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O som das redes sociais

O Tiktok e o instagram vêm ditando quais são os melhores sons do momento – e isso não é uma coincidência

“Y no te voy a envolver.” Quem não conhece a primeira frase do refrão da bombástica música de Anitta, certamente, não está muito conectado com as músicas mais tocadas do mundo no último ano. Envolver alcançou o 1o lugar no ranking das músicas mais ouvidas do mundo em março de 2022, segundo o Spotify. O feito foi tão grande que nunca uma música teve tantos plays em um único dia no Brasil pela plataforma.

O sucesso da cantora brasileira foi uma junção de fatores relevantes para que houvesse um crescimento substancial. No entanto, o fato de a canção ter “estourado” na internet foi um dos grandes motivos para que ela tivesse tantos ouvintes. A dança executada por Anitta no clipe, por sinal, também viralizou nas redes sociais – principalmente no TikTok.

Para entender melhor o fenômeno da relação entre as redes sociais e a indústria musical, a equipe da rede social contratou a MRC Data e a Flamingos – grupos independentes de pesquisa e análise – em 202, a fim de compreender melhor essa influência.

Segundo a pesquisa, 75% dos usuários da plataforma dizem que descobriram novos artistas por meio dela. Essa mudança no consumo do público já foi percebida por diversos profissionais do ramo – até mesmo por aqueles que estão há duas décadas na área. Esse é o caso do produtor musical Nico Braganholo, responsável pela produção do hit Acorda Pedrinho, da banda curitibana Jovem Dionísio, e de diversos outros sucessos. Ele explica o quanto a digitalização mexeu na indústria da música: “Eu peguei o início da revolução digital, quando a produção parou de ser analógica. Além disso, vi as plataformas de streaming entrarem no mercado – que, até então, funcionava de forma diferente –, e agora é mais democrático”, conta.

Na visão de Nico, a relação entre as redes sociais e a indústria musical é positiva. “Hoje, com o TikTok, o artista consegue furar esse bloqueio [das gravadoras], como é o caso da banda Jovem Dionísio, que estourou na plataforma”, exemplifica.

No entanto, as redes sociais não são apenas uma ferramenta de divulgação de músicas. A produtora artística Luiza Machado, que participou da produção do álbum Assim Tocam os MEUS TAMBORES, do músico Marcelo D2, explica como o projeto foi feito pelas redes sociais Twitch – plataforma de streaming de vídeos e jogos – e Discord durante a pandemia de Covid-19.

Foto: Alex Carvalho | Divulgação.

No início dela, muitas lives começaram a ser feitas pelos músicos, a fim de levar entretenimento para as pessoas dentro de suas casas. Por isso, Luiza e Marcelo decidiram produzir o álbum por meio de transmissões colaborativas no Twitch. Ao todo, foram mais de 100 horas ao vivo para produzir o álbum. “Esse trabalho teve muita relevância, porque abriu o processo criativo do Marcelo [para o público]. Esse foi um meio de desmistificar o processo, porque não é um bicho de sete cabeças. Há uma mania de colocar a arte em um lugar inalcançável, mas a arte é para todo mundo”, afirma ela.

Além de revelar esse “segredo”, o músico compôs a letra de uma música com os fãs que estavam no chat da live. “Eu fui anotando frases importantes que pudéssemos usar e o nome das pessoas, para pegarmos a autoria depois. Também tiveram vários beats, como o do Barba Negra, que foram enviados por lá e entraram no álbum”, relembra Luiza.

Por fim, a produtora aponta o quanto as redes sociais são importantes para a democratização do conteúdo artístico: “Cada vez mais pessoas têm acesso à internet. Então, essa é uma ótima forma de democratizar a arte.”

Artista que só quer Tiktok

De fato, há artistas que criam suas produções pensando apenas na viralização que suas músicas podem vir a ter nas redes sociais. No entanto, segundo Nico, essa não é uma boa estratégia. “Existem artistas assim, mas eu não acredito que esse seja um caminho saudável, porque não há garantias de que isso dê certo. Além disso, eu vejo que o público exige verdade do artista. Se ele tentar emplacar coisa fake, não vai dar certo. Pelo menos nunca vi isso acontecer”, analisa.

Por isso, ele não foca a viralização em suas produções. “Eu sempre busco trabalhar com artistas que trabalham para expressar suas verdades, não os que tenham a preocupação de chamar atenção”, conclui Nico.

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