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Como a ONG Gerando Falcões está transformando a pobreza das favelas em peças de museu

Alex dos Santos – conhecido como “Lemaestro”, seu nome artístico no rap – não escreve letras sobre ostentação, dinheiro ou luxo, mas, sim, sobre o poder da educação e dos estudos. Lemaestro passou a dar palestras com o empreendedor Edu Lyra em escolas da região de Poá, São Paulo. Desses encontros, surgiu a Gerando Falcões, uma ONG com foco em iniciativas transformadoras para levar desenvolvimento profissional e social a jovens de favelas.

(Foto: Divulgação)

O programa, que em 2021 completa 10 anos, cresceu e expandiu suas iniciativas para todo o Brasil. Hoje, já são 1.545 favelas e mais de 205 mil pessoas impactadas pela Gerando Falcões. Com capacitação de jovens e resultados em longo prazo, a missão dos fundadores é clara: fazer com que a pobreza seja erradicada das favelas antes de Elon Musk colonizar Marte. Com capacitação cognitiva e emocional de jovens, incluindo egressos do sistema prisional, Lemaestro mostra que, em uma realidade cercada de violência, a educação é a arma mais poderosa.

(Foto: Divulgação)

Conheça mais sobre o cofundador da Gerando Falcões a seguir!

Lemaestro (Foto: Divulgação)

Quem é o Lemaestro? Como você chegou até a Gerando Falcões?

Nasci no extremo leste de São Paulo. Vivi em um ambiente de imersão de drogas, violência doméstica e troca de tiros. Nessa fase da minha vida, já tinha traumas, crenças limitantes e perdas emocionais. Com 11 anos, minha fuga era andar de skate, mas fiquei oito anos dependente de cocaína. Me internei voluntariamente em uma casa de recuperação e conheci o rap.

Quando saí, o Edu Lyra já dava palestras nas escolas e comecei a acompanhá-lo, levando o rap e o skate para projetos sociais. Concordamos que precisávamos expandir essas ações e passei a viajar o Brasil inteiro implementando nossa metodologia de educação.

Em 2019, criamos a Falcon University, um programa para formação de lideranças, a fim de formar jovens com conhecimento técnico e emocional. Nossa meta até 2024 é conseguir capacitar 1 milhão de jovens de forma recorrente.

Como funcionam os projetos da Gerando Falcões?

Trabalhamos o acesso à saúde, educação na primeira infância, geração de renda, esporte, lazer e muito mais. Combater a pobreza passa por todos esses pilares da educação. Juntamos o Poder Público, o Privado e o Terceiro Setor em soluções para os territórios de favela. Com a Falcon University, atendemos jovens já a partir dos 14 anos, quebrando crenças limitantes, ajudando-os a descobrir suas vocações e fornecendo atendimento de psicólogos para trilhar o caminho com os quais eles têm habilidade. Todo mundo ganha: alunos, empresas, escolas, famílias, sociedade. Mais oportunidades é igual a menos alternativas paralelas sendo buscadas e diminuição da violência.

Como foi o desafio de trabalhar no Terceiro Setor em meio à pandemia?

Quando a pandemia estourou, tínhamos vários projetos presenciais. Nos adaptamos a realidade implantando novos programas, como o Cesta Básica Digital, utilizando cartões que funcionam como cestas básicas e levando dignidade para as famílias que mais precisam. Ainda, nossos alunos da Falcon University implementados no formato híbrido. Na pandemia, conseguimos adquirir novas expertises, crescemos em arrecadação e também
em projetos e alcance de impacto.

Qual é o papel da educação para você?

Educação é libertar as pessoas. É preciso mudar o ensino arcaico e com poucas oportunidades. Pobreza, fome, miséria e falta de afeto causam bloqueios emocionais e atrasos cognitivos. Na Gerando Falcões, educação e a forma com que a gente educa têm foco nas habilidades socioemocionais e no desenvolvimento técnico. Inovação, resiliência e criatividade são talentos e os jovens precisam usar isso para descobrir suas vocações. Não é romantizar a pobreza – precisamos analisar e trilhar uma jornada de evolução.

Um direcionamento para jovens que querem começar a transformar o mundo: por onde começar?

Não espere ter para fazer, faça para ter. Comece pelo seu talento. Gosta de futebol? Monte uma escolinha. Mas não deixe de buscar capacitação para saber como construir seu projeto social. Desbrave, abra caminhos. Tem que ter paixão, ganância pela transformação.

*Matéria originalmente publicada na edição #254 da revista TOPVIEW.

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