Infância: um convite à reflexão por Luciana Varaschin, do Muralzinho de Ideias
Quando fui convidada a escrever sobre a infância, confesso que um certo receio tomou conta de mim. Pensei: ué, que estranho! O tema é familiar! O contato com esta fase já faz parte da minha escolha profissional há pelo menos 15 anos, sem contar que vivo destes 15, 7 a maternidade.
Dentre as várias questões por mim levantadas ao pensar sobre o tema, ou melhor, sobre a direção que queria dar a este texto, o que não saía da cabeça: enquanto ser humano, o que quero deixar de registro sobre o meu pensamento a respeito desta fase tão significativa e determinante na vida das pessoas.
Como boa questionadora que sou, fruto acredito, da forma como a arte, presente desde a minha infância, me fez e faz perceber e viver o e no mundo, resolvi que de forma alguma queria levantar bandeira, impor conceitos ou trazer aqui uma coletânea de frases feitas sobre criança, infância… não combinaria comigo.
Falar sobre a infância para mim é propor um convite à reflexão sobre como hoje adultos ontem crianças a percebemos e nos relacionamos com ela. E, mais que isto, pensar e viver a infância é, sendo você adulto ou criança, um ato de amor e de respeito.
Assim, uso este espaço para instigar você a parar, olhar, perceber e pensar sobre esta etapa de vida, que mesmo cheia de estudos, conceitos e definições, diariamente nos coloca em contato com o diálogo entre o conhecido e o desconhecido, entre os erros e os acertos. A esta etapa incrível que desfila entre a liberdade de experimentação infinita e a necessidade de limites importantíssimos e que “resulta” na busca por uma criança que pode vir a se tornar um adulto mais consciente e responsável por seus atos. Quando aqui em casa sinalizo aos meninos que é hora de sair do banho, momento que tanto para entrar quanto para sair já foi um suplício, e de bate-pronto escuto comentários como: vamos sair, porque se não vamos acabar com a água da natureza, vejo a possível trajetória – criança hoje adulto amanhã, de um ser humano mais consciente e responsável pelo seu entorno, sendo construída.
Outra reflexão: ao observar meus filhos e as crianças desta época brincarem, se relacionarem, inevitavelmente traço um paralelo, sem julgamentos, com a criança que fui. A primeira impressão é que tudo era mais leve, com maiores possibilidades de experimentação de si mesmo, do outro, do desconhecido. Morava no centro da cidade e jogávamos bola com crianças de todas as idades em uma rua sem saída. Só avisávamos aos pais que estávamos lá. Sim! Os tempos são outros e com ele novas cautelas, mas também, não podemos deixar de considerar, novos ganhos. As experimentações são outras hoje, mas existem! Nós não tínhamos a tecnologia ao dispor como eles a têm. É realidade deles e há ganhos com ela. O acesso que uma criança tem hoje ao mundo e diversidade de situações em virtude da tecnologia, tem que ser reconhecido, tem seu lugar!
Para finalizar, ou melhor, não finalizar, deixo aqui mais que um convite, deixo um desejo. Não podemos querer viver como adultos, crianças de ontem, a infância de hoje. E nem propor a criança de hoje, que se viva na infância de ontem, mesmo acreditando muito na empatia. Vamos tentar olhar para essa infância de hoje como um local de novas experimentações, novos limites e novas consciências.
Luciana Varaschin é artista, arte-educadora, idealizadora do Muralzinho de Ideias, portal de arte e cultura para crianças e produtora de eventos. Além, claro, mãe do João Pedro (7), Guilherme (4) e está a espera do Matheus, previsto para 04/11/2018.