Pilotando pela Patagônia

editado por Newton Gomes Rocha Jr., com reportagem de Daniel Batistella

Após ficar dois anos sem férias no Tribunal de Contas do Estado do Paraná, o conselheiro Fernando Guimarães se deu um presente: percorrer a icônica Carretera Austral, no Chile, antes que ela fosse totalmente asfaltada – mesmo motivo da viagem que fez em 2009 pela Ruta 40, na Argentina, outra desejada estrada entre os viajantes sul-americanos – e nela conhecer onde nasce a Cordilheira dos Andes. “Tem muita vegetação verde, rios de degelo e lagos em abundância, características completamente diferentes das que vi na viagem anterior”, explica.

Guimarães iniciou a viagem em Foz do Iguaçu, onde passou as festas de fim de ano. A empreitada envolvia um grupo de amigos amantes de aventura em sete motocicletas e uma camionete de apoio. “Fechamos nesse número porque muita gente poderia dificultar a dinâmica da viagem”, conta.

Todo tipo de terreno foi percorrido durante o trajeto de 11,7 mil quilômetros: desde autopistas até o rípio, estrada que mistura terra com pedras de vários tamanhos. Tudo isso carregando mais de 300 quilos: os 215 kg da moto Triumph Tiger 800 XC que pilotava e 90 kg de bagagem – entre roupas, objetos pessoais e equipamento fotográfico –, que teve apenas 20% do total usado. “Pretendo rever os conceitos. A cada viagem aprendo e espero que na próxima leve exatamente o que preciso”, diz.

Da aventura, Guimarães destaca o Paso Roballos, na fronteira entre Argentina e Chile. “Além de quase sem trânsito, o visual era lindo, com estradas rústicas e natureza exuberante”, conta. Do outro lado, o trecho mais complicado foi entre Puyuhuapi e Futaleufú, no Chile: 197 km de rípio com muitas obras, desvios, pedras soltas e não compactadas. “Demoramos 11 horas para percorrer este trecho, incluindo umas três horas parados para esperar uma detonação de pedras que caíram na estrada”, conta.

Eram percorridos 550 km por dia em média. Durante a viagem, mesmo pilotando ao lado do grupo de motociclistas, Guimarães viveu o tempo inteiro a experiência de estar sozinho dentro do capacete. E assim conversava com o iPod, brincava com a bússola, brigava com as placas. Com isso, percebeu que a sua tolerância aumentou: com o frio, com o calor, com o vento, com as pessoas em geral. “Motociclista também filosofa”, brinca.

 

Aos novatos, Guimarães diz ser fundamental saber que uma viagem dessas não é simplesmente turismo, mas um desafio. E elenca uma série de precauções, como estudar bem os trechos que serão percorridos, ler relatos de outros viajantes, saber sobre as condições climáticas e pensar nas distâncias para abastecimentos. E, principalmente, saber se está realmente disposto a enfrentar uma viagem dessas, com todas as dificuldades que ela possui: grande variação de temperatura, estradas esburacadas e com o rípio pouco compactado, chuvas torrenciais e vento forte em todas as direções. Para quem quer se aventurar, ele indica começar com trajetos mais curtos e aumentá-los gradativamente. “Não adianta fazer um percurso longo na primeira vez porque corre o risco de ficar desanimado”, enfatiza.

E as viagens vão continuar. No curto prazo, pensa em percorrer a Estrada da Morte, na Bolívia, e a Transoceânica, que liga o Brasil ao Oceano Pacífico, passando pelo Peru. Mais adiante, pretende ir e voltar do Alasca, sem fazer qualquer trecho de avião. “Essa vou ter de planejar por bastante tempo, é uma viagem de 90 dias”, diz. Isso sem contar que nos Estados Unidos pretende percorrer a icônica Rota 66. E retornar pra casa pelo litoral do Brasil. “Esse é o meu sonho de consumo”, finaliza.

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