Rota do crescimento
A pandemia de Covid-19 impactou seriamente diversos setores da economia. O meio turístico, por exemplo, sente o reflexo da queda considerável no número de viagens nacionais e internacionais. Diante desse cenário, conversei com o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto a respeito dos investimentos no turismo brasileiro e sobre os cuidados com o coronavírus. Confira:
Quais são as medidas de incentivo ao turismo que serão tomadas no novo cenário Brasileiro?
A Embratur foi recentemente transformada em Agência com a Lei 14.002/2020, sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, no dia 22 de maio, após o Congresso Nacional ter aprovado a Medida Provisória 907/2019. A tramitação no Congresso gerou uma mudança no texto que havia sido inicialmente proposto originalmente pelo Executivo: deveremos trabalhar junto ao Ministério do Turismo exclusivamente na promoção dos destinos brasileiros dentro do país por conta da pandemia causada pelo Coronavírus. Seis meses após a pandemia poderemos voltar à missão original da Embratur, que é apresentar e promover nossos destinos incríveis internacionalmente. Com isso, neste primeiro momento, as medidas de incentivo para o Turismo terão foco no incremento das viagens de curta distância, que deverão marcar a primeira fase da retomada do setor no país, principalmente com o Turismo de natureza, ao ar livre. Em parceria com gestores locais, a Embratur tem atuado para divulgar o Brasil para os próprios brasileiros, que ficarão surpresos ao conhecerem melhor o seu próprio país. Neste sentido, a Embratur está desenvolvendo uma grande campanha de estímulo ao turismo de proximidade, de forma a ativar a economia dos municípios que tiveram o turismo diretamente impactado pela covid-19. As ações da campanha terão como foco o desenvolvimento regional, utilizando diversos veículos de comunicação, tais como tv, rádio, revistas especializadas, outdoors, mídias programáticas e impulsionamentos nas redes sociais. A Embratur reconhece a sua responsabilidade diante deste cenário único que o setor do turismo enfrenta, mas também quer que a população brasileira assuma esta responsabilidade de recuperar o setor e os milhões de empregos perdidos viajando dentro dos seus próprios estados e nas cidades vizinhas.
A Embratur já se transformou em Agência Autônoma? Como está o processo? De que forma isso impactará na infraestrutura do turismo?
Sim, a Embratur deixou de ser o Instituto Brasileiro de Turismo e passou a ser a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, o que consideramos uma grande vitória do atual governo federal. Esta alteração de status da Embratur foi um desejo de governos anteriores também, mas só agora foi efetivamente realizada, inclusive com voto favorável unânime por parte dos senadores. A transformação da Embratur vai muito além de uma simples mudança de nome. Significa um reposicionamento de grande valor estratégico para a inadiável retomada da economia e, posteriormente, para o aumento do número de turistas internacionais que receberemos. Por isso, esta era uma demanda do trade do Turismo há muitas décadas. A nova Agência atuará de forma mais flexível e autônoma, podendo desenvolver parcerias para melhor divulgar e promover o Brasil junto aos mercados turísticos internacionais. Com mais flexibilidade e atendendo ao direito privado, a Embratur poderá deixar boa parte da burocracia para trás, ter mais inteligência competitiva, monitoramento, pesquisa, marketing estratégico, relacionamento com a imprensa e com representantes do trade internacional para melhor promover o Brasil. Com a chegada de novos recursos, a Agência poderá realizar investimentos continuados no mercado internacional ampliando a visibilidade do Brasil perante os mercados emissores estratégicos, algo que infelizmente não foi possível realizar anteriormente por outros governos. Colocar o Brasil como ator protagonista no mercado internacional do turismo é a grande meta da gestão do Presidente da Embratur, Gilson Machado Neto.
“A transformação da Embratur vai muito além de uma simples mudança de nome. Significa um reposicionamento de grande valor estratégico para a inadiável retomada da economia e, posteriormente, para o aumento do número de turistas internacionais que receberemos.”
A Embratur passará a receber verba do Sistema S? De que forma isso poderá beneficiar os brasileiros?
Durante a tramitação da Medida Provisória 907/2019, a Câmara dos Deputados retirou do texto o que havia sido proposto pelo governo como fonte de recursos para a nova Embratur, que teria origem no Sistema S. Ainda assim, com a autonomia que terá, a Embratur se vê liberada de amarras que antes deixavam aproximadamente 70% da sua capacidade de investimento no meio do caminho, o que comprometia a execução das atividades planejadas. A instituição também celebra agora a possibilidade de buscar recursos próprios, por meio da comercialização da “marca Brasil”. Com isso, além de desonerar os cofres públicos, a nova Embratur poderá exercer de maneira mais efetiva o papel de agência de promoção e se autofinanciar.
O que é o projeto Investe Turismo? Vale a pena investir no mercado do turismo agora?
O Investe Turismo é um excelente programa executado desde 2019 pelo Ministério do Turismo, Sebrae e Embratur. As ações, pensadas em conjunto, são realizadas com o objetivo de criar uma agenda integrada para o desenvolvimento do Turismo em cada região do país. A meta é unir o setor público e a iniciativa privada para preparar e promover a competitividade de 30 rotas turísticas estratégicas em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. Sem dúvida vale a pena investir no Turismo, principalmente no Brasil. Existe a convicção que este setor ainda terá o mesmo peso do agronegócio em nossa economia, pois há um enorme potencial inexplorado e muito a mostrar. Temos seis biomas naturais e a maior vocação do mundo para o Turismo Náutico e o ecoturismo, com mais de 8 mil quilômetros de costa, mais de 800 ilhas, águas quentes e mornas, sem furacão, maremotos ou qualquer desastre natural.
A Embratur sairá do Ministério do Turismo para o Ministério da Economia? Existe planos de junção com a APEX?
A Embratur é autônoma, mas suas atividades ainda possuem conexão com o Ministério do Turismo, que fiscaliza o que está sendo feito. Não há qualquer movimentação para que esta situação seja alterada, ou para que a Embratur e a Apex sejam unificadas.
“Com a pandemia do coronavírus, a tendência é que as buscas por destinos abertos e com maior contato com a natureza cresçam exponencialmente colocando o Brasil em posição privilegiada diante dos concorrentes (…)”
Quais os planos futuros para alavancar o Brasil como destino turísticos? E quais serão as normativas de segurança em proteção em relação à Covid-19?
A Embratur desde o ano passado modificou as bases da promoção turística do Brasil, alterando o foco para os produtos que o país mais se diferencia competitivamente, como o turismo de natureza. Com a pandemia do coronavírus, a tendência é que as buscas por destinos abertos e com maior contato com a natureza cresçam exponencialmente colocando o Brasil em posição privilegiada diante dos concorrentes, uma vez que somos o país com a maior diversidade natural do mundo. Além disso, com já mencionado, a autonomia que a agência terá para direcionar os seus investimentos irá permitir uma visibilidade continuada do Brasil nos mercados estratégicos. Apenas desta forma será possível aumentar o número de turistas internacionais no país. O investimento em Big data e inteligência mercadológica será outro eixo prioritário para a Embratur, uma vez que estas dados irão proporcionar um maior conhecimento por parte da agência da nossa demanda internacional, da movimentação dos concorrentes e das tendências que estão surgindo no setor. Isso propicia mais proatividade e maior precisão nos investimentos de marketing internacional. No que diz respeito ao turismo interno, com as restrições de viagens de longa distância, milhões de brasileiros estão agora procurando as melhores opções para as férias nas proximidades. No ano de 2019 foram mais de 100 milhões de deslocamentos dentro do Brasil e este mercado interno pujante será o principal responsável nos próximos dois anos pela geração de receitas no setor do turismo no Brasil. Para isso ocorrer, o estabelecimento de normas para a proteção e protocolos de higiene nos estabelecimentos da cadeia produtiva do turismo é imprescindível. O Ministério do Turismo lançou o selo “Turismo Responsável”, que é de suma importância para que os turistas se sintam seguros ao visitarem os mais variados destinos. Cada tipo de estabelecimento deverá atender medidas específicas indicadas pelas autoridades sanitárias para receberem este selo, que deverá ser procurado pelos clientes como uma garantia de que todos os cuidados contra a propagação do Coronavírus estão sendo tomados.
Quais serão os mercados estratégicos da Embratur nesse novo movimento?
As especificidades do momento em que a Embratur foi transformada em Agência, com fronteiras fechadas e a mudança de foco para o turismo doméstico, fazem com que os mercados estratégicos precisem ser revistos seis meses após a pandemia, quando voltaremos a fazer a divulgação internacional dos nossos destinos. Ainda assim, já temos como estratégicos para a nossa atuação internacional 14 mercados, sendo países vizinhos, que emitem a maioria dos nossos turistas estrangeiros, e países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão, que tiveram isenção de visto para viajar ao Brasil concedida em 2019. Rapidamente vimos aumento no número de turistas recebidos destes mercados por isso faremos campanhas de marketing específicas para que a isenção de visto seja plenamente conhecida.
*Coluna originalmente publicada na edição #239 da revista TOPVIEW.