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Dia Internacional da Mulher: estes 4 nomes ‘mudam tudo’ no Brasil

Após um post no LinkedIn, o colunista Diego Godoy recebeu mais de 1,5 mil indicações de mulheres em destaque no país atualmente

Neste Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, celebra-se a importância da luta pelos direitos das mulheres, data oficializada pela ONU em 1977. Há alguns anos procuro fazer algo além de dizer “Feliz Dia” para as mulheres com quem trabalho e convivo. Muito além do clichê de dar uma rosa vermelha, nós, homens, devemos e precisamos escutar atentamente e repararmos o que as gerações anteriores às nossas fizeram (e ainda fazem).

Na última semana, pedi indicações de quatro mulheres em meu perfil no LinkedIn e, para a minha surpresa, recebi mais de 1,5 mil contatos. Procurei ler todas as histórias e várias me emocionaram pelo teor real de luta contra problemas e injustiças.

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Decidi, então, conversar com estas quatro mulheres, que toparam responder a algumas perguntas:

  • Sauanne Bispo: estatística, turismóloga e com pós-graduações em Inovação e Empreendedorismo Social, coleciona vivências por mais de 35 países, e é especialista apaixonada pela África. É líder de experiências do Partner Plex, o centro de inovação e relacionamento C-level do Google Brasil. Já integrou o time de estratégia comercial na Bolsa de Valores e foi coordenadora de Nova Economia e Desenvolvimento Territorial na Fundação Tide Setubal, além de ter atuado em outras organizações no Brasil e no exterior. Tem como propósito fazer com que sua história de sucesso, como mulher negra, mãe nordestina, deixe de ser exceção e se torne regra!
  • Liz Camargo: gerente de educação corporativa no Grupo Boticário, está no mercado há mais de 15 anos, atuando em projetos, programas e áreas de gente e gestão. Passou por empresas multinacionais e nacionais, sempre com o propósito da diversidade permear todas as suas decisões. Psicóloga, administradora com especializações em transformação digital e comportamento humano.
  • Lucia Loxca: refugiada síria no Brasil, onde chegou em 2013 com seu esposo Abed fugindo da guerra civil em seu país, recomeçou e construiu uma nova vida. Em 2017, sem falar português foi a primeira refugiada a se formar na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Arquitetura e Urbanismo. Desde 2020, trabalha no The Coffee, hoje marca reconhecida em todo o Mundo, foi a primeira arquiteta da empresa. Agora tem 2 filhos brasileiros: Júlia e Pedro.
  • Ingrid Barth: COO e cofundadora do banco Linker, é a primeira mulher a ser presidente da Associação Brasileira de Startups. Também é membro do conselho deliberativo do Open Banking do Banco Central do Brasil e já atuou na Associação Brasileira de Fintechs e no Comitê de Jovens Empreendedores na FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Confira parte de nossa conversa:

Diego Godoy: Muito obrigado por toparem falar comigo! O que é ser mulher no Brasil?

Sauanne Bispo: Sinceramente, eu não sei!

“Certa vez, fui convidada a falar em um evento voltado para mulheres em posição de liderança e, ao chegar no local, fui encaminhada ao elevador de serviço, antes mesmo de me identificar.”

As 200 convidadas haviam entrado pelo social e ficaram estarrecidas ao ouvirem meu relato, mas eu prontamente questionei: qual é o elevador que a mulher que parece comigo pega nos prédios onde vocês moram? Qual a posição dela nas empresas onde vocês são as diretoras? Então por qual razão se espantam com o que aconteceu comigo?

Eu não sei o que é ser uma mulher no Brasil porque aqui sou uma mulher negra de pele retinta e a sociedade me empurra o tempo todo para onde ela acredita ser o meu lugar, que é qualquer um, menos o de uma mulher.

Liz Camargo: Ser mulher no Brasil é um desafio, afinal não é novidade que nosso país é machista, elitizado e composto por grupos extremistas e conservadores. Isso se intensifica se você pertence a outros grupos minoritários. No meu caso, sou uma mulher trans, negra e periférica, posso afirmar que minha caminhada até aqui foi repleta de desafios adicionais em função disso.

Liz Camargo (Foto: acervo pessoal)

Lucia Loxca: Ser uma mulher no Brasil e no Mundo no geral não é uma coisa fácil. Ser mulher é entender que dentro de si existe inquietação, força e inteligência capazes de transformar o mundo, ser guerreira para vencer todas as batalhas, e estar presente em mil lugares e fazer mil papéis ao mesmo tempo para vencer, pois são lutas diárias, e graças a Deus a mulher cada vez está conseguindo mostrar para o mundo inteiro que ela é capaz.

Ingrid Barth: Ser mulher no Brasil é muito poderoso, na mesma proporção do desafio. Entendo que nasci com muitos privilégios, mesmo assim a jornada não foi e não tem sido fácil. Apesar de termos ainda muito trabalho pela frente para conseguir melhorar as oportunidades para as mulheres, sinto que estamos cada vez mais esclarecidos sobre o que precisa ser feito e cada dia mais próximos de um cenário mais equitativo. Lembrar de trazer consigo outras mulheres é algo essencial para acelerar isso.

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Diego: Qual foi a sua maior conquista profissional?

Sauanne: Sou um “pacote” que tem todas as características para não estar onde estou. Além do que se vê, sou mãe solo e, ao abrir a boca, minha baianidade aflora. Poder decidir em qual organização eu atuaria em território paulistano já é uma conquista, mas nada é mais poderoso do que ser inspiração e estar num espaço que muitas das minhas sequer idealizaram, já que é difícil sonhar com aquilo que não se vê.

Liz“Começo com uma pergunta: quantas mulheres trans você já viu em cargos de gestão de grandes empresas, ou de forma mais simples em empregos formais? Minha maior conquista certamente é ser gerente de uma grande empresa.”

Lucia: As conquistas na minha vida são muitas, mas a que marcou a minha vida foi quando me formei na faculdade de Arquitetura e Urbanismo na UFPR, como a primeira refugiada a se formar no Brasil em 2017.

Ingrid: Minha maior conquista profissional ainda está por vir. Eu me considero uma pessoa extremamente ambiciosa, que precisa enxergar sempre um passo a frente e se sentir em movimento.

Ingrid Barth (Foto: acervo pessoal)

Diego: O que você diria para as mulheres que estão começando agora na carreira que gostaria de ter ouvido quando começou?

Sauanne: Acredito que as pessoas esperam que sejamos eternamente gratas por estarmos ali, e qualquer posicionamento fora desta linha geralmente soa conflitante para quem não tem o costume de enxergar você na posição que está: dona de si mesma, da sua identidade, da sua carreira. Não abra mão de quem você é, mas saiba sabiamente jogar o jogo para que avance. Mas não precisa jogar sozinha, respeite seu tempo e reconheça pessoas verdadeiramente aliadas.

Liz: Não precisamos nos comparar com os homens, podemos se de fato houver admiração por suas entregas, trabalho e forma de liderar, não precisamos assumir comportamentos iguais aos deles para isso. Existem mulheres incríveis com quem podemos aprender muito. Nada de ferir quem se é para alcançar um determinado cargo. A diversidade é linda e extremamente importante.

Lucia: Gostaria de falar que nada é tão difícil quanto parece e não é tarde para começar uma nova etapa na sua vida, sempre os primeiros passos são difíceis de direcionar, mas assim que você começa as coisas vão fluindo e você vai conseguir realizar o seu sonho. Basta ter fé e muita dedicação na sua jornada.

Ingrid: Não se compare com outras pessoas. Você pode sim usá-las como inspiração, mas cada um tem uma jornada e se comparar à uma pessoa com um contexto de vida completamente diferente pode gerar apenas frustração. Você vai sentir medo em inúmeras situações, mas não deixe que ele lhe paralise, em grande parte das vezes as situações parecem muito mais assustadoras do que elas são. Não se culpe nem deixe as pessoas lhe julgarem por ser uma pessoa ambiciosa.

Para ler o bate-papo na íntegra, clique aqui.

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