Os desafios da mudança
Com a crescente da população acima dos 60 anos, mantém-se igualmente alto oageismo (ou idadismo), termo que denomina a discriminação etária. O ageismo fica nítido na conotação negativa dada a temas ou características relacionadas a pessoas mais velhas. Vemos grandes exemplos na indústria da beleza, que tem padrões joviais e muitas vezes excludentes às peles e belezas maduras.
A relação com o trabalho é outro caso, em que o idoso, sem produzir no sentido capitalista de mercado, é visto como um “peso” para a sociedade. “A questão da produtividade pesa muito para os idosos. Dentro de uma sociedade capitalista, foi construída historicamente a ideia de que o trabalho dignifica o homem. Temos essa ética do trabalho. A partir do momento em que a pessoa para de trabalhar, fi gura a imagem de que ela torna-se improdutiva e inútil”, explica a socióloga Marisete Teresinha.
“Ainda parece que estamos longe de nos preparar para o envelhecimento
— e ele está batendo na nossa porta.”
Essa imagem da velhice como última idade e o idoso como um “peso” predominou até os anos 70. Depois começou o esforço para criar a visão da velhice como melhor idade, fase de novas possibilidades para desenvolver projetos, participar de outros grupos.
É nesse cenário que acontece o envelhecimento patológico, em que a pessoa não aceita a própria idade — e comumente desenvolve doenças mentais (como a depressão e ansiedade) relacionadas a esse descontentamento. O envelhecimento se torna um peso e não um momento de alívio e tranquilidade.“Os sintomas comuns da não aceitação do envelhecimento são a negação do corpo, quando a pessoa busca procedimentos cirúrgicos para ter uma aparência mais jovial do que sua idade cronológica”, aponta Leticia.
As políticas públicas
Por mais que a longevidade tenha entrado na pauta dos governos e da sociedade como um todo, ainda há muito para ser feito. Marisete percebe que, no Brasil, ainda não estamos preparados socialmente e nem em termos de aplicação das políticas públicas. Nota isso em momentos básicos: nas filas, assentos e vagas preferenciais, nas ruas, calçadas e semáforos. “Ainda parece que estamos longe de nos preparar para o envelhecimento — e ele está batendo na nossa porta.”
A mestra em gerontologia e ex-coordenadora da Política Nacional do Idoso Jurilza Mendonça percebe um hiato entre o papel, o planejamento, e a prática. “Normativos já temos bastante, o que precisamos é tirar do papel. Precisamos assegurar recursos para implementar essas políticas”, assegura. E ainda defende que, para isso, é necessário ter uma pressão da população e das instituições de idosos para mostrar o peso que eles têm — em especial nas eleições.
*Matéria originalmente publicada na edição #232 da revista TOPVIEW.