SELF COMPORTAMENTO

A nova educação no Brasil e no mundo

As escolas também estão se adaptando aos novos tempos. Pinçamos de que forma isso vem sendo feito por alguns colégios de Curitiba

As crianças vivenciam o mundo por meio de relacionamentos que as envolvem como um cobertor. É a qualidade e estabilidade das primeiras relações em casa e na escola que lançam as bases para o desenvolvimento intelectual, social, emocional, físico, comportamental e moral.

Depois de decidir ter filhos, a segunda mais importante decisão relacionada à criança é onde ela irá estudar. Como cada criança é um ser único, não existem fórmulas de sucesso. A escolha ainda precisa se encaixar às necessidades e ao estilo de vida da criança e de sua família. “Se os pais acreditam que o filho precisa brincar, ter mobilidade, liberdade para falar e sentar em círculo, vão se frustrar se optarem por uma escola que ofereça um método tradicional de ensino”, exemplifica a psicopedagoga e mestre em educação Ana Regina Caminha, que aborda questões como esta no blog que leva seu nome.

Atentas à era digital e às transformações na sociedade, as escolas privadas têm investido em uma nova educação, baseada em adaptações no currículo e na dinâmica escolar. O foco exclusivo no vestibular parece não fazer mais sentido. A interdisciplinaridade e o exercício da cidadania são cada vez mais valorizados para educar a infância atual.

Crianças protagonistas

Não há nada mais mágico quanto ver uma criança explorar o mundo. Há momentos em que quase podemos ouvir seus cérebros vibrar ao aprender coisas novas, investigar o meio ambiente e entender o mundo ao seu redor.

Na Opet – que oferece todos os níveis de educação até a pós-graduação – a proposta pedagógica é baseada na construção interativa do conhecimento com princípios no construtivismo. Para dar conta dessa missão, a escola inclui no currículo projetos que incentivam as crianças, já nos primeiros anos de ensino, a aprender na prática. Na Cidade-Mirim elas entram em contato com noções de cidadania, empreendedorismo, educação financeira, questões ambientais e políticas. As crianças se revezam nos cargos de direção, simulando o que vivenciarão em sua vida de cidadã. “Precisamos ensinar as crianças, mas de nada adianta formar se não as fizermos refletir em como se comportar na sociedade”, afirma Adriana Karam Koleski, superintendente educacional do Grupo Opet.

Criança conta com as mãos enquanto faz lição de matemática na Finlândia.

O modelo se assemelha em alguns aspectos com o do Amplação, onde os alunos discutem as variadas questões em assembleias desde o ensino infantil. Há dez anos, a escola passou por uma verdadeira revolução. Os docentes foram até a Finlândia em busca de referências e a escola adotou a linha sociointeracionista, inspirada na educação infantil da cidade italiana Reggio Emilia, reconhecida como a melhor do mundo nos anos 1990. “O aluno constrói o conhecimento por conta do diálogo e da interação e respeitamos a bagagem que ele traz de casa”, explica a pedagoga e mestre em gestão escolar Gisele Mantovani Pinheiro, diretora e sócia do colégio. “O professor assume o papel de mediador, enquanto o aluno já não permanece as quatro horas dentro de sala e tem contato direto com a natureza. Dizemos que o ambiente é um segundo professor”, emenda. A arquitetura da escola foi reformulada para que as crianças já não estudem vendo a nuca do colega e a sala para o ensino bilíngue do sexto ano ao Ensino Médio simula um pub inglês. “O aluno é nosso sinalizador para que a escola esteja em constante movimento”, afirma Gisele.

Na Finlândia: as crianças têm férias longas, não fazem prova nem dever, lêem muito e aprendem com a experiência. Em 2016, as escolas passaram a permitir que os alunos escolham os temas que querem estudar.

Educação personalizada

O Everest, que faz parte de uma tradicional rede internacional ligada ao movimento católico Regnum Christi, mantém protocolos como três tipos de uniforme – esportivo, diário e de gala -, e as missas na capela. Essas convenções convivem com uma metodologia de ensino ativa, um modelo pedagógico focado no desenvolvimento de competências no qual o aluno é incentivado a se tornar o protagonista de sua história. “Queremos a excelência em diversas áreas. A característica marcante é a educação personalizada. Buscamos conhecer bem cada aluno e ajudar em suas particularidades. Nosso objetivo é que além de conhecimento, eles adquiram competência para que tenham atitude em relação ao que aprendem”, explica a mestre em Educação Caroline Tortato Gaertner, supervisora pedagógica do Everest. A escola propõe aos alunos projetos multidisciplinares como o último do ensino fundamental 2 sobre biomas, no qual todo o levantamento foi feito em língua inglesa e o resultado foi mostrado em uma apresentação de rap.

Japão: os primeiros três anos de ensino são mais dedicados às boas maneiras do que à avaliação. A mensagem intrínseca é que o sentido avaliador deve ser evitado até que o caráter do indivíduo esteja formado. As crianças limpam a própria sujeira na escola, incluindo os banheiros.

No Bosque Mananciais o foco é o desenvolvimento humano e a participação dos pais é condição sine qua non. O colégio, cuja metodologia de ensino se ampara nos princípios de educação individualizada do espanhol Victor Garcia Hoz, adota um sistema de preceptoria. Com regularidade o aluno é atendido por um educador. “O objetivo é que, junto com os pais, a escola trace um ‘plano de ação’ para que a criança desenvolva as suas potencialidades físicas, intelectuais e socioafetivas se desenvolvendo, assim, de forma integral”, explica Lélia Cristina de Melo, diretora de formação humana do colégio. Ele prevê a separação dos alunos por sexo, por entender que meninos e meninas têm “tempos” diferentes, que excedem o tempo individual de aprendizado. Segundo a educadora, alunos atendidos em suas necessidades humanas e individualidades tendem a ir melhor nas outras áreas. “Quando há uma exigência demasiada na área intelectual, pode haver uma carência afetiva e social. Nossos alunos se saem muito bem nas provas e seletividades, em suas vidas pessoais e carreiras”, afirma.

Na nova educação, não deixe de considerar

China (Xangai): os professores passam apenas um terço do tempo ensinando. Os outros dois terços são dedicados ao aperfeiçoamento acadêmico. Ser professor em Xangai é uma atividade de prestígio e há incentivos para que os docentes trabalhem em escolas de baixo rendimento ou na zona rural.

“Não existem escolas perfeitas, existem escolas mais adequadas”, adverte a mestre em Educação Ana Regina Caminha. Nunca deixe de visitar a escola, converse com professores, funcionários e pais de alunos. Uma mãe (que prefere não se identificar) conta que ao visitar uma escola para sua filha ficou impressionada com a organização e optou por não matricular a menina. “Sei que para uma escola ser tão organizada daquela forma há muito trabalho envolvido ou as coisas simplesmente não são movidas do lugar”, diz. Foi uma percepção. Outra mãe na mesma situação poderia ter feito a matrícula no ato. “Digo para os pais observarem tudo: ambiente, as paredes, se as crianças estão brincando, como é o formato da sala. A pior coisa que pode acontecer é escolher uma escola que não tem a ver com a família. Os pais entram em choque com a escola e a criança percebe”, afirma Adriana Karam Koleski, superintendente educacional do Grupo Opet e coordenadora regional das Escolas Associadas à UNESCO.

Fique atento a estas tendências

1: Bilinguismo

As escolas têm ampliado a proposta de ensino de língua estrangeira. Muitas caminham para se transformar em bilíngues. Porém, num país sem tradição nessa categoria, o bilinguismo ainda é cercado de dúvidas e mitos. O primeiro diz respeito à idade a qual é indicado o início do segundo idioma. “Neurologicamente, a criança pode ser bilíngue desde que nasce. Alunos do sistema bilíngue conseguem identificar e desenvolver o segundo idioma. Quando estão com sete, oito anos já dominam a segunda língua com muita clareza – sabem exatamente quando usam um idioma e outra. Há estudos que dizem que a segunda língua ajuda crianças com dificuldade de aprendizagem porque facilita a audição seletiva”, afirma Caroline Tortato Gaertner, supervisora pedagógica do Colégio Everest.

Suécia: o sistema é neutro para gêneros e a não divisão de brinquedos de meninos e de meninas é apenas um exemplo da iniciativa, que tem como prerrogativa acolher os alunos em suas essências.

2: Superconectadas

A tecnologia já não é mais uma opção para as escolas. Em grande parte delas, tablets, lousas digitais, computadores e outros recursos já dividem espaço com livros, apostilas e cadernos. A maioria dos educadores parece concordar, no entanto, que os aparatos tecnológicos devem representar um meio, uma ferramenta de aprendizagem, e não um fim em si. Eles lembram que a tecnologia pode ser inserida desde os primeiros anos na escola, de forma dosada para cada idade e com cuidado para que não tome o espaço do lúdico.

Adriana Karam, do Grupo Opet, observa que “a tecnologia não tem mais um lugar isolado no trabalho pedagógico da escola. Está embarcada em todas as atividades”. No colégio, crianças a partir dos cinco anos, por exemplo, começam a ter noção de robótica, obtendo benefícios no aprendizado lógico-matemático, no planejamento e no trabalho em equipe. Ela frisa que a formação do professor é importante no processo de mediação entre o aluno e a tecnologia. No Colégio Amplação, a tecnologia é um importante apoio didático. O professor conta com apostila digital e as aulas são projetadas pela Apple TV, onde é possível acessar vídeos específicos para a faixa etária. Cada andar da escola conta com um carrinho com tablets, usados conforme a necessidade da disciplina. “Tomamos cuidado para não transferir tudo para a tecnologia. 20% do apoio do professor é tecnológico”, explica a diretora Gisele Mantovani Pinheiro.

“A tecnologia tem muito a contribuir. É possível entrar em museus, parques e mapas estando dentro da sala de aula. Hoje precisamos de conteúdo com prática e a tecnologia permite isso”, chancela a psicopedagoga Ana Regina Caminha.

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