ESTILO

Design do amor

por Camila Gino

Um dos pioneiros no Brasil a usar impressoras 3D para desenvolver produtos de design, o arquiteto Guto Requena resolveu usar sensores para medir voz, batimentos cardíacos e ondas cerebrais para captar as emoções de pessoas enquanto elas falavam sobre suas “grandes histórias de amor”.

A partir das linhas formadas, foram esculpidos objetos de design em impressoras 3D. Esse é o Love Project, experiência em curso pelo Guto Requena Estúdio, de São Paulo.

 

Coautoral
Para Requena, a tecnologia digital permite que se faça não apenas um design mais customizado, mas também coautoral, de modo a que o próprio usuário participe de sua elaboração. Ele é um dos expoentes da talentosa nova geração de arquitetos e designers brasileira e atua de forma pioneira com investigações sobre as possibilidades da tecnologia digital no design ao longo da última década.

Há quatro anos, Requena usa a tecnologia 3D em seu estúdio em São Paulo (SP), não apenas para prototipagem, mas para produção de peças que estão disponíveis no mercado comercialmente. Confira a entrevista exclusiva que ele deu à Top View:

 

TV – Com o avanço da tecnologia digital você acredita em uma produção de peças em tempo real? E também em uma nova experiência de compra?
Guto Requena – Com certeza. O importante é perceber que o consumidor final vai ser cada vez mais coautor. Vamos assistir a um momento em que tudo vai ser muito mais “customizável”, vai haver mais coautoria, autoria compartilhada. Será uma mudança de paradigma na história do design.

TV – Seria uma ´4ª revolução industrial´, como alguns vêm considerando?
GR – Sim, toda a lógica da indústria, do design, da distribuição e da venda terá de ser revista nos próximos anos. Posso enviar meu arquivo direto para um ponto de impressão do outro lado do planeta. Não é mais preciso transportar o produto. As pessoas vão ter acesso direto aos arquivos. Não vão necessariamente precisar de uma loja.

TV – Aonde estão sendo vendidas estas peças que você produziu com a impressora 3D?
GR – A cadeira Noize, vendo no Spazio Rossana Orlandi, em Milão, também na Coletivo Amor de Madre, aqui em São Paulo. Já viajei com ela para vários festivais e países. A Nossa Senhora Aparecida que desenvolvemos na experiência com a Cappellini [na Design Week de Milão no ano passado], vendemos pela marca. E agora estamos fazendo uma exposição grande sobre o novo design latino-americano no MET Museum, em Nova York.

TV – Do ‘Love Project’, como foi criar e imprimir objetos a partir da emoção das pessoas?
GR – O projeto envolve a criação de peças literalmente esculpidas a partir dos dados coletados das emoções das narrativas das pessoas. Para mim o interesse é usar a tecnologia de uma maneira mais sensível, mas humanizada. O futuro não é frio, muito pelo contrário, é a tecnologia aproximar o homem, em uma tecnologia mais orgânica.

TV – Como você vê o futuro com as tecnologias digitais?
GR – Teremos um design mais democrático, compartilhado e coautoral, com mais pessoas envolvidas na autoria do projeto, com o próprio cliente inserido na criação. Ele se torna codesigner. Um design mais um humano, caloroso. Pelo menos é o que eu tenho tentado fazer – visualizar este design.

 

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