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Vida a dois: menos glamour, mais realidade

Muitos casais acabam se desgastando por iniciarem uma relação achando que estão em um conto de fadas

Por que há em torno do casamento entre duas pessoas tanto glamour e tão pouco preparo? Por que estes sonhos se acabam tão rapidamente? Por que duas pessoas que resolveram viver juntos uma vida toda não suportam tal “juramento”?

Em minha experiência profissional atendendo casais ou parceiros individuais em busca de melhorar a si próprios para melhorar a relação, percebi que existem algumas atitudes que levam ao fracasso do relacionamento entre duas pessoas. Não se trata de exceções, grande parte destas atitudes é sabidamente negativa na relação inclusive interpessoal.

A primeira atitude que percebo como uma erva daninha ao relacionamento é que as pessoas não têm a mínima consciência de que adquiriram um “bem valioso”, sem a ilusão de que alguém é dono de outro alguém, a relação e os parceiros precisam de cuidados diários. Uma relação entre duas pessoas precisa ser nutrida com tentativas constantes de compreensão e superação. Sem cair no clichê da fala do Pequeno Príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, é mais ou menos isso. As relações entre parceiros necessitam de intenso cuidado entre as partes.

A segunda questão é o que eu chamo de posse: o que é meu e o que é do outro. Vidas distintas grande parte das vezes leva ao desligamento afetivo do casal, se não trabalhada por ambos. Questões ou decisões individuais repercutem na relação do casal. É necessário um grande exercício de equilíbrio, bom senso e aceitação quando apenas um viaja, trabalha durante a noite, ganha um salário muito superior, tem a posse dos bens materiais, fora todas as outras questões cotidianas como quem e como prepara as refeições, leva os filhos na escola ou cuida dos animais.

Dar o meu melhor, e não o meu pior é um item importante! Nosso parceiro precisa ser nossa prioridade. E não um resto a ser tolerado para cobrir nossas deficiências e questões mal trabalhadas. Além de tudo precisa ser nosso amigo, em momentos difíceis trocar de papel e ser nosso cuidador e poder nos acolher quando estamos doentes, por exemplo.

O excesso de críticas e a forma de manifestar opiniões também é importante. Muitas vezes é preciso esperar o momento mais adequado para discutir questões que geram raiva, discordância ou polêmica, divergências familiares, políticas, religiosas e esportivas. Quando houver perspectivas distintas, é necessária criatividade para encontrar formas de resolver o conflito e respeitar a opinião de cada um.

Faz parte do cultivo desta relação o perdão! Quando nossas palavras ou gestos ferem o outro, é imprescindível admitir o nosso erro e pedir perdão. E quando o contrário acontece, é preciso estar disposto a perdoar.

Quando ameaçamos o outro falando de separação ou começamos a fantasiar com a ideia de viver com outra pessoa, estamos destruindo nossa união em sua raiz. Muitas vezes é necessário rediscutir os contratos, combinados e a fidelidade.

Se percebermos que as discussões tomam o rumo do desrespeito é melhor que ambos procurem ajuda profissional. Muitos casais esperam muito e chegam com a relação tão desgastada que não é mais possível retomar. Ter a sensibilidade de tentar restaurar o equilíbrio o quanto antes é maduro de ambas as partes.

É verdade que temos certa tendência ao egoísmo, mas o casamento só funciona se soubermos superá-la. Se ambos os cônjuges estão dispostos a se amar com generosidade, colocando o bem do outro à frente do seu, então o casamento prospera. O relacionamento de casal não é um conto de fadas, mas o encontro de duas pessoas bem humanas. Se conseguirmos no dia a dia lidar com estes conflitos certamente seremos humanos melhores, com menos glamour e com mais experiência e maturidade.

*Texto por Ana Cassia Stamm 

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