Artigo: a força da resiliência em situações de crise
Estamos apreensivos. Reservas financeiras preocupam. Demissões, poucas oportunidades de trabalho e a ansiedade acompanhada de seus distúrbios e síndromes variadas nos tiram o sossego e a alegria.
Estes são os resultados de uma pandemia que trouxe além de novas rotinas, um estado de alerta que nos sensibiliza. Muitas vidas foram interrompidas e ainda lidamos com o total despreparo do poder. Seja político ou de interesses múltiplos.
Esta sensação de grande desconforto nos é conhecida, mesmo que em menor grau. Facilmente, é possível recordar o grande estresse provocado pelo ritmo frenético do trabalho de até pouco tempo. Múltiplas e incessantes mudanças, e consequentes variações na vida cotidiana.
Novamente, experimentamos alterações gritantes em nossos comportamentos. E, muitos de nós, estamos de novo à mercê do que, teoricamente, não se controla, como por exemplo, as alterações advindas do exterior. Estas que abalam a nossa estabilidade e satisfação íntima. Não vejo melhor momento para indicar dois livros, que ajudam a perceber a força e a influência do ambiente exterior em cada um de nós. Um deles é o “Em busca de sentido” de Viktor Frankl e o outro é “Perdas necessárias” de Judith Viorst.
Vale registrar que há pouquíssimo tempo, a famosa e temida Síndrome de Burnout, caracterizada pelo esgotamento físico e mental, acometia profissionais durante as rotinas frenéticas de trabalho. O adoecimento acontece em 10 fases: dedicação intensificada; descaso com as necessidades pessoais; recalque de conflitos; reinterpretação de valores; negação de problemas; recolhimento e aversão a reuniões; despersonalização; tristeza intensa; colapso físico e emocional e o famoso estado de emergência.
Sabemos que a revolução digital e suas disrupções já se anunciam, com grandes mudanças e incertezas. Estas que surgiram muito antes da epidemia de Covid-19, e que evidenciam as “skills” imprescindíveis para o avanço de um novo tempo.
Quem não conhece o conjunto de habilidades necessárias para a prontidão profissional? Ele é composto pelo alto nível de conhecimento digital, aptidões cognitivas de alto nível como o senso crítico, a empatia, a inteligência emocional e o controle das emoções, e ainda pelas capacidades de avaliação, decisão, colaboração e criação. Também se incluem o potencial de adaptabilidade e seus desdobramentos, como a capacidade de estar e responder a ambientes desconhecidos e ameaçadores em demandas diferentes em um curto espaço de tempo, sem comprometer a habilidade de voltar ao estado emocional normal. E por fim, a competência que nos proporciona maior robustez e saúde mental, a resiliência.
Recheada pelo otimismo, flexibilidade e habilidade para lidar com o “estresse nosso de cada dia” e de dias incertos. Essa habilidade comportamental funciona como uma mola, que volta rapidamente ao seu estado normal e não se deforma.
Descrevo teoricamente a construção de um possível desenvolvimento da resiliência. Simples como uma receita de bolo. Mas, quem disse que com a receita em mãos, qualquer um faz um bolo? Para isso, é necessário entender como os elementos combinam, em que ordem e tempo funcionam para cada um e, sobretudo, desenvolver a prática de incorporar ao dia a dia o que realmente faz sentido. É essencial refletir sobre qual é a forma particular de apreender. Dessa forma, a naturalidade do conhecimento e da postura adquirida se apresentam espontaneamente.
A proposta é compreender que o aprender e o experienciar aumentam a nossa resiliência e capacidade de detectar de que maneira velhos modelos mentais podem estar bloqueando o nosso caminhar.
Vamos lá! Aceitar as mudanças, tornar-se um aprendiz contínuo, assumir o controle, encontrar o sentido do seu desenvolvimento, prestar a atenção em si mesmo, cultivar sempre novos relacionamentos e refletir, são ações que podem promover a aprendizagem, criar novas perspectivas e aumentar a autoconsciência. Ainda é importante não se esquecer de sempre adquirir novas habilidades.
Em sequência, registro um simples e humilde paralelo do trabalho que desenvolvo em tempos permeados pela crise provocada pelo novo coronavírus em nossas vidas.
Como headhunter, trabalho no desenvolvimento de executivos em ambientes desconhecidos e, na maioria das vezes desafiantes, o que pode acabar promovendo a presença do estresse e da ansiedade. Alterações de comportamento também podem se fazer presentes. As fases seguintes se desenham em um processo de construção.
Inicialmente, se instala uma confusão inicial, onde as pessoas buscam por uma direção ou orientação. É o momento onde as emoções variam do medo à indiferença.
Na sequência, há a aceitação da nova realidade como algo transitório, talvez passageiro, reinando a incerteza. A percepção é que tudo se resolva no curto prazo.
Passa então, a existir a necessidade de aceitar a situação para se adaptar. Posteriormente, registra-se o preparo para responder ao novo. As pessoas entendem o impacto e vislumbram a mudança no longo prazo.
Finalmente, na conclusão do ciclo deste processo, percebe-se a construção de um novo universo. O que chamo de “retomada”. Do desconhecido ao crescimento. Neste momento as pessoas possuem visão e objetivos claros. Tornam-se, novamente, protagonistas de suas vidas e carreiras.
É vital ter a clareza de que a crise vivenciada hoje, representa mudanças de longo prazo. Haverá, cada vez mais, rupturas nos modelos existentes e a criação de novos modelos. Conteúdo é o novo marketing.
O mundo digital veio para ficar. Vivenciamos em passos largos a chamada “Economia da Distância”, que é caracterizada pelo atendimento remoto, estabelecimento da simplicidade e confiança, e ainda pela possibilidade do home office em várias modalidades, dependendo do segmento de cada negócio.
É importante registrar que toda crise gera mudanças de comportamento. Portanto, permaneça tranquilo, pois estamos escrevendo uma nova história na humanidade. Cuide muito bem de você, pois emoções malcuidadas impactam a saúde. Seja bem-vindo a bordo da resiliência!
*Escrito por Efigenia Vieira – headhunter e CEO da Upside Group