ESTILO

Ecovoluntariado, o turismo que está crescendo no Brasil

por Érika Busani

O dia aqui começa cedo. Às 7h da manhã já estão todos na cozinha cortando frutas, carnes, cozinhando e descascando ovos, pesando e separando as porções para cada “freguês”.

É meu primeiro dia no Criadouro Onça Pintada e estou ansiosa para ajudar nas tarefas dos tratadores e desfrutar da incrível oportunidade de conhecer e interagir com animais ameaçados de extinção como o papagaio-da-cara-roxa, a harpia, várias espécies de macacos e “gatos” de todos os tamanhos – do pequeno gato-do-mato à estrela do local, a onça-pintada.

Difícil acreditar que a 30 km de Curitiba, em Campina Grande do Sul, exista um local assim. Vim com a proposta de experimentar um tipo de turismo que entre europeus e americanos tornou-se comum, mas ainda engatinha no Brasil.

Os programas de ecovoluntariado unem o turismo de experiência e o de conservação, duas tendências atuais na área de viagens. Eles fazem parte do segmento turístico que mais cresce no mundo, o de ecoturismo, com taxas entre 15% e 25% ao ano, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).

Funcionam assim: o interessado participa das atividades de pesquisa e cuidados com a biodiversidade mediante uma contribuição financeira – que, além de pagar seus custos, tem como principal objetivo ajudar na manutenção dos projetos.

É aí que o turista interno, como um animal teimoso, empaca. “O brasileiro acha um absurdo pagar para trabalhar. Mas não se trata disso, ele está investindo em uma causa. Salvar espécies em extinção vai garantir a qualidade de vida das gerações futuras.

A mata sem bicho não existe. Salvando a mata, salvamos o rio, as pessoas”, sustenta o médico Luciano Saboia, proprietário do Criadouro e presidente da Associação de Pesquisa e Conservação da Vida Silvestre, mantenedora do local. Para se ter uma ideia, 90% dos ecovoluntários do Onça Pintada são estrangeiros.

Atualmente os proprietários, o casal de oncologistas Luciano e Cristiane Saboia, sustenta o local com recursos próprios. “Se não se tornar autossustentável, não se perpetua”, preocupa-se o médico.

Os programas são uma das formas de tentar tornar esse tipo de projeto autossustentável. “O envolvimento de ecovoluntários é de fundamental importância para nosso trabalho. Esse é um tipo especial de turista que procura roteiros diferentes, quer se envolver numa atmosfera de equipe e companheirismo, além de ter certeza de que o dinheiro empregado estará sendo aplicado na sustentabilidade de projetos de conservação de espécies ameaçadas”, observa Alesandra Bez Birolo, presidente do Instituto Ekko Brasil, que mantém o Projeto Lontra (leia mais na página 72).

É só colocar os pés na sede do Onça Pintada para entender. São 132 hectares com mais de 2,2 mil animais de 190 espécies da fauna brasileira. A maioria vem do tráfico, posse ilegal ou resgate de fauna.

Os 12 funcionários fixos cuidam dos animais com devoção. Os recintos estão sempre limpos, a grama cortada, o espaço florido e onde não há recintos – prontos ou sendo construídos – a floresta vem sendo recomposta.

Para poucos

Ajudar a cuidar desses animais é um privilégio. A cada dia o ecovoluntário acompanha um dos sete tratadores e o auxilia no que for necessário: da limpeza dos recintos ao tratamento de recuperação.

E tem oportunidades como a de segurar no colo um tamanduá-mirim bebê! Aconteceu comigo: o pequeno curioso encostou seu longo focinho no meu nariz para conhecer a “novidade”. Vai me dizer que não são férias adoráveis?

CRIADOURO ONÇA PINTADA – (41) 3029-8810

www.criadourooncapintada.org.br
contato@criadourooncapintada.org.br
• 
Doação de R$ 500 com alimentação e 
transporte por conta do ecovoluntário.
• Mais R$ 120 com hospedagem e alimentação no criadouro.
• Permanência mínima no programa: cinco dias.
• Trabalho das 8h às 17h, com intervalo das 12h às 13h.
Não é aberto à visitação pública

Afinal, o que eu 
ganho com isso?

• 
Oportunidade para se tornar mais ativo na preservação do meio ambiente.
• 
Aprender sobre os cuidados específicos com animais em cativeiro e observar os comportamentos das espécies.
• 
Ver e explorar lugares que você nunca conheceria em uma viagem comum.
• 

Conhecer a cultura local, convivendo com a comunidade do entorno dos projetos, além de tratadores, biólogos, médicos veterinários e outros profissionais.
• 

O seu dinheiro, além das despesas com alojamento, alimentação e passeios, é revertido para o projeto.

Aqui você também é bem-vindo

Projeto Mucky

Trabalha com primatas de diversas espécies. Socorre, recupera, mantém, pesquisa, busca a procriação das espécies em risco e trabalha no intuito de reintegrá-las à natureza. Instalado em uma área de 20 km² em Itu (SP), conta com 103 viveiros. O ecovoluntário trabalha com os funcionários da instituição atuando em todas as atividades relacionadas ao resgate e tratamento dos primatas. O período mínimo de estadia é de uma semana, ao custo de R$ 1 mil, com traslado ao aeroporto, hospedagem, alimentação e limpeza do quarto.

Associação Mucky de Proteção aos Primatas –  (11) 4023-0143, 
7892-6130, 7892-6131, 
atendimento@projetomucky.org.br. www.projetomucky.org.br

Projeto Lontra

Desenvolvido pelo Instituto Ekko Brasil, conta com dois Centros de Pesquisa, Conservação e Educação Ambiental, um na Mata Atlântica, outro no Pantanal. O ecovoluntário participa dos cuidados com os animais em cativeiro e sai a campo para observação e coleta de dados com as lontras em seu ambiente natural.

A base fica em Florianópolis, na Lagoa do Peri. Não há tempo de permanência definido e as diárias custam R$ 90 na alta temporada (novembro a março) e R$ 60 na baixa (abril a outubro), incluindo traslado do aeroporto e hospedagem na base do projeto.

Projeto Lontra – (48) 3237-5071, atendimento@ekkobrasil.org.br. 
www.ekkobrasil.org.br

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