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A atleta do semáforo

Confira a crônica editorial publicada na edição #247 da revista

Dia sim, dia não, em uma esquina perto da minha casa, eu vejo uma cena que me faz refletir muito sobre o mundo do esporte. Uma jovem, com seus 14 anos, vestida com um quimono, vende balas no semáforo. Com qual o objetivo? Conseguir pagar os custos para participar de um campeonato de judô.

O mundo do esporte, para nós, meros espectadores é muito divertido, não é mesmo? Nos noticiários, acompanhamos os principais campeonatos – normalmente os de futebol – e, nas redes sociais, seguimos as vidas glamorosas de atletas milionários e internacionais. E quando chega o ano de Copa do Mundo e Olímpiadas então? É sensacional sentir todo um país unido, torcendo por aqueles heróis – até então desconhecidos – que representam a nossa bandeira e a nossa nação, além de nos proporcionarem tanto entretenimento.

Pena que esse mundo mágico do esporte não representa, necessariamente, a vida real de um atleta. Esse universo, na grande maioria das vezes, é cruel. “Cruel” porque os grandes patrocínios ficam limitados a apenas algumas categorias. “Cruel” porque a carreira é breve. “Cruel” porque uma lesão pode levar tudo por água abaixo. “Cruel” porque, sem investimento, o atleta precisa vender balas para seguir o seu sonho.

Esporte não é somente sobre disciplina, garra, talento, persistência e perfeição. É também sobre reconhecimento. 

Sempre que me deparo com a cena da jovem judoca do sinal, em uma fração de segundos vários questionamentos passam pela minha mente. Como ajudar além de com a bala? Quantos atletas estão nessa mesma situação? Até quando ela vai persistir nessa jornada? Ela vai conseguir chegar onde tanto quer? Me entristece pensar que ela está lá, parada por horas e horas no sinal, ao invés de treinar, estudar ou simplesmente descansar. Me entristece mais ainda entender que aquela cena é a materialização de um problema que faz parte de todo um sistema que não é tão simples de ser mudado. 

A nossa contribuição, nesta edição da TOPVIEW, é mostrar em nossa matéria principal a trajetória de alguns personagens que fazem parte desse mundo, que parece ser tão próximo da gente, mas que é muito distante do mundo ideal.

* Crônica editorial originalmente publicada na edição #247 da revista TOPVIEW.

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