiu em apenas 15 dias, já que possuía apenas um registro em sua carteira de trabalho. No entanto, antes de andar pelo tradicional salão do Cascatinha, Costa trabalhou como eletricista durante um ano.

Renato é um dos garçons mais antigos do restaurante (Foto: divulgação)

Por indicação de seu pai – que era pedreiro na época e prestava serviço para o mesmo estabelecimento –, ele começou sua história no restaurante como “cumim”, também conhecido como auxiliar do garçom. Não levou muito tempo para o descendente de família italiana se tornar o garçom do local – o que, segundo o dono, não é tarefa fácil, já que há funcionários que estão no local há 10 anos como auxiliares de garçom, mas ainda não foram promovidos ao cargo.

No atual sistema do Cascatinha, Costa cuida do atendimento de todo o salão nos dias de semana e, nos finais de semana, atende apenas o lado esquerdo, também conhecido como uma das “praças” do restaurante – há apenas duas.

Por conta da tradição da marca, os clientes que frequentam o local vêm de diversas gerações. “Muitos de nossos clientes vinham ao restaurante com seus pais e avós quando eram crianças. Hoje, eles vêm com seus filhos e contam que lembram de mim daquele tempo. Isso acontece, no mínimo, duas vezes por semana”, revela.

Orgulhoso, o profissional afirma que os clientes se tornaram seus amigos e que a proximidade entre eles é tão grande que chegam a passar as senhas de seus cartões de crédito para que o próprio garçom pague a conta. “Hoje mesmo um cliente fez isso. A senha dele é 1414”, brinca.

Servir bem

Discreto, Costa não gosta de se gabar pelas próprias conquistas e, por isso, o proprietário do Cascatinha, Altevir Trevisan, reforça que o segredo do sucesso de Costa é servir as pessoas como se fosse o próprio dono do local. “Ele conhece todos os clientes, veste a camisa da empresa mesmo, esse é o segredo”, relata o empresário.

Já o garçom fala que não há segredo, que atender bem, para ele, é ser simpático com as pessoas e, claro, conseguir abordar qualquer assunto. “Muitos são meus amigos e, por isso, a gente brinca muito. Um deles é athleticano e eu sou coxa-branca. Por isso, a gente vive brincando. Hoje mesmo ele veio almoçar aqui, mas eu não pude tirar sarro dele, já que o Athletico ganhou ontem”, brinca Costa.

Sua facilidade para interagir com todos os clientes fez com que ele aprendesse algumas palavras em árabe, inclusive. “Nós temos alguns clientes árabes e, por isso, aprendemos a falar umas palavrinhas com eles. “Habib”, em árabe, quer dizer “querido”. Claro que aprendemos alguns palavrões também, mas eu não vou dizer”, diverte-se.

O resumo de uma vida

Costa viveu mais tempo de sua vida dentro do Cascatinha do que na própria casa. A vida que construiu, além de financeira, também veio graças ao restaurante. “Acredita que a sogra dele trabalhava aqui e, por isso, ele conheceu a esposa dele?”, conta Trevisan.

Segundo o proprietário, isso demonstra o quanto o restaurante é tradicional. Inclusive, seus dois novos funcionários, João e Joãozinho, são filhos de outros dois funcionários. “Eles têm 15 anos e trabalham apenas nos finais de semana. Ambos ficam na minha praça, e estão trabalhando superbem”, exprime Costa.

Treinando uma nova geração para trabalhar no restaurante, o garçom diz que prefere não pensar muito em seu futuro. “Não sei se vou parar logo ou daqui muito tempo, prefiro não pensar muito nisso. Apenas vou vivendo e fazendo o meu trabalho”, conclui o profissional, que, com certeza, marcou algumas gerações. 

*Matéria originalmente publicada na edição #266 da TOPVIEW

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