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Jandira Tozone é a “Vó do Amor”

O trabalho com moradores em situação de rua aquece o coração de Jandira há 20 anos

Eu estou sempre em algum lugar, porque em qualquer lugar tem um neto precisando de um aperto de mão, de um abraço, um sorriso, um carinho”, me contou Jandira Tozone, em uma conversa calorosa. Tudo começou no Cavalo Babão. Vó Jandira, como é conhecida pela comunidade, trabalha em ações com moradores em situação de rua há 20 anos.

A enfermeira aposentada é viúva, tem dois filhos, dois netos de sangue e muitos “netos de consideração” – como costuma chamar todas as pessoas que encontra pelas ruas. Dona de uma rotina agitada, Vó Jandira só fica em casa na segunda-feira de manhã. Nos outros dias, ela pode ser encontrada em praças, favelas ou visitando pessoas doentes. “São muitos lugares em que eu passo, sempre segurando na mão de Deus e dos meus netos.” Impressionante como o tempo não passou para ela, que está sempre feliz e motivada a ajudar o próximo.

“A fábrica de abraços da vó não acaba nunca.”

O medo de entrar em lugares desconhecidos não existe. Vai chegando aos pouquinhos, conhecendo, conversando e, quando percebe, já conseguiu conquistar a confiança e o carinho de todos ao seu redor. Quando perguntei a ela se os filhos não ficam preocupados quando ela entra nas favelas, respondeu-me de prontidão que sim, mas logo defendeu que “não é perigoso: onde está Deus e meus netos eu estou seguindo, não se preocupem.”

A marca registrada da vó é sempre usar um chinelo de cada cor – e o motivo, surpreendente. “Há 20 anos, no dia do meu aniversário, um morador de rua queria me dar um presente. Ele foi até uma lixeira, achou um chinelo de dedos e trouxe-o pra mim, aquele chinelo muito sujo. Daquele dia em diante, eu nunca mais consegui usar chinelo do mesmo par, igual.” Vó Jandira me disse que já viu diversos netos saírem das ruas. O problema é que, depois do tratamento, eles não possuem acompanhamento e voltam para as ruas, onde têm acesso a tudo aquilo que os prejudicou.

Em uma das diversas histórias que me contou, diz que foi visitar uma comunidade e ouviu de um morador: “a senhora chega e abraça todo mundo? A senhora é a vó do amor? Então a gente quer pedir pra senhora que dê um abraço em nós.” Ela, com toda a sua pureza e o seu afeto, respondeu: “a vó tem muitos abraços. A fábrica de abraços da vó não acaba nunca.” Sorte a nossa poder ter a Vó Jandira Tozone, que faz tanto com tão pouco. Vó Jandira é sinônimo de esperança dentro dos mais puros corações. 

*Coluna originalmente publicada na edição 230 da revista TOPVIEW.

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