FASHION

TUDO MUDOU (DE NOVO)! Bem-vindo a era da moda 4.0

A disseminação da internet e das redes sociais mudaram nossa forma de consumir. A moda, claro, não ficou de fora dessa transformação – para o bem e para o mal

Look do dia, desafios, armário-cápsula, see now, buy now, #ootd… o novo glossário da moda traz termos com os quais nem todos estão familiarizados. E não é de hoje. Basta olhar para trás: há pelo menos 10 anos nossas principais referências eram personalidades como Victoria Beckham, Beyoncé, Britneys Spears, Jennifer Lopez e a própria Gisele Bündchen. Hoje, no lugar delas, estão as irmãs do clã Kardashian/Jenner, Camila Coelho, Thássia Naves, Lala Trussardi Rudge… personagens que, antes da popularização da internet e das redes sociais, eram desconhecidas.

Redes sociais e moda
Imagens do desfile da Gucci, que se reinventou em estilo. (Foto: divulgação).

Para a especialista em fashion branding Ly Takai, que já trabalhou com marcas como AMARO Fashion, Amissima, O Boticário, Shop2gether, Alcaçuz, Pátio Batel e Lez a Lez, a principal mudança está na horizontalização da comunicação. “Éramos meros receptores de informação, enquanto as revistas eram os emissores. Com a chegada da internet e o boom dos blogs, essa relação hierárquica sofreu uma ruptura brusca.” A chamada “democratização da moda” veio na medida em que pessoas até então comuns passaram a deter também espaço de fala. 

Marina Costa e Ly Takai. (Foto: Patricia Amancio).

A vantagem, segundo Gabriela Garcez Duarte, professora de design de moda e gestão de tendências e coolhunting da PUCPR, é que marcas pequenas podem mostrar seu trabalho ao mundo e os consumidores podem incentivar esses negócios com um simples curtir ou compartilhar. Além disso, de acordo com ela, as próprias marcas são influenciadas pelas redes sociais. “A Gucci se reinventou em estilo, mas mantém seus acabamentos, alto preço… ela parece popular, mas não é”, analisa. Ao mesmo tempo, marcas de streetwear, como Off -White e Supreme, ganham status de luxo. “O público que gosta de moda quer saber das novidades, mas por novos formatos. As marcas estão sacando isso e acompanhando.”

Tanto Gabriela quanto Ly admitem que a internet favorece valores como transparência e responsabilidade. “Os próprios consumidores começam a questionar a distopia entre discurso e prática de muitas marcas. Estamos hoje falando sobre ética na produção, a urgente necessidade da quebra de padrões e até questões como feminismo”, completa a especialista em fashion branding.

Por outro lado, Gabriela considera que, apesar de plural e democrático, esse novo conceito de moda ainda ameaça a autenticidade. “Mudam-se os vetores, ou seja, quem influencia, mas continuamos querendo ser alguém que está articulando gestos e estilos para criar uma falsa realidade”, pontua. Ao nos compararmos aos influencers, podemos voltar a ser vítima da moda, “como nos anos 1980 e 1990”, avalia.

Desafie-se

Em Curitiba, a influenciadora digital e consultora de estilo Guid Meinelecki sentiu que as redes sociais trouxeram a sua libertação na moda. Tanto que ela decidiu usar as mesmas redes para libertar outras pessoas. Com o blog e o canal no YouTube intitulados Não Repete, pelos quais compartilhou a experiência de ficar 30 dias sem repetir nenhuma peça, ela criou um movimento com o qual outras pessoas pudessem se identificar: os desafios.

Redes sociais e moda
No desafio de janeiro, Guid propôs passar cinco dias sem usar preto: look de uma cor só, dois blocos de cor, três cores no look, estampa + cor e use sua cor favorita foram os temas que guiaram as produções. (Foto: divulgação).

Em seu Instagram, com mais de 30 mil seguidores, os #desafiosdaguid se tornaram uma ferramenta de autoconhecimento e já impactaram mais de 10 mil pessoas. “O primeiro passo para se sentir confiante com o armário é conhecer todas as peças dele – os desafios são para isso”, explica Guid. Ela é otimista e vê que a moda caminha cada vez mais “de dentro para fora”. “Será ditada por quem veste e não pelas grandes marcas. O estilo único de cada um é que vai fazer a real diferença, sem busca por padrões estéticos de beleza”, acredita.

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