Um tiquinho de saúde

Todo mundo tem um amigo que adora dar conselhos para que a gente seja mais saudável, não é mesmo? Há aquele que acha que não podemos pular o café da manhã porque é a refeição mais importante; outro que julga que o ideal é que a gente dê pausas no trabalho para o alongamento; um terceiro que proíbe completamente a ingestão de bebidas alcoólicas e por aí vai. Pois bem, se eu fosse a tal amiga conselheira, eu lhe sugeriria agora dois rituais de plena saúde: 1. Caminhar, de preferência por livrarias grandes e com estantes bem altas, porque aí você aproveita e faz alongamento também e 2. Ler poesia todos os dias, mesmo que seja apenas uma.

Ao cumprir o meu ritual, na última visita que fiz a Curitiba, passeava por uma livraria quando encontrei um cantinho de verdadeiros tesouros: uma seção exclusivamente para escritores do Paraná. Não é novidade que existe uma efervescência literária por essas terras, veja-se o caso de autores de peso como Dalton Trevisan, Paulo Leminski, Helena Kolody, Cristovão Tezza, entre outros ilustres. Ao mesmo tempo, é importante destacar a quantidade de novos autores que o Estado produz em ritmo contínuo, como é o caso do poeta Caibar P. Magalhães Jr., autor de Dizem Que Sou Palavroso. Lançado em 2014, é o segundo livro do também professor de língua portuguesa há 25 anos. Composto por poemas de diferentes formas – há narrativos, teatrais (próprios para serem declamados/encenados), e até humorísticos (lembrando uma vertente muito comum na literatura brasileira depois da Semana de Arte Moderna) –, o eu lírico revela frescor e leveza em sua construção poética.

Com relação aos temas, nota-se uma recorrência por motivos da mitologia grega postos em diálogo com o cotidiano mais banal, como podemos ver em “A música de Sísifo”: “A pedra quase alcança / o silêncio do alto da montanha. / Mas no fone de ouvido, / Rolling Stones”. Além da discussão em torno da própria linguagem que é capturada em diversos poemas, como neste trecho: “Esparramo aqui ali uma lágrima / e batizo de poesia”. Finalmente, como vemos no poema “A última do enforcado”, a ironia também marca presença e, não raramente, disfarçada de humor: “Naquele dia / ele levantou / com a corda toda!”.

De um poema a outro, há diversos encontros com os conteúdos do dia a dia: a Curitiba que se apresenta previsível em sua afirmação de chuva; a pescaria que não se faz em rio, mas nos olhos de quem se quer bem; os sonhos que preenchem as noites e os dias; e, por último (ou seria para começar?), a palavra que tem a sua vergonha despida, para a qual se pode “sussurrar bobagens no ouvido (…), / fazê-la ruborizar, / encher-lhe a bola, / toda faceira, / até ela virar um palavrão…”.

 

Cris Lira é mestre em Literatura Brasileira e estudante de doutorado na
Universidade da Geórgia, nos EUA, onde dá aulas de português. Email: clira@uga.edu 

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