Um tempo sagrado

Encontrar o equilíbrio entre trabalho, família, amor e sucesso é o desafio da maioria de nós. Mas cada um precisa domar suas próprias feras. Então, não há fórmula pronta. Quando se é jovem e ambicioso, a vida ganha uma intensidade que nem sempre conseguimos conter.

Casei-me aos 28 anos e, naquela época, estava empreendendo e trabalhando em alta velocidade. Os dias eram de muito investimento pessoal na empresa que deu início ao Grupo Ric. Também iniciava minhas atividades em TV por assinatura – a antiga TVA – e na educação a distância – com a DTCom. Conforme os negócios cresciam, eu enfrentava um trabalho cada vez mais exigente, incluindo deslocamentos frequentes para São Paulo e, pouco mais tarde, por todo o país.

Infelizmente, a pressão profissional afetou meu tempo com a família. Embora tentasse conciliar os compromissos com a minha esposa e os meus filhos, enfrentei muitas dificuldades e nem sempre pude estar próximo deles. Percebo que perdi momentos preciosos com o Eduardo e o Mário – hoje com 31 e 26 anos, respectivamente. Especialmente em relação ao meu segundo filho, passei mais tempo na estrada do que desejava.

A pressão da vida não nos deixa avaliar corretamente o que significa o tempo não vivido, as descobertas de meninos, as pequenas surpresas no olhar. Esse é o tempo que não volta, que precisamos depositar na coluna dos débitos e buscar compensações quando possível.

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O apoio fortíssimo de minha esposa, Karla, contribuiu significativamente para que eu encontrasse maneiras de estar presente. Uma delas foi priorizar os fins de semana – compartilhados em dias exclusivos de atividades em família. Também criamos uma tradição muito particular de aproveitar as viagens – especialmente no fim do ano – para desaparecer da rotina em destinos afastados dos centros urbanos. Nos últimos 10 anos, temos explorado aventuras como escaladas e velejadas e conhecido destinos inóspitos – como o Parque Torres del Paine, na Patagônia, o Deserto do Atacama, no Chile, e as ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico.

Outra inspiração veio do exemplo do meu pai, que viajava de segunda a sexta, mas estava sempre presente no nosso dia a dia. Telefonava diariamente para minha mãe e para os filhos e dedicava a nós seus fins de semana animados e divertidos.

As imersões em família têm me permitido conviver e participar de forma mais intensa da vida da minha esposa e dos meus filhos. Mudar de comportamento fez com que outra prioridade entrasse na minha lista preferencial: o espaço para o ócio. Aprendi que ele é fundamental para o desenvolvimento pessoal e para nutrir relacionamentos significativos. Momentos de descanso e de lazer liberam energia para a saúde física, mental e emocional.

Mais ainda: nesse recolhimento, aprendo a estar mais em sintonia comigo mesmo, a desenvolver a espiritualidade por meio da meditação e de incursões mais íntimas – e tudo me remete à busca do equilíbrio.

A verdadeira riqueza reside na harmonia entre todas as áreas de nossa vida. A maturidade mostra que há tempo para tudo, inclusive para aprender a respeitar o fato de que o tempo é um recurso limitado. A escassez deve impor qualidade ao tempo disponível. Atenção, carinho e verdade geram as conexões que nos tornam família, mesmo quando estamos distantes.

Meu sentimento inicial de culpa hoje dá lugar à certeza de que cumpri a missão de pai com o melhor que pude dar de mim. Na companhia da Karla, construí uma família muito especial, com dois filhos maduros e preparados para a vida, que são fruto do tempo amoroso que dedicamos a eles.

*Matéria originalmente publicada na edição #276 da revista TOPVIEW.