Enquanto houver um Marlei Aparecido de Almeida, o táxi nunca vai acabar
Por Gabriela de Lara
Há quem considere Marlei Aparecido de Almeida um otimista. “O táxi nunca vai acabar”, profetiza o taxista de 49 anos e 28 de profissão.
“Tivemos que sair da zona de conforto para evoluir, criando um novo conceito de serviço”, reconhece Marlei sobre as mudanças nos últimos anos. A adaptação exigiu, por exemplo, atendimentos com aplicativos, além de encarar a profissão com ainda mais seriedade e profissionalismo.
Mais que isso, porém, é notável a satisfação com seu trabalho, que extrapola o característico tom austero de Marlei. “Encaramos o táxi como nossa profissão principal – e nisso não temos concorrência”, diz o experiente profissional na “arte de dirigir”, como elogiou uma de suas passageiras.
O elogio dos clientes é uma injeção de ânimo para o taxista, que passa boa parte do dia dentro do seu consultório móvel. “Os passageiros gostam de desabafar, porque o taxista é alguém que não conhece o outro lado da história”, conta.
“Mas a gente tem que aprender a ouvir, porque vem muita carga de energia negativa. Temos que administrar e não absorver”, receita sobre a profissão que requer mais do que experiência ao volante.
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Marlei chegou a Curitiba aos 17 anos, enfrentando jovem o desafio de viver aqui e as diferenças culturais – muito maiores que os 360 km que separam a capital de Santo Antônio da Platina, no norte do estado.
Hoje, domina ruas e ruelas sem depender de conexão à internet e confia em gentileza, honestidade e seriedade de trabalho para desafiar aplicativos e algoritmos.
Histórias de taxista (e de passageiros)
Apesar de hoje trabalhar durante o dia, Marlei prefere a vida noturna. Além da diferença no trânsito, os passageiros do terceiro turno normalmente já cumpriram suas obrigações do dia. Por isso, estão mais tranquilos e despreocupados com o horário, grande vilão das corridas durante o dia em locais de grande movimento.
Um lado da profissão que Marlei faz questão de ressaltar é o social. A relação constante com pessoas faz com que os taxistas recebam pedidos de ajuda de passageiros em situações difíceis. Como no dia em levou uma senhora que não podia pagar pela corrida ao hospital.
Contudo, é nessa hora que a gentileza e a honestidade – valores que Marlei aprendeu em casa e considera essenciais a um bom taxista – são então colocados à prova. “A sociedade desconhece o funcionamento do nosso trabalho e acaba não valorizando como deveria. Mas, ao final, somente os bons profissionais permanecem.”
Marlei está rodando as ruas há mais de 10 mil dias. Ainda assim, cada um deles é uma nova oportunidade para aprender com os passageiros. Além de ter contato com histórias e pessoas – algo que os pés no chão não lhe trariam como fizeram seus pés nos pedais do carro.