SELF SAúDE

Como tratar a ansiedade sem ansiolítico

O Brasil é o país com os maiores índices de ansiedade no mundo. Conheça e entenda quando encarar práticas alternativas de tratamento

Está tenso por causa de uma entrevista de emprego, um fim de namoro ou uma viagem? Sente uma aflição constante? Será o caso de partir para os ansiolíticos? A TOPVIEW buscou respostas com especialistas em ansiedade, desde aquela tida como normal até a ansiedade patológica.

Segundo o psiquiatra do Hospital Santa Cruz, Luiz Fernando Petry, é comum o uso do termo “ansiedade” para descrever diferentes estados mentais e emocionais, mas a definição médica se refere especialmente ao medo e à preocupação excessiva. “A diferença entre normal e patológico está na frequência com que os sintomas ocorrem [por seis meses ou mais] e o quanto eles causam de sofrimento”. Para identificar se a ansiedade é patológica, a psicóloga Lurdes Ficanha avalia o prejuízo do paciente. “A pessoa deixa de fazer coisas que fazia, de ter prazer no que tinha ou enfrenta dificuldades no trabalho e nos relacionamentos”, afirma Lurdes.

Dependendo do grau de ansiedade, o tratamento pode ou não incluir o uso de ansiolíticos ou combiná-los com alternativas psicoterapêuticas. Em seu artigo “Da Revolução ao Uso e Abuso de Ansiolíticos”, o psicofarmacologista da Universidade de São Paulo, Roberto DeLucia, conta que, desde a década de 1960, quando aconteceu a chamada “Revolução dos Benzodiazepínicos”, muitas empresas farmacêuticas passaram a desenvolver compostos derivados dessa estrutura química e os ansiolíticos se popularizaram em todo o mundo. Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) dão conta de que mais de 3% da população brasileira entre 12 e 65 anos já fez uso desses medicamentos.

“Muitos indivíduos usam abusivamente os ansiolíticos para lidar com situações estressantes em atividades cotidianas, na tentativa de solucionar problemas”, alerta o psicofarmacologista. O principal dano causado pelo uso excessivo é a dependência química. O uso de remédios acontece nos casos mais graves, sempre sob supervisão médica. “Mas é possível associar o tratamento com práticas que ampliem a qualidade de vida, tanto nos casos patológicos quanto naqueles que apenas colocam o organismo em alerta porque algo vai acontecer”, diz a psicóloga clínica Francielly Peron.

Seis técnicas alternativas para cuidar da ansiedade

Aprenda a dizer “não”: “muitas pessoas têm dificuldade na comunicação (não sabem dizer ‘não’ ou pedir ajuda, por exemplo) e isso gera ansiedade. São casos a serem tratados na psicoterapia”, diz Peron.

 

 

 

Organize a agenda: para o ansioso, é importante que os compromissos pessoais e sociais sejam organizados com espaço de tempo suficiente. Outra dica é ter atividades extras na rotina, como hobbies que tragam distração e prazer.

 

 

 

Exercícios físicos: a atividade física é uma das mais recomendadas pelos médicos e psicoterapeutas. Petry destaca ainda o relaxamento muscular progressivo, que consiste em tensionar e relaxar vários grupos musculares de forma repetida.

 

 

 

Mindfulness e positividade: Ficanha recomenda a prática da positividade, gratidão, relaxamento e técnicas mindfulness (com exercícios de concentração e meditação). “Há também treinos para substituir a negatividade por pensamentos mais saudáveis.”

 

 

 


Respire:
existem muitos exercícios para controlar a respiração, que costuma ser afetada pela ansiedade. Eles podem ser realizados a qualquer momento, em qualquer lugar, reequilibrando o sistema respiratório.

 

 

 

Acupuntura, massoterapia e fitoterápicos: a médica Mariana Franco Ribeiro destaca resultados positivos com a acupuntura, a massoterapia e os tratamentos herbais. “Homeopáticos e fitoterápicos também têm demonstrado eficácia, mas ainda sem evidência científica completa.”

 

 

 

 

Ansiedade na infância: um alerta

 

A ansiedade se torna cada vez mais frequente entre as crianças e, segundo a médica da família e professora da Universidade Positivo, Mariana Franco Ribeiro, esse quadro se deve à mudança no estilo de vida das famílias. Entre os “gatilhos” para a ansiedade infantil, estão a corrida contra o tempo, a cobrança nos estudos, a escassez do lazer em família e a inclusão cada vez mais precoce das crianças nos problemas da vida. “A presença intensa da mídia digital e a influência do consumismo infantil também são agravantes”, completa Mariana.

A médica alerta que a ansiedade precoce aumenta o risco de desenvolvimento de outros transtornos na vida adulta (como esquizofrenia, bipolaridade e psicoses), além do suicídio. “Ainda não temos muitos estudos sobre o uso de psicofármacos no tratamento de ansiedade em crianças. Então, quando ela é muita elevada, é fundamental consultar um psiquiatra”, sugere a psicóloga da Paraná Clínicas, Priscila Ribas.

Atuar na prevenção é uma das principais estratégias. Francielly Peron sugere evitar brigas perto das crianças, cumprir o que se promete e evitar punições desproporcionais. A psicopedagoga Deyse Campos faz outro alerta: sempre conte para a criança algo que vai acontecer. “Isso é penoso, porque ela percebe a movimentação ao redor. E pior: não ensina a criança a viver aquela ansiedade normal”, explica.

Se a família vai fazer uma viagem, por exemplo, vale apresentar um calendário, mostrar como o tempo vai passar. “Criem tarefas para fazer juntos como forma de todos participarem desse evento”, sugere Deyse. Se mesmo assim a ansiedade começar a surgir, os adultos podem ajudar com paciência e acolhimento. A especialista em terapia cognitivo-comportamental da infância Ronit Mazer Sauerman recomenda abraçar e acolher a criança, aceitar que ela sinta medo (pois é normal) e estimular que expresse o que sente.​

Dica de leitura

 

Meus Tempos de Ansiedade
Scott Stossel
Trad.: Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra
Companhia das Letras
O jornalista une relato pessoal, ciência e história para tentar compreender a ansiedade em diversas dimensões.

*Matéria publicada por Bianca Smolarek originalmente na edição 208 da revista TOPVIEW.

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