A alimentação e suas conexões
Entre pausas para acertar detalhes da obra, a chef Manoella Buffara conversa comigo por telefone. Foi difícil conseguir um tempo com a curitibana, já que, na semana seguinte, seria a reinauguração do Manu, restaurante premiado que leva seu nome, em Curitiba. A reforma preparava o espaço para o próximo momento da casa. Quem for ao estabelecimento verá uma nova decoração e um menu reinventado – um dos melhores que já criou em sua carreira, garante a chef.
Os clientes poderão, também, conhecer seu novo projeto, o Manuzita. Foi uma alternativa que surgiu para contemplar o delivery, que tinha uma logística complicada para o cardápio do Manu. O Manuzita tem uma proposta descomplicada: comida de casa – literalmente da casa da chef. “Não agora, na pandemia, mas muita gente frequenta minha casa, então eu sempre cozinhei. Por isso, tentei trazer esses pratos do meu lar, os quais eu cozinho para a minha família, para dentro do Manuzita”, conta.
“Eu quero poder conectar mais as pessoas ao alimento, tentar fazer com que elas entendam mais sobre o comer”
O que nasceu online ganhou contornos físicos: o Manuzita terá um pop-up, que acontecerá todo sábado, na janela do Manu. “É um restaurante que pode fazer pop-up em vários lugares. Por enquanto, ele vai fazer parte da nossa janelinha. A pessoa pode vir aqui, a gente vai servir com uma pegada um pouco mais confortável. É [como] uma brincadeira para nos fazer relaxar no sábado.”
O Manu, restaurante que levou a chef ao estrelato, reabre agora com apenas cinco mesas – não apenas durante a pandemia, mas para sempre. “O nosso setor sofreu muito. Agora é a hora de os chefs e empresários usarem a criatividade. Eu sou empresária, mas também sonhadora. O Manu é um sonho pra mim. Nunca desistiria dele, seria como você desistir de um filho. Então, a gente se reinventou de uma maneira um pouco diferente.”
A quarentena lhe trouxe muitos ensinamentos: o principal foi perceber como estava gastando seu tempo – em especial com relação ao trabalho. “Uma das coisas que percebi é que o restaurante é feito de pessoas – e as pessoas que trabalham comigo querem ter vida. Eu também quero ter vida. Agora eu vi que existe vida fora do restaurante. Eu não quero chegar em casa duas horas da manhã e também não quero que as pessoas que trabalham comigo cheguem.”
Nessa nova fase, Manu espera trazer mais energia e conhecimento aos clientes. “Quero poder trazer as pessoas para mais perto da terra, do produto, do produtor. Quero também poder curtir minha vida e minha filha. Quero conectar mais pessoas, poder passar mais informação e educação. Eu quero poder conectar mais as pessoas ao alimento, tentar fazer com que elas entendam mais sobre o comer.”
Outros projetos ainda ocupam a rotina da chef. O Mulheres do Bem foi criado no início do ano para servir comida às pessoas em situação de rua. Com a pandemia, a demanda aumentou e Manu continuou coordenando as ações e cozinhando em sua casa. No auge da crise, serviram entre 500 e 600 marmitas por dia. Lideraram, também, o Horta em Sucata, com o intuito de ajudar a implementar hortas em pneus, latas, potes de margarina e outros objetos que seriam jogados no lixo em lugares que não têm terreno. “A gente continua fazendo trabalho social, mas o mais legal é que, às vezes, a pessoa quer ajudar e não sabe como, então viramos um centro de conexão de pessoas.”
No ano que vem, uma nova operação chega a Nova Iorque. O Ella vem para mostrar ao mundo mais um pedaço do universo de Manu.
Confira outras quatro histórias inspiradoras que fazem parte da matéria principal desta edição.
*Matéria originalmente publicada na edição #242 da revista TOPVIEW.