A origem de todos nós
Meus pais vieram de famílias humildes, mas passaram a infância de maneiras totalmente diferentes. Isso porque meu pai nasceu e cresceu no meio urbano, já minha mãe nasceu e cresceu em um sítio. Adoramos escutar as histórias que eles contam, e nesses relatos é visível perceber como a vida no meio rural pode ser muito mais lúdica e saudável para uma criança — mesmo que sem condições financeiras.
Minha mãe sempre relata sobre como era o seu dia-a-dia no campo. Ela, mesmo criança, tinha pequenas tarefas como sua responsabilidade, como por exemplo, recolher os ovos do galinheiro, alimentar as galinhas com milho e colocar o pasto nas cocheiras no final da tarde. Com brilho nos olhos ela sempre conta sobre o contato que tinha com os animais: o porquinho de estimação — que segundo ela é um animal mais inteligente e dócil que um cachorro —, e os bezerros que ela alimentava com uma mamadeira todos os dias.
E quando eu falo sobre como a vida no campo pode ser muito lúdica para uma criança, é pensando nas histórias que ela e os irmãos contam sobre as brincadeiras que eles mesmos inventavam: a espiga de milho que virava boneca, os gravetos que viravam badoques, o banho de rio que alegrava os dias de sol e o fogão a lenha que aquecia nos dias de frio… Isso sem contar na fartura de alimento! O suspiro era o melhor doce que poderia existir para aquelas crianças, que adoravam pegar os ovos e bater as claras em neve com açúcar — comiam até não aguentar mais! — ou então as melancias que eles colocavam para gelar na água do rio e às vezes comiam só o miolo mesmo, para não se darem o trabalho de tirar as sementes.
Quando falamos de agronegócio, pensamos e debatemos muito sobre economia, tecnologia, exportação, mas nesta crônica decidi falar sobre como a vida e a vivência no campo também são importantes para a nossa essência.
O contato com a terra, o contato com os bichos e o entendimento sobre o ciclo do alimento, nos conectam com a nossa origem de ser humano. Afinal de contas, é da terra que tiramos o alimento e é do alimento que tiramos a energia para viver. Você já parou para pensar o quanto isso é simbólico e importante? Te convido a fazer uma reflexão sobre a sua verdadeira ligação com o campo. Seja por experiências próprias ou histórias de família, o campo faz parte da origem de todos nós.
*Crônica editorial originalmente publicada na edição #248 da revista TOPVIEW.