Ser você: uma felicidade possível
Qual é o caminho para a felicidade? Se fosse possível estimar o valor de uma pergunta, essa certamente estaria entre as mais caras. Em tempos de pandemia, inflação e crise econômica então, TOP 3 garantido. O escritor e palestrante Guilherme Krauss estuda o tema há anos, mas também não encontrou o pote de ouro no final do arco-íris. Ainda assim, o autor do livro Cartas para o recomeço, achou, sim, certos ventos em boas direções.
“A capacidade de amar aquilo que se tem e aquilo que se é, é a única forma de se atingir a felicidade. Se existe um caminho, ele mora aí”, sintetiza.
A ideia está ligada a outras reflexões, como a diferença entre o amor platônico e o amor aristotélico. No primeiro, coloca-se o amor como objeto de desejo, aquilo que ainda não se possui. “É a ideia de que eu persigo tanto porque é o que eu não tenho, achando que isso vai me preencher”, reflete Krauss. Já o aristotélico é a capacidade de amar o que se tem — a apreciação do que tenho, não o desejo pelo que falta. Atingi-lo é um processo para uma vida toda.
“Então ele [o amor] sempre vai existir, porque se sou capaz de amar o que tenho, vou ser feliz em qualquer situação, independentemente da condição externa.”
Em um cenário tão incerto, é difícil aplicar na prática. Por aqui, aliás, somos o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Para Krauss, dar mais atenção à qualidade dos pensamentos e olhá-los com carinho é um passo inicial. “Que tipo de pensamentos estou nutrindo? Preciso observar, porque muito do nosso sofrimento se dá pelo pensamento. O Dalai-lama diz que 90% do nosso sofrimento tem origem no sentido mental, não no externo”, explica. “A análise tira da zona de preocupação e, ao observar como um todo, vemos o que faz sentido, e encontramos outros aspectos. Costumo dizer que precisamos olhar as coisas por inteiro, não existe dor nem alegria absoluta.”
Mas tudo isso sem cair na positividade tóxica. A busca intensa por felicidade pode atingir o contrário, a infelicidade. “Nós, às vezes, romantizamos esse conceito. A felicidade com certeza é possível, mas não sem dor – a vida feliz e com bem-estar é uma com significado e em que estou bem comigo mesmo. E para atingir esse estado, preciso aceitar a realidade”, aponta. Em uma sociedade capitalista em que crescemos acreditando que a felicidade está na realização dos sonhos e objetivos, ela fica relegada ao futuro, o que pode ser insustentável.
“Se a felicidade está sempre um passo à frente, quando eu sou feliz? A vida é boa como ela é, não como poderia ser.”
3 livros para inspirar
Cartas para o recomeço
Guilherme Krauss
Contentamento
Dalai-lama e Desmond Tutu
O jeito Harvard de ser feliz
Shawn Achor
*Matéria originalmente publicada na edição 249 da revista TOPVIEW.