Como estão os relacionamentos em tempos de Tinder?
Fazer o download de um aplicativo, criar uma conta, selecionar fotos e escrever uma descrição pessoal. Há 30 anos, os pais e avós não acreditariam que esses passos pudessem ajudar alguém a começar uma paquera. Hoje, com um smartphone em mãos e os apps certos, um flerte pode ser iniciado em segundos – e, quem sabe, acabar até em casamento.
O ritual foi feito pela psicóloga Adriana Rousseau Abagge, 37, e pelo corretor de seguros Maurício de Souza, 45, em 2015, quando entraram no Tinder, mais famoso aplicativo de dating no mercado. Em um dia qualquer, entre uma foto e outra no app, eles deram match. Mal sabiam que a curtida mútua os levaria até o altar, dois anos depois.
O encontro não aconteceu logo de cara. A conversa já tinha se transferido para o WhatsApp e, após um ano de silêncios e notificações, Adriana o chamou para tomar uma cerveja. “Nunca vou esquecer o sorriso que ela me deu no primeiro encontro, quando me viu. Aquilo me encantou muito”, conta Maurício.
A nova balada virtual
Os relacionamentos em tempos de app, na verdade, seguem os mesmos moldes dos tradicionais, mas com uma roupagem diferente. O que muda, de fato, é o facilitador tecnológico. “O app é apenas mais um ferramenta para um encontro, assim como acontece na balada, no trabalho, etc., e, assim como em outros lugares, é possível encontrar pessoas legais ou não”, analisa a psicanalista Juliane Kravetz.
A leveza desse início despretensioso é uma vantagem e pode acabar em namoro assim como em qualquer outra situação. “Começa de um jeito meio leve, mas se as pessoas estão emocionalmente interessadas em um vínculo, pode se encaminhar para isso”, corrobora Jocelaine Martins da Silveira, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná.
Os apps reúnem todos os tipos de pessoas para as mais variadas espécies de relações. A psicóloga e terapeuta de casais Rosana Ferrari Comazzi ainda reforça a importância dos aplicativos como ambientes de relacionamento mais amplos, não voltados apenas para jovens. “[Adultos e idosos] ficam restritos aos conhecidos de conhecidos, amigos de amigos, colegas de trabalho. Os apps representam possibilidades de novos encontros”, explica.
As chances de encontros aumentam e as de descarte também. Vai de cada um, como na vida offline. “Quando a pessoa não está disponível para aquilo, isso não acontece independentemente do meio. O contrário também”, reforça Silveira.
Os diálogos na sociedade já incluem inteligência artificial e robôs, mas um casal ultrapassar os limites da tela online para construir uma relação na vida real ainda choca muitos. “As pessoas torciam o nariz, mas é uma ferramenta, um lugar que tem gente normal como a gente. Era como antigamente, que falavam que você não encontraria alguém ‘decente’ na balada”, reforça Maurício.
Tinder 1 x 0 Timidez
Raíssa Munhoz, 23, sempre foi muito tímida e reservada. Aos 19 anos, surgiu a vontade de conhecer pessoas e ter um relacionamento. Foi quando decidiu usar o Tinder. “Conversava bastante, mas nunca tinha coragem de sair com alguém”, conta. Por isso, pouco tempo depois, decidiu excluir o app e deixar nas mãos do Universo. Ele tratou de agir rápido – naquele mesmo dia chegou uma mensagem em seu Facebook. Era Janio Júnior, 26, que a tinha encontrado no Tinder e ficado sem resposta.
“Ele foi a primeira pessoa a conseguir quebrar o gelo e fez eu me apaixonar – e o Tinder foi uma super ajuda.” O casal noivou e o casamento está marcado para fevereiro de 2020. “Tem pessoas com baixa autoestima e dificuldade para socializar e o app é porta de entrada para fazer isso de forma mais tranquila”, comenta Kravetz.
O app também ajudou Maurício a superar a timidez. “[Maurício] fala que, se estivéssemos em um bar, dificilmente a gente teria se conhecido, porque ele não viria falar comigo e com o celular é mais fácil”, recorda Adriana.
Outros apps de dating
Facebook Dating
A novidade acabou de chegar ao Brasil e a outros 13 países. Aos moldes de outros aplicativos de relacionamentos online, permite aos usuários interagir e marcar encontros com desconhecidos. A diferença é que a opção fica dentro da rede social já tão usada no país. Dentro da plataforma, é possível escolher se quer conversar com quem já faz parte da sua rede ou conhecer pessoas novas. Com isso, o algoritmo começa a funcionar e a sugerir condidatos que atendem às preferências do usuário. facebook.com
Badoo
Já conta com 422 milhões de usuários registrados. Ao contrário do Tinder, não é preciso dar match para começar uma conversa – basta escolher um pretendente e enviar uma mensagem. É possível visualizar o perfil de pessoas próximas ou buscar por nomes específicos. Para quem estiver disposto a pagar pelo serviço, há a ferramenta “Super Poderes”, que permite ver quem curtiu seu perfil ou adicionou aos favoritos, entre outras regalias. badoo.com
Happn
Você passa por alguém na rua e, minutos depois, o nome e a foto da pessoa aparecem na tela do seu celular. O aplicativo utiliza o GPS e foca naqueles que frequentam os mesmo lugares que o usuário. A ideia é buscar pessoas que já encontramos na vida real ao invés de começar conversas com desconhecidos. Neste caso, o usuário pode mandar uma mensagem e a outra receberá a notificação. happn.com
*Matéria originalmente publicada na edição 224 da revista TOPVIEW.
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