FASHION

Quando a arte encontra a moda

Relação entre moda e arte, cada vez mais intensa e evidente, extrapola as passarelas e invade até os museus

O chapéu-sapato (1937) de Elsa Schiaparelli e Salvador Dalí já levantava a questão: moda pode ser arte? Não só a pergunta segue sem resposta, como parece cair para o segundo plano à medida que cresce o flerte entre as duas áreas.

A italiana Elsa Schiaparelli foi fortemente influenciada pelo movimento surrealista. O chapéu-sapato (1937) é uma criação sua junto a Salvador Dalí.
A italiana Elsa Schiaparelli foi fortemente influenciada pelo movimento surrealista. O chapéu-sapato (1937) é uma criação sua junto a Salvador Dalí.

Miuccia Prada estampou vestidos e casacos com obras de muralistas em 2014; no mesmo ano, Karl Lagerfeld criou uma galeria de arte como cenário para o desfile da Chanel; na alta costura, Viktor & Rolf tiraram “quadros” das paredes para vesti-los nas modelos; Marc Jacobs, em seus anos de Louis Vuitton, firmou parcerias com diversos artistas, de Yayoi Kusama a Richard Prince.

A dupla Viktor & Rolf vestiu na própria passarela as modelos com "quadros".
A dupla Viktor & Rolf vestiu na própria passarela as modelos com “quadros”.

Mas não somente a arte é levada para vitrines e passarelas. O movimento atual é colocar a moda dentro dos museus. No Brasil, o MASP exibe roupas criadas a partir da colaboração entre artistas – Willys de Castro, Alfredo Volpi, Nelson Leirner, etc. – e designers de moda nos anos 1960.

Em 2015, a exposição de Alexander McQueen no Victoria and Albert foi a mais visitada, superando inclusive a de David Bowie. Também em Londres, a Louis Vuitton organizou a Series 3, que mostrou o processo criativo e as influências de Nicolas Ghesquière para a coleção de inverno 2015 – explorando o máximo da tecnologia, do luxo e do desejo. A Armani, que em 2000 expôs mais de 400 objetos no Guggenheim (NY), fundou seu próprio museu em Milão.

A Louis Vuitton já havia chamado atenção com a colaboração de artistas. Agora, a própria marca se coloca como artista e produz exposições para determinadas coleções.
A Louis Vuitton já havia chamado atenção com a colaboração de artistas. Agora, a própria marca se coloca como artista e produz exposições para determinadas coleções.

Tais mostras podem ser riquíssimas, discutindo, por meio da moda, história e cultura, mostrando o processo criativo e as ideias de grandes designers. E, claro, ajudam a impulsionar as vendas.

“São investimentos que trazem um forte retorno de imagem para as marcas”, analisa o filósofo francês Gilles Lipovetsky em A Estetização do Mundo (Companhia das Letras). Para ele, vivemos num período em que “a arte se impõe como uma ferramenta de ‘comunicação acontecimental’ que permite enobrecer as marcas, criar uma imagem audaciosa, criativa, menos mercantil”.

Por outro lado, segundo Lipovetsky, a arte também é influenciada por valores da moda — efemeridade, celebridade, agilidade, mercantilidade. Artistas como Takashi Murakami, Jeff Koons e Damien Hirst estariam se transformando eles mesmos em marcas e colocando “seu talento a serviço da estilização das produções industriais”, resume o filósofo. Arte pode estar na moda?

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