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O ouro brasileiro

Eder Jofre, o "Galo de Ouro", é um dos grandes nomes do boxe mundial e destaca a beleza do esporte

“DIN DIN DIN”. O som do gongo, um dos preferidos de Eder Jofre, ex-pugilista brasileiro que foi tricampeão mundial de boxe. Com 85 anos, o astro do esporte coleciona lutas históricas e uma carreira mundialmente reconhecida. De acordo com o genro, Antonio Oliveira, e a filha, Andrea Jofre, foram 81 lutas, 75 vitórias (51 delas por nocaute), 4 empates e apenas 2 derrotas.

Eder abriu as portas do boxe brasileiro para o mundo e fez com que muitos brasileiros enxergassem a beleza do esporte. Tamanha a sua história que o “Galo de Ouro”, como é carinhosamente conhecido, segue reverenciado por grandes astros do esporte, como Mike Tyson, famoso pugilista estadunidense. Sendo o único brasileiro a ser colocado no Hall da Fama do Boxe, Jofre foi considerado pela “The Ring”, revista especializada em boxe, como o melhor pugilista da década de 1960, à frente de Muhammad Ali, que ficou na 2ª colocação.

(Foto: reprodução)

No entanto, apesar de sua gigante história, o pugilista sofre hoje de Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma degeneração progressiva de células cerebrais causada por diversas lesões na cabeça. “Por conta da região que ele foi impactado, Eder não consegue se lembrar muito bem dos acontecimentos mais recentes. Coisas de 40 anos atrás ele se lembra, mas, do que aconteceu semana passada, ele tem dificuldade”, afirma o genro, que sabe toda a história do pugilista. Ele ainda desenvolveu parkinsonismo e, por isso, não consegue verbalizar seu raciocínio.

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O galo de ouro

De acordo com Antonio, Jofre falava que, provavelmente, sem o seu pai, sua carreira não teria tomado o rumo que tomou. Conhecido como “Kid Jofre”, o pai de Eder foi seu primeiro treinador. O pequeno prodígio calçou o primeiro par de luvas aos quatro anos de idade e, seguindo os conselhos do pai, seguiu na carreira como profissional.

“Ele era um atleta muito técnico, lutava de forma muito elegante. E tinha a vantagem de ter o pai como treinador, porque o jogo do Kid era muito inteligente. Naquela época, não tinha como estudar as lutas do seu adversário antes, como é feito hoje, porque a transmissão era feita por rádio. Então, o treinador estudava o oponente nos primeiros rounds e passava tudo para o Eder colocar em prática nos próximos. O segredo era: o pai percebia muito rápido e o Eder era disciplinado para seguir as orientações.  Uma equipe de dois”, afirma Antonio.

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Uma das curiosidades sobre Eder é que, indo contra o que muitos acreditavam na época em relação à alimentação, o ex-pugilista se tornou vegetariano aos 19 anos. “Ele leu em um livro que a carne ficava não sei quanto tempo no corpo e viu que isso não era benéfico. Decidido do jeito que era, ele parou de comer carne na hora, o que era muito diferente na época, já que todos acreditavam no valor da carne, ainda mais para um atleta de luta”, relembra o genro.

As luvas pelo caminho

O tricampeão mundial parou de lutar aos 40 anos. O genro garante: “Ainda em alto nível, o que é impressionante se comparado ao número de lutas que Eder lutou”. No entanto, houve algumas lutas que marcaram a carreira do pugilista. Em 1960, quando Eder ainda não era campeão mundial, o pugilista lutou contra o mexicano Joe Medel em uma luta eliminatória para a disputa do título mundial. “Foi uma luta difícil, o oponente era extraordinário. O único azar dele foi ter esbarrado com o Eder. Se não, ele teria sido campeão mundial”, conta o genro.

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O mexicano quebrou o nariz de Eder no meio da luta e, quando Jofre conseguiu aplicar um golpe na cintura do oponente que o deixou cambaleando, o gongo tocou e o tricampeão viu sua chance de vencer a lutar ir embora. “Ele foi para o canto do ringue e disse para o pai que não aguentava mais, que aquela tinha sido sua única chance de vencer o mexicano, No entanto, Kid falou ao filho que ele poderia vencer a luta se não deixasse que o mexicano o acertasse mais. Ele ficou cheio de moral e na primeira oportunidade que teve colocou uma de esquerda e duas de direita que fez o oponente cair para frente. Quando ele percebeu, depois, que venceu aquela luta, ele pensou: se passei por isso, eu posso ganhar de qualquer um”, relata o genro, de acordo com as próprias palavras de Jofre.

Com muitas lutas históricas que fizeram o público vibrar, o maior legado, segundo a própria família, é abrir as portas do boxe brasileiro ao mundo. “Aqui no Brasil, quase todos os lutadores creditam suas carreiras ao Eder, e começaram a lutar porque ouviram falar da história dele. Ele é um gigante para a história do esporte brasileiro, assim como Pelé”, conclui Antonio.

Sobre boxe

Filme
10 Segundos para Vencer
José Alvarenga Jr

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Livro
Muhammad Ali: Uma Vida
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*Matéria originalmente publicada na edição #261 da revista TOPVIEW.

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