A quatro mãos: Gastro Night, do +55, se firma como grande evento de gastronomia em Curitiba
Esqueça a imagem do déspota: as cozinhas curitibanas acomodam perfeitamente mais de um chef. Parcerias em restaurantes, como um menu criado a quatro mãos ou um jantar feito por convidado, se mostram não somente viáveis, como também proveitosas para todos – fregueses, empresários e os próprios chefs. A noite menos movimentada do bar e restaurante +55, por exemplo, hoje serve até 155 jantares. Tal é o interesse despertado pela Gastro Night, que desde abril, semanalmente, recebe um chef convidado.
Os nomes são definidos pela afinidade com a cozinha internacional do espaço, explica o sócio Luís Eduardo Motta, e possibilitam ao público provar sabores e estilos variados, com entrada, prato principal e sobremesa. Para Marcos Slaviero, parceiro do projeto, a proposta em si já é atraente, como o são os nomes de Lênin Palhano e Jacqueline Schaidt. Outro chef curitibano, Gladson Rafael observou a prática em países como Peru e Inglaterra: “As casas se conceituam mediante vários chefs”, disse sobre alternativas à “monarquia” da cozinha.
Intercâmbio de sabores
Também para os chefs, compartilhar a cozinha com personalidades, estilos e métodos distintos é um aprendizado e uma troca prazerosa. “Saboreando um prato, trocando ideias com os colegas a gente aprende muito”, opina Joy Perine, lembrando que são poucas as oportunidades para essa confraternização. A chef resolveu, então, criar a ocasião: o Zea Convida. No seu antigo Zea Maïs, até 2015, ela recebeu e cozinhou ao lado de Marcelo Amaral (Lagundri), Mara Salles (Tordesilhas, SP), Kika Marder (Sel et Sucre), Celso Freire, entre outros. Em comum, os parceiros eram alinhados com o viés contemporâneo do restaurante e, ao mesmo tempo, acrescentavam a própria linguagem. E esta se refletiu nas criações da própria Joy: a ênfase na comida brasileira de Mara Salles deu origem a uma rabada, e o tempero asiático de Marcelo Amaral resultou num carpaccio com salada tailandesa. São pratos que fugiam ao cardápio do Zea, mas criavam uma ponte entre este e o convidado. E quanto a um menu criado e executado por 14 nomes de peso, de diferentes restaurantes (inclusive estrangeiros), simultaneamente? Assim foi o Gelinaz, evento realizado este ano em São Paulo.
“Criar um menu juntos, com várias ideias, de vários chefes, foi divertido”, conta Manu Buffara, que atuou ao lado de Alex Atala, Helena Rizzo, o peruano Mitsuharu Tsumura, entre outros. A curitibana já recebeu e foi convidada em outras cozinhas, ora apresentando pratos de seu restaurante ou criando especiais. “A gente sempre acaba aprendendo técnicas, jeitos de trabalhar e liderar”, afirma, ressaltando ainda o contato com grandes profissionais de todo o mundo e novas experiências, como servir um jantar para 500 pessoas. Para o fim do ano, Manu promete um jantar a quatro mãos em comemoração aos cinco anos de seu restaurante (mas não revela o nome do convidado). O ingrediente secreto para tais parcerias? “Cada um tem um temperamento, e claro que trabalhar em restaurante é estressante, mas tem que fazer com amor”, pondera Joy Perine sobre algo que esses chefs têm em comum.
*Matéria publicada originalmente na edição 191 da revista TOPVIEW.