SELF

Produtos de higiene íntima para todas: conheça o Projeto Maria

O acesso a produtos sanitários deve ser um direito, não um privilégio

Arrisco dizer que, pelo menos uma vez ao dia, cruzamos caminhos com os moradores em situação de rua desta cidade. Ao vê-los, conseguimos relacioná-los, quase que involuntariamente, à imagem da miséria, fome, falta de higiene e vulnerabilidade. No entanto, uma situação de grande importância, particularmente, acaba por passar despercebida ao notarmos essa população: as mulheres em situação de rua. Além de enfrentarem problemas diferentes daqueles dos moradores de rua que são homens, como a violência, as agressões sexuais e a gravidez, as mulheres em situação de rua carregam consigo uma “pobreza menstrual”. Assim, vejo a importância do Projeto Maria.

Esse termo refere-se à ausência de acesso aos produtos para higiene, por falta de recursos financeiros. Afinal, se essas pessoas mal têm dinheiro para comprar comida, como vão adquirir absorventes, por exemplo? Foi justamente pensando nessa situação que a estudante de Design Rafaella de Bona desenvolveu o seu trabalho de conclusão de curso, da especialização em Design – Soluções de Impacto no Mundo.

Com foco na erradicação da pobreza e depois de muita pesquisa, Rafaella chegou à conclusão de que coletores menstruais, calcinhas absorventes e absorventes externos são inviáveis para as moradoras de rua – que não têm onde higienizar os produtos e, muitas vezes, nem mesmo usam calcinhas. Um insight grandioso surgiu para a estudante, quando ela observou, em um vídeo, uma moradora retirando o algodão de um absorvente externo e o enrolando para que virasse um absorvente interno.

“A partir desse ato, me veio a ideia de fazer um rolo de absorvente do qual se destaca um pedaço necessário e, ao enrolar, cria-se o absorvente interno”, conta Rafaella. Dessa forma, foi desenvolvido o Projeto Maria, um produto de higiene íntima feminina que se adapta às condições das moradoras de rua de forma muito prática. Feito de fibra de banana, o absorvente pode ser personalizado de acordo com o fluxo de cada mulher. Além disso, por ser constituído de um material biodegradável, o produto poderá ser descartado com mais facilidade.

Com esse produto, Rafaella foi uma das 91 premiadas, entre mais de 9 mil projetos inscritos no mundo inteiro, no concurso alemão iF Design Talent Award 2019. Dos 13 projetos de brasileiros inscritos, ela foi a única a levar o prêmio para casa. Com a proporção que o Projeto Maria ganhou, a estudante de Design pretende desenvolver o primeiro protótipo, para testes e ajustes. Diante de tantas situações de intolerância com o próximo e das crises humanitárias que habitam o país, é importante destacar atitudes de jovens pesquisadores que estão mudando o mundo, trazendo a esperança de que, podemos, sim, abraçar causas e contribuir para a população que vive em desigualdade social.

*Coluna originalmente publicada na edição 229 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário