SELF

Case por interesse e, depois, deixe o amor brotar

O entendimento do amor e como ele depende das expectativas criadas em pessoas imperfeitas e cheias de personalidade

Ainda crianças, descobrimos muito sobre a importância do amor em nossas relações. Em contrapartida, aprendemos sobre o quanto é feio nos aproximarmos das pessoas por interesse. Óbvio que a barganha é medíocre. No entanto, quando o interesse pelo outro é genuíno, ele conecta. Seduz. Encanta. Um bom exemplo da importância do interesse construtivo são os bebês. Muito antes de tomarem consciência da própria vida, eles são despertados pelo seu fascínio diante do mundo e da nova vida que desabrocha em cada detalhe. Aromas, cores, formas, sons, tudo é um despertar!

Primeiro, por necessidade, aprendem a chorar para ganhar comida. Depois, pela conquista da independência, aprendem a dar os primeiros passos. Contudo, por interesse autêntico em relação àqueles que os rodeiam, aprendem a despertar sorrisos. Fazem gracinhas. Intuitivamente, transformam olhares em falas e silêncios em emoções. Cativam. Motivados pela inocência da alegria, interessam-se pelo bem-estar do carinho mútuo. Você cuida de mim e eu o(a) faço sorrir! Aos poucos, o interesse abre os braços para o amor.

À medida que crescemos, infelizmente, abandonamos os nossos interesses e criamos expectativas. Pior, confundimos essas duas emoções. Assim, destituímos a beleza do encanto pelo outro pela feiura da troca exigida. Nas relações a dois, essa realidade é bastante comum. Na grande maioria dos casos, quando o casamento entra pela porta da frente, o interesse é despejado pela porta dos fundos. Ele adorava jogar tênis. Ela amava fazer aulas de sapateado. Ambos admiravam os interesses mútuos. Era tão lindo isso! Mas o interesse de ontem foi trocado pelo controle de hoje. Acreditaram que despersonalização é amor. Ela queria que ele abrisse mão do seu esporte preferido. Ele desmerecia a paixão dela pela dança. Não perceberam que, quando um casal mata os interesses individuais do outro, também asfixia o interesse primordial pela relação. Justamente aquele que os aproximou.

“À medida que crescemos, infelizmente, abandonamos os nossos interesses e criamos expectativas.”

Transformaram-se em uma microempresa, uma equipe, em qualquer coisa, menos em um enredo de felicidade e de bem-querer. Até que um dia, enquanto cuidavam do jardim da casa, brotou uma conversa ácida e cresceu uma discussão acalorada. A censura afrouxou e desnudaram-se da interpretação do casal feliz a qualquer custo. Ressentidos, cobraram um do outro a verdadeira história que os uniu.

Relembraram, tal qual o bebê, a época em que faziam gracinhas entre eles. Em que se importavam com a alegria dos sorrisos roubados. Ele relembrou o quanto gostava da época em que ela dançava no meio da sala de estar, sem motivo algum. Faceira. Descalça.

Descabelada. Linda! Ela relembrou o quanto ele queria impressioná-la sempre que ela assistia às suas partidas de tênis com os amigos. Exibido. Desajeitado. Descabelado. Lindo!

Onde foi que se perderam? Em que momento transformaram a casa em uma cela e o casamento em um cativeiro? Depois de arremessarem palavras duras e amargas de descontentamento, abriram espaço para o eco do outro. Calaram. Emudeceram a confusão emocional. Silenciaram as inquietudes. Abandonaram as preocupações com a vida mundana. Apenas por um segundo, voltaram a se olhar sem expectativas. Precisavam apenas daquela fração de vida para se redescobrir. Enxergar. Ouvir. Compreender. Sorrir. Reconectar. Interessar!

Então, ali mesmo, no quintal de casa, tomaram as estrelas que surgiam no horizonte como testemunhas e prometeram um para o outro: “Nunca mais deixarei de te enxergar com interesse, de olhar com cumplicidade para os seus sonhos. E nunca mais abandonarei a mim mesmo. Sei que você precisa de mim por inteiro.”

Naquele dia, de forma totalmente despretensiosa, casaram-se de verdade. Amaram-se. Quem disse que o amor vem acompanhado de atestado de sanidade? São pessoas que perderam o ritmo, o passo, o gol. De alguma forma, distraíram-se. Amor precisa de conexão, reconexão, reinvenção, super(ação). O amor gosta de pessoas de verdade, que, embora imperfeitas, são autênticas! O amor gosta daqueles que o assumem, que erram, acertam, choram, riem, declaram-se, comprometem-se, expõem-se. O amor gosta de ser reconhecido, de ser vivido em voz alta!

*Coluna originalmente publicada na edição #242 da revista TOPVIEW. 

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