SELF

Sem tabu: sexo + 60

As mudanças no corpo acontecem, é claro, mas não ditam a qualidade das relações sexuais!

A sexualidade segue como um dos maiores tabus para os idosos. A imagem do idoso assexuado, que não tem desejo, persiste no imaginário social. “É o velho bonzinho e castrado”, recorda Letícia. “A sexualidade está muito relacionada à fertilidade da mulher e a ereção peniana do homem. Mas ela é muito mais do que isso, é uma energia de desejo e vida.”

A psicóloga ainda reflete que, com a idade, o desejo convencional pode até diminuir, mas existem outras formas de senti-lo. Como nessa fase as pessoas tendem a saber mais do que gostam e conhecer melhor o próprio corpo, as relações sexuais podem ser até melhores do que antes. “Vejo que eles exploram outras formas de sentir prazer na companhia do outro. Continua erótica, mas de outra forma”, ressalta. “Além disso, temos que lembrar que o idoso tem mais tempo para as relações íntimas do que quem está ativamente no mercado.”

A série aclamada da Netflix Grace e Frankie faz sucesso ao retratar esse cenário. As personagens, acima dos 70 anos, decidem criar uma marca de vibradores voltada para as mulheres da terceira idade — público que é esquecido nesse setor. Entre o preconceito e as barreiras que enfrentam para concretizar a ideia, discutem muitos aspectos importantes da vida, como as mudanças nas relações e comportamentos e as especificidades do sexo.

As mudanças no corpo acontecem, é claro, mas não ditam a qualidade das relações sexuais. O psicólogo e doutor em psicologia e sexualidade Adjuto de Eudes Fabri conta que, com a idade, os homens podem ter modificações no tempo da ereção, como ser menos rígida, e no intervalo entre uma e outra. “Essas situações impactam o homem, porque ele é visto, na sociedade, como aquele ser viril que tem que mostrar sua condição sexual com qualidade. Com a perda disso, ele pode ter dificuldades no vínculo com a parceira.”

Nessa fase, é comum os homens tentarem achar a culpa em fatores externos. Mas Adjuto alerta para a importância do entendimento da velhice e de que essas situações não são problemas, mas condições compatíveis à idade. “Sempre discutimos que o envelhecimento atinge toda a estrutura que envolve o ser humano — e isso também vai se aplicar no desempenho sexual”, ressalta.

Nas mulheres, a menopausa é um fator que traz várias alterações, como na lubrificação vaginal, devido a queda na produção do hormônio estrogênio. Mas, tanto para eles quanto para elas, há opções no mercado para atender essas demandas. “A busca de alternativas para [melhorar] a sexualidade não pode estar limitada ao ato sexual, mas ao envolvimento que os indivíduos venham a ter, a troca de carinhos e afetos”, lembra Adjuto.

O tabu que envolve a vida sexual de pessoas acima dos 60 anos pode tomar dimensões ainda mais sérias. O número de idosos com HIV cresceu 103% em 10 anos no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Especialistas indicam que a falta de políticas públicas e diálogo sobre o tema estão entre os principais fatores do aumento. A tendência é mundial: se nada for feito, em 2030, 70% da população idosa terá o vírus da Aids, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Precisamos de uma boa educação sexual para que o indivíduo pratique sexo com segurança, sinta-se bem e não tenha consequências desagradáveis”, indica.

SÉRIE
“Grace e Frankie”
Aos 70 anos, as personagens Grace e Frankie se veem unidas por um acontecimento: seus maridos revelam que estão apaixonados e planejam se casar. Elas, solteiras, repensam a vida e vão para caminhos que nunca imaginaram. Lançam uma marca de vibradores e debatem abertamente os tabus da idade.

SÉRIE
“O método Kominsky”
Na onda de Grace e Frankie, a série retrata a vida de dois amigos e debate as questões da velhice, desta vez do ponto de vista masculino. A série mostra, com diversão e um toque de drama, as aventuras (e desventuras) da rotina acima dos 70 anos.

*Matéria originalmente publicada na edição #232 da revista TOPVIEW.

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