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Comprar sem experimentar?

Indústria de cosméticos adota novas práticas para não perder clientes diante da pandemia de Covid-19

Você, que já passou por uma loja de beleza e aproveitou para testar um novo produto exposto no mostruário, já parou para pensar em como esse simples ato será modificado no cenário pós-pandemia? Com a intensificação dos hábitos de higiene e os protocolos de prevenção à saúde, a indústria da beleza, certamente, vai precisar se reinventar no mercado. Mas, e agora? Como descobrir, escolher e comprar o melhor produto para a sua pele sem poder testar antes?

De acordo com Francielle Narloch, coordenadora da Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, os mostruários dedicados à prova de produtos cosméticos e de higiene pessoal – tais como perfumes, cremes hidratantes, sombras e batons – estão temporariamente vedados como medida de precaução contra a propagação do novo coronavírus.

Frente ao novo cenário, a médica alergista Denise Barbara afirma que não se deve usar provadores de creme e maquiagens, pela tendência à contaminação. Além disso, é necessário higienizar todas as embalagens de produtos com álcool 70. Para ela, os beauty testers deveriam ser extintos. “O risco de contaminação nos provadores de maquiagens e cremes é alto, pois eles podem ser facilmente colonizados por bactérias e fungos. Atualmente, devido à possível contaminação pela Covid-19, ficou ainda mais proibitivo o uso de provadores. Essa consciência é benéfica porque diminui também o risco de transmissão de outras doenças, como as de pele”, afirma. Segundo a especialista, é muito importante que cada pessoa conheça seu tipo de pele e procure aconselhamento médico, para que a compra dos produtos seja assertiva e traga os melhores resultados.

O resultado da última análise do Panorama do Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), em 2019, mostra que o Brasil ocupa a quarta posição no TOP 10 do mercado consumidor do setor, representando 6,2% dos consumidores totais que movimentaram US$ 30 bilhões no mercado durante o ano de 2018. Além disso, o relatório aponta o país como o terceiro maior mercado global em lançamento de produtos desse setor por ano, ficando atrás apenas das grandes potências Estados Unidos e China, que ocupam a primeira e a segunda posição, respectivamente por conta da pandemia, é possível imaginar o balanço descompassado das próximas atualizações do ranking.

O impacto para as marcas de cosméticos
Responsável por aguçar grande parte dos sentidos, a experiência de compra dos produtos de beleza e self care é totalmente sensorial e visual: é preciso o toque, o cheiro e a experimentação. Para encontrar a textura ideal de uma base para o rosto, por exemplo, é importante provar e,  com sorte, contar com a ajuda de um vendedor para aconselhar e assegurar os benefícios que determinado produto traz para o seu tipo de pele. Andréa Olim, brand manager da Shiseido Brasil, afirma que o cenário para as empresas de beleza é extremamente complexo. “Toda a cadeia de produção foi afetada, desde a matéria-prima até as fábricas de Shiseido, que ficaram fechadas por algum tempo em alguns países. Felizmente, o impacto nos lançamentos deste ano e do início de 2021 para o Brasil é pequeno”, pontua. Segundo Olim, todos os funcionários da marca foram retirados das lojas e adotaram o home office antes mesmo da quarentena ser decretada no país.

A estratégia da marca diante do momento de crise foi apostar em novos formatos focados, cada vez mais, no meio digital, com conteúdos em redes sociais, lives e press day digital. “Neste mês, vamos lançar o nosso primeiro e-commerce no Brasil, o primeiro na América Latina, para comemorar os 20 anos da Shiseido no país. O e-commerce é, sem dúvidas, o meio mais seguro de consumo atualmente”, explica ela. Além disso, a marca lançou um projeto de consultoria de beleza virtual em parceria com seus revendedores. “Já estamos seguindo todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde e restringindo o uso de testers. Para skincare, por exemplo, por meio de perguntas feitas ao consumidor, nosso time de consultores consegue indicar o produto mais apropriado considerando tipo de pele, necessidade e preferência de textura”, finaliza.

O que se percebe, mais uma vez, é o digital consolidar-se como engrenagem de solução para problemas emergenciais. Diversas marcas estão  apostando no uso de filtros digitais de maquiagens – como aqueles conhecidos no Instagram – para vender seus produtos. É o caso da Sephora – varejo do luxuoso grupo LVMH –, que, antes mesmo da pandemia, já utilizava tecnologia de realidade virtual para provar maquiagens com o software Virtual Artist. No entanto, é preciso cuidado e atenção, alerta a especialista Denise Barbara: “os aplicativos e filtros do Instagram podem indicar resultados não fidedignos.”

A marca de maquiagem vegana Simple Organic Beauty aposta na venda online, segundo a sócia da franquia da loja em Curitiba, Gabriela Hoffmann. “O site da Simple, com a abertura de canais, passou a direcionar as vendas das lojas físicas para o online, fortalecendo-as. Inúmeras ações com brindes interessantes, tanto do mix de produtos quanto exclusivos, são pensadas mensalmente para manter as vendas aquecidas”, conta. Enquanto não é possível ter certeza sobre o fim da pandemia, o momento é de planejamento e resiliência. “No momento, testar não é uma opção. Acredito que vamos aprender, com tempo e estudo, novas formas de apresentar os produtos. Isso ainda é algo a ser resolvido com calma e cautela”, sugere.

*Matéria originalmente publicada na edição #239 da revista TOPVIEW.

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